A indústria da tecnologia está a fazer o suficiente para proteger a privacidade dos consumidores? Num painel que juntou as Chief Privacy Officer de três grandes empresas na CES 2020 e uma comissária da FTC, a opinião partilhada é que não, mas com visões diferentes sobre os direitos e obrigações de cada um, o estado da arte da segurança e proteção de dados, a privacidade diferencial e a responsabilidade de cada organização.
O painel juntou a vice presidente e Chief Privacy Officer do Facebook, Erin Egan; a diretora senior de privacidade global da Apple, Jane Horvath; a Global Privacy Officer da Procter & Gamble, Susan Shook; e a comissária da Federal Trade Commission, Rebecca Slaughter, para um debate onde a Google foi uma ausência notada, e onde se sentiu desconforto com algumas questões numa altura em que o Facebook e a Apple estão debaixo de fogo dos reguladores devido a violação de dados e acusações de falhas na proteção da privacidade.
Rebecca Slaughter, comissária da FTC, começou por fazer o reparo de que as suas opiniões só a vinculam pessoalmente e não à organização que representa, mas foi muito crítica em relação ao estado da proteção da privacidade, dizendo claramente que a indústria não está a fazer o suficiente para proteger os consumidores. E que o que tem de ser feito tem de olhar para os impactos no presente mas também no futuro.
Do lado das empresas dominou a defesa de modelos implementados de privacy by design e de transparência para o utilizador, numa ideia de que o controlo do consumidor e da escolha estão sempre disponíveis. Jane Horvath, da Apple, detalhou a forma como a empresa envolve a equipa de privacidade desde o início no desenvolvimento de todos os produtos e serviços, mas admitiu que é preciso fazer melhor, estar sempre a evoluir, porque s coisas estão sempre a mudar.
Erin Egan, do Facebook, concorda com o cenário, mas diz que é preciso saber comunicar com as pessoas para saber como são recolhidos e usados os dados, o que a rede social está a fazer com as novas ferramentas de verificação da privacidade.
Mas isso não é suficiente e a comissária da FTC alertou para o facto de se estar a por um enorme peso nas costas dos consumidores de fazerem essa verificação, porque há muita informação a avaliar e isso é impossível para muita gente. “Nem eu consigo saber tudo o eu está a ser feito com os meus dados, e sou uma pessoa informada”, explicou.
O conceito de privacidade diferencial foi defendido pela responsável da Apple como uma solução de anonimização. “Injetamos ruído nos dados para continuar a dar informação conveniente sem violar a privacidade”, afirmou.
“Não há nada de errado no nosso modelo de negócio”, reagiu de forma defensiva a responsável pelo Facebook, afirmando que as pessoas usam a rede porque querem partilhar as fotos das férias e as suas ideias e emoções, e que o Facebook trabalha de forma transparente. “A ideia de manipulação não está no nosso modelo de negócio”.
A solução não será fácil e deve envolver toda a indústria, de forma a conseguir-se um melhor equilíbrio entre os dados que são usados e a forma como isso acontece.
Susan Shook admite que “há coisas tóxicas a acontecer com os dados” e que seria uma ajuda haver mais transparência para o utilizador sem ter de ler 300 políticas de privacidade. “Admito que agora é difícil e sou profissional nesta área”.
A legislação que está a ser preparada nos EUA, e que poderá ser aplicada a nível federal, sobrepondo-se às leis de cada Estado norte americano, é acolhida pelas três empresas, com a Apple a usar o exemplo do RGPD na Europa como um modelo a seguir, defendendo uma lei forte, aplicável a todos os 50 estados e protegendo todos os consumidores da mesma forma.
O SAPO TEK está a na CES 2020 em Las Vegas para descobrir as principais tendências e os gadgets mais interessantes, mas também os mais estranhos e pode acompanhar aqui todas as notícias que vamos trazendo em direto de Las Vegas.
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