As datas celebradas a nível global costumam ser um bom pretexto para os burlões redobrarem atividades online e usarem de todos os meios para angariar novas vítimas, para esquemas de chantagem ou desvio de fundos. Não há receitas 100% infalíveis para ficar seguro online, como também não existem para andar na rua sem ser assaltado, ou abordado por alguém mal intencionado.

No entanto, há boas práticas que vale a pena adotar para minimizar riscos e uma regra de ouro que vale em qualquer altura do ano ou para qualquer contexto, e na internet não é exceção: desconfie sempre de ofertas demasiado boas (para ser verdade) ou de quem não conhece.

As redes sociais são uma das grandes portas de entrada de muitas das ameaças que pairam online. É através delas que muitos burlões lançam a isca para atrair as suas vítimas, muitas vezes em esquemas de larga escala. Uma mesma mensagem é enviada para milhares ou mesmo milhões de pessoas, para tentar a sorte. Quando alguém responde o primeiro passo para lançar o ataque foi bem-sucedido.

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A técnica é usada com diferentes motes, entre eles, o alegado interesse romântico na potencial vítima. Nestes casos, muitas vezes o suposto interessado é alguém bonito e atraente (nas fotos que publica, pelo menos), solteiro/a e bem-sucedido/a. Quando atrai a atenção do/a interlocutor/a tenta ganhar a sua confiança durante algum tempo, para mais tarde pedir dinheiro para um imprevisto ou convencer a vítima a fazer investimentos supostamente muito rentáveis.

Verificar a identidade de um suposto pretendente

As plataformas online têm disponíveis várias ferramentas pensadas para evitar o acesso de interlocutores maliciosos às contas de potenciais vítimas, mas o primeiro passo deve ser seu.

Quando recebe uma mensagem ou um pedido de amizade de alguém que não conhece, tente verificar se o perfil está associado a uma conta com elementos credíveis. Como? Verificando desde quando a conta existe, quem está ligado a ela e se as fotos publicadas são autênticas. Pesquisar pelo nome e imagens do suposto pretendente desconhecido num motor de busca pode ser uma boa forma de detetar incoerências. Se encontrar as mesmas imagens associada a outro nome não é um bom sinal. Se não encontrar nenhuma outra referência online àquela identidade (tendo dados suficientes para fazer essa pesquisa) também é de desconfiar. Afinal, pela forma como conheceu a pessoa, já percebeu que não é alguém que se mantém longe da internet.

Nas definições das aplicações, mantenha restrições no acesso ao seu perfil por desconhecidos e limite quem lhe pode enviar mensagens diretas.

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Desconfie sempre de pedidos de envio de dinheiro ou de algum tipo de informação sensível, mesmo que aparentemente haja um familiar ou amigo envolvido e a precisar desses fundos.

Antes de tomar qualquer decisão, agarre no telefone e contacte a pessoa ou alguém próximo, para confirmar se um pedido que recebe por mensagem numa rede social é de facto legítimo. Lembre-se do esquema Olá Pai, Olá Mãe e tenha em conta que existem diferentes variantes do mesmo guião.

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Nunca partilhe conteúdos íntimos online com estranhos e pense duas vezes antes de o fazer mesmo com alguém com quem mantém uma relação. Muitos casos de violência online denunciados em Portugal são de mulheres que foram chantageadas por ex-companheiros, com conteúdos deste tipo partilhados durante o relacionamento. Outros, de pessoas que prtilharam o mesmo tipo de conteúdos com alguém que não conheciam, mas com quem se envolveram online.

Use as proteções disponíveis nas redes sociais

Voltando às plataformas online, todas têm sistemas automáticos de deteção de contas maliciosas que na verdade nunca serão um filtro impenetrável, porque uma conta usada para esquemas pode não ter sido criada para esse fim e pode ter atividade normal durante algum tempo.

A complementar estes sistemas de bloqueio a Meta, por exemplo, explica que tem vindo a implementar diferentes mecanismos de alerta que são recebidos tanto por potenciais vítimas, como pelos responsáveis de perfis com atividades duvidosas. Estes avisos têm o aspeto que pode ver abaixo, no Messenger e no Instagram. No WhatsApp, o utilizador tem a possibilidade de bloquear chamadas de números que não conhece e pode fazer o mesmo com mensagens e com os próprios contactos.

Os esquemas românticos online não são uma ameaça remota e longínqua. São uma ameaça que todos os anos faz milhares de vítimas em todo o mundo e milhões de euros em prejuízos, ou danos graves de imagem e reputação para muitas vítimas.

O único elemento longínquo desta equação é muitas vezes o ponto de origem do pretenso contacto romântico. Diferentes investigações têm concluído que há vários grupos organizados a explorar esta oportunidade a partir de países africanos distantes, como a Nigéria ou o Gana, dois dos países mais representados nas 408 mil contas que a Meta bloqueou em 2024 por confirmar que estavam associadas a perfis falsos, criados para fazer burlas românticas. Os principais destinatários são pessoas disponíveis para o amor, na Europa, Estados Unidos, Reino Unido, Austrália, entre outros países.

Se pensa que por se relacionar em português está a salvo destes esquemas, pense duas vezes. As denúncias que chegam às autoridades portuguesas confirmam que por cá também há vítimas de esquemas idênticos, que começam uma conversa para conhecer um possível amor e acabam a “emprestar” dinheiro que não vão recuperar, ou vítimas de chantagem por causa das imagens que aceitaram partilhar online.