O desenvolvimento da inteligência artificial é um dos maiores contributos para o crescimento da necessidade de poder de computação e por consequência, de centros de dados. Segundo um estudo da Moody's, a capacidade dos centros de dados deverá duplicar nos próximos cinco anos.
Uma das regiões mais afetadas por este crescimento é Ashburn, no norte da Virgínia, a cerca de 57 km de Washington DC, nos Estados Unidos. A maioria dos 477 centros de dados daquele estado norte-americano ficam na cidade ou nas imediações de Ashburn. Em segundo lugar está o Texas com 290 e a Califórnia em terceiro com 283.
Os ambientalistas estão preocupados com a situação. A região tem sido escolhida, desde a década de 1990, para a instalação de numerosos centros de dados, em parte devido aos baixos preços da eletricidade e dos terrenos. Estudos há que referem que mais de 70% do tráfico mundial de internet passa por Ashburn e arredores, que já recebeu o apelido de “Data Centre Alley”.
Uma reportagem da BBC cita Julie Bolthouse diretora do Piedmont Environmental Council da Virgínia, que, tal como outros ambientalistas locais, se opõem à expansão contínua do setor dos centros de dados na região, apontando para o impacto negativo na qualidade de vida dos habitantes. A ambientalista refere que a construção de novos cabos elétricos sobre áreas protegidas, parques e bairros, o aumento da procura de água e os geradores a gasóleo de emergência das instalações afetam a qualidade do ar.
Mas não é só nos EUA que os ambientalistas estão em campanha contra centros de dados. É o caso da República da Irlanda, onde este tipo de infraestrutura é responsável pelo consumo de um quinto da eletricidade do país. As objeções dos ativistas na Irlanda prendem-se com “os potenciais impactos negativos no clima, na sustentabilidade e nas infraestruturas locais”, afirmou Tony Lowes, dos Friends of the Irish Environment à BBC. “Quando os centros de dados dependem de combustíveis fósseis, sobrecarregam potencialmente a rede elétrica e podem pôr em causa os compromissos nacionais em matéria de energias renováveis”, explicou.
Também na América do Sul, há protestos contra centros de dados, como no Uruguai, onde a Google alterou os planos das novas instalações ainda em construção. Inicialmente o plano era ser arrefecido a água, mas a gigante norte-americana mudou para um sistema arrefecido a ar. Saliente-se que presentemente o país sofre com a escassez de água potável. No Chile, a Google suspendeu os seus planos para um centro de dados devido a preocupações semelhantes com a utilização da água.
O grupo continua a contestar os planos para um novo centro de dados de 1,2 mil milhões de euros em County Clare, na costa oeste da Irlanda. Os Friends of the Irish Environment gostariam que a proliferação de centros de dados fosse interrompida, mas também apontam medidas de mitigação do risco, incluído a utilização de energias renováveis e implementação de medidas de eficiência energética e de arrefecimento.
Entretanto, as grandes operadoras de centros de dados vão ao encontro das preocupações dos ambientalistas. Este verão, por exemplo, Microsoft lançou o seu Compromisso da Comunidade de Centros de Dados, no qual se compromete a adquirir 100% de energia renovável até 2025 e “atingir zero resíduos mediante uma combinação de redução de resíduos, reutilização, reciclagem e compostagem” e tornar-se-á “positiva em termos de água”, até 2030. Entretanto, a Amazon Web Services (AWS) já utiliza água reciclada para arrefecimento em 20 dos seus 125 centros de dados em todo o mundo e afirma que também irá devolver ao ambiente mais água do que consome até 2030.
Josh Levi, presidente da Data Center Coalition, que representa dezenas de operadoras de centros de dados, incluindo a Amazon Web Services (AWS), a Google, a Microsoft e a Meta, adiantou à mesma fonte que os centros de dados lideram na utilização de energia limpa. “Por exemplo, a capacidade eólica e solar contratada a fornecedores e clientes de centros de dados representou dois terços do total do mercado de energias renováveis das empresas dos EUA no ano passado e quatro dos cinco principais compradores de energias renováveis nos EUA são empresas que operam centros de dados”, referiu.
Julie Bolthouse acrescentou ainda que as empresas precisam de fazer mais para aumentar a sustentabilidade. Se tudo continuar como está, a longo prazo, “os preços da eletricidade vão disparar para todas as pessoas, incluindo para a indústria dos centros de dados, pelo que terá impacto sobre eles”, esclareceu. “A questão da escassez de água também os vai afetar.
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