http://imgs.sapo.pt/gfx/82275.gifA escassa audiência presente na passada Sexta-feira na conferência "Net: ilusões e fracassos" da Universidade
Nova de Lisboa, não fez justiça ao entusiasmo de Dominique Wolton, sociólogo
e director de pesquisa do Centro
Nacional de Investigações Cientificas (CNRS), em França, que ali
apresentou as suas teorias sobre a influência da Internet nas relações
humanas. Autor de livros polémicos sobre o papel da comunicação na nossa
sociedade e da servidão que advém da aplicação cega das tecnologias, esteve
em Portugal para reflectir acerca daqueles temas junto da comunidade
académica.
Referindo-se especificamente à Internet, Dominique Wolton caracterizou-a de uma forma muito pessoal "sabemos que é uma verdadeira revolução técnica, uma forma de comunicação
rápida e eficaz, mas falta-lhe o tal pensamento político a
organizá-la".
Este investigador considera que a Internet não é um meio de comunicação mas um
conjunto de infraestruturas técnicas, uma rede que exclui automaticamente a
ideia de alteridade (do outro). Um verdadeiro média supõe um fornecimento de
serviços e conteúdos, com uma regulamentação e um programa específicos, para
um público que os pode ou não comprar e usufruir. "A ideia de audiência está
subjacente!", afirma.
Na Internet é possível pesquisar num repositório documental que já existe e
à qual os utilizadores têm acesso quer eles queiram ou não. "A ideia
principal a reter no caso dos cidadãos frequentadoras da Net é a confusão
entre a facilidade de acesso e a competência que se tem ou não (para
pesquisar na Internet)", frisou Dominique Wolton.
Naquele espaço virtual podem ser efectuadas pesquisas artísticas,
históricas, filosóficas e culturais mas não existe verdadeiramente uma
metodologia científica.
A importância dos intermediários
A Internet significa "do it yourself", reflexo daquilo a que aquele
sociólogo define como uma espécie de demagogia informática, baseada na
liberdade ilusória, de cada cidadão poder consultar livremente a informação.
Mas esta acção individual afasta definitivamente a participação
colectiva.
Se por um lado a imprensa escrita, a rádio e a televisão têm um papel
fundamental na comunicação colectiva, a Internet privilegia, por sua vez, a
actuação individual e assenta numa lógica de interesses económicos, que
afectam a liberdade, colocando-a à mercê da economia.
A democracia surge assim como uma esperança e o reverso da medalha: supõe
sempre a existência de intermediários, reconhecendo o papel dos jornalistas,
dos professores, dos médicos, dos juízes. "Logo, quanto mais acedemos ao
volume da Internet, mais precisamos de intermediários, como por exemplo de
jornalistas ou comunicadores que organizam, filtram e estratificam as
prioridades da informação", especificou.
Mas a utilidade e a rapidez dos jornais electrónicos são também postas
em causa por aquele pensador, já que ameaçam "de certa forma, a
profundidade e rigor no tratamento notícias, o que muitas vezes se deve à
guerra comercial entre saber o que são anúncios, banners ou verdadeiras
notícias", sustentou.
Também o benefício cultural da comunicação que advém do telefone móvel, da
rádio, do ecrã de cinema, de televisão e do ecrã de computador, não é o
mesmo. Se alguns destes meios privilegiam voz, outros há como o cinema, que
favorecem o pensamento e a reflexão. "Independente do suporte e da
concorrência todos os meios resistirão", confirmou Dominique Wolton.
A utopia da comunicação
Se antigamente informação e a comunicação eram instrumentos do poder
político e consequentemente instrumentos de emancipação, agora tudo o que
tem a ver com a Internet, com a informática e com as telecomunicações passa
pelo poder económico (por questões comerciais ou de merchandising em função
do valor e do preço).
Mas para Dominique Wolton a questão da comunicação e das relações na
Internet centra-se a outro nível muito mais elevado, na ideia de Amor, mais
precisamente na interrogação: "onde estão as pessoas que me amam?"
A afirmação de que quanto maior for a capacidade técnica mais dependemos da
mediação humana, do pensamento utópico que nos remete para a criatividade e
imaginação é outra das suas teorias. "Somos animais de sensações, que embora
se apoiem nas máquinas precisam do contacto humano. A Internet só nós serve
como instrumento de liberdade", resumiu.
É ainda nas relações entre as pessoas, para além do uso das novas
tecnologias, que se deve apoiar a educação. "Se existe dinheiro para engrandecer e desenvolver a Internet, para ensinar
Internautas, deverá também haver dinheiro para formar os professores",
advertiu aquele crítico, adiantando que o futuro da educação no mundo
passará pelo uso da Internet, da rádio, da televisão, mas sobretudo pelo
investimento na profissão de professor, que deverá estar sempre presente na
educação, no sentido de reinventá-la.
E embora haja computadores por todo o
lado, nas escolas, no comércio, nos escritórios, enganaram-se aqueles que
apregoavam que a Internet e a revolução informática era remédio para tudo.
"Tantos anos depois do aparecimento da informática e o homem não mudou",
concluiu Dominique Wolton.
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