Não são histórias de amor, embora possam ter começado dessa forma, pelo menos para uma das partes envolvidas. As burlas românticas estão a tornar-se mais frequentes e a Linha Internet Segura, gerida pela APAV, tem acompanhado vários casos de mulheres que começam por manter um relacionamento através das redes sociais e que acabam por ser vítimas de burlas elaboradas, com pedidos sucessivos de dinheiro, primeiro como empréstimos e depois como chantagem.
Ricardo Estrela, coordenador da Linha Internet Segura, explica que as vítimas são geralmente mulheres, com idades acima dos 35 ou 40 anos, que vão desenvolvendo relacionamentos de namoro à distância que homens que conhecem nas redes sociais. “Em geral o burlão é uma pessoa que vive no estrangeiro, ou viaja muito em negócios, e tem dificuldade em movimentar dinheiro”, explica.
Muitas vezes as vitimas passam algum tempo sem perceber que estão a ser burladas, emprestando dinheiro, mas à medida que a situação se arrasta sentem-se reféns da situação, até porque os criminosos começam a exercer chantagem, ameaçando divulgar a situação e imagens íntimas.
“[As mulheres] sentem que estão a fazer algo errado, têm um sentimento de culpa que não ajudam e envergonham-se da situação”, adianta Ricardo Estrela, que explica ao SAPO TEK que esta é uma das situações mais preocupantes denunciadas à Linha Internet Segura e que por isso está a ser preparada uma campanha de divulgação que deverá ser lançada na próxima semana.
Em muitos casos as mulheres endividaram-se já em quantias elevadas, porque a situação se arrasta durante muito tempo sem que peçam ajuda. A APAV apoia estas vítimas com algumas estratégias, e até a renegociação da dívida, mas também no processo de apresentação de queixa crime e bloqueio do acesso às imagens, através da denúncia de perfis e criação de “impressões digitais” para fotos e vídeos que dificulta o seu upload nas redes.
“São processos que têm de ser geridos com muita cautela”, admite Ricardo Estrela, que lembra que o apoio na Linha Internet Segura garante a confidencialidade e a ajuda da equipa que é especializada em situações de cibercrime.
Em regra geral este tipo de burlas é promovida por redes de crime organizado, e pelos dados apurados são pessoas a atuar em países africanos, sendo comum ter contactos da Nigéria.
“Pela análise dos perfis verificamos que as fotos não correspondem à identidade, são por vezes de modelos, e que têm sobretudo como seguidores mulheres nesta faixa etária”, detalha o coordenador da Linha Internet segura.
Depois de iniciarem os relacionamentos online têm acesso a toda a rede de contactos, de amigos, família e colegas de trabalho, e ai começam a ter na mão os instrumentos de coação, ameaçando divulgar mensagens e imagens. “É importante que estas situações sejam denunciadas para não haver outras vítimas”, avisa.
Como não cair neste tipo de burlas
Ricardo Estrela lembra que os mesmos conselhos que se aplicam a cuidados de cibersegurança online também podem e devem ser usados nesta situação. “Se começar a estranhar e tem dúvidas sobre a legitimidade de um email ou contacto deve pedir ajuda e contactar a linha ou um especialista com experiência”, sublinha.
Nestas situações de burlas românticas importa ter muito cuidado que o tipo de informações que partilha online. “A maior parte das vítimas têm perfis públicos e tendência para aceitar contactos e ligações de pessoas que não conhecem. Isso é uma grande porta de entrada porque [os burlões] ficam a saber tudo sobre a sua atividade, os familiares, colegas de trabalho e se a pessoa foi vítima de crime facilmente é ameaçada com a partilha de conteúdos”, alerta.
“Nestas situações a tendência para a vítima pagar é muito maior. A ameaça é real”, explica Ricardo Estrela.
O coordenador da Linha Internet Segura defende que temos muita informação disponível online e que quanto mais divulgamos mais possibilidade há de ser vítima de chantagem.
“Para quem tem redes sociais, o conselho é de reverem definições de privacidade e sobretudo ter ativo mais do que um método de autenticação nas contas”, avisa Ricardo Estrela.
Já quanto aos menores, crianças e jovens, o coordenador da Linha Internet Segura alerta que compete aos pais estarem mais atentos às atividades dos filhos na Internet e perceberem as proteções que as plataformas têm disponível.
E garantirem que têm idade legal para terem contas em determinadas redes. “Se a plataforma não dá garantia de privacidade e proteção de contactos de estranhos, se calhar não deviam estar nessas plataformas até terem 14 ou 15 anos”, avisa.
“Revejam a exposição, as definições e os níveis de proteção. Se não permitirem limitar os contactos apenas a amigos essas redes não são apropriadas a crianças”, alerta ainda o coordenador da Linha Internet Segura.
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