Hoje, 21 de maio, assinala-se o Dia Mundial da Consciencialização para a Acessibilidade. Numa altura em que a pandemia de COVID-19 forçou muitos a mudar os seus hábitos para o mundo digital, torna-se ainda mais importante garantir que as pessoas com e sem deficiências, assim como as que não têm tantas competências de literacia digital, conseguem aceder facilmente às plataformas online.
As regras de acessibilidade do World Wide Web Consortium (W3C) foram introduzidas na Comunidade Europeia há 20 anos e Portugal foi o primeiro Estado-membro a aderir às respetivas diretrizes, mas mesmo assim continua a ter muitas falhas. Em 2019, dos 124 endereços oficiais da Administração Pública, apenas três cumpriam as regras de acessibilidade de pessoas com deficiência. Embora o Governo de António Costa tenha tomado medidas nesse ano para tornar as aplicações móveis e websites da Administração Pública mais inclusivos, o cenário ainda está longe do ideal.
Ao SAPO TEK, Ana Sezudo, Presidente da Direcção Nacional da Associação Portuguesa de Deficientes, indicou que têm surgido algumas melhorias nos websites instituicionais devido à pressão feita pela APD. No entanto, as dificuldades no acesso “continuam a ser muitas”, em especial para pessoas com deficiências visuais e cognitivas, pois a linguagem utilizada nem sempre é a mais adequada.
“O acesso à informação é essencial para qualquer cidadão”, explicou a responsável, acrescentando que, em muitos casos, o acesso aos websites se torna mais difícil, porque o seu design acaba por privilegiar a questão do aspeto estético e não as necessidades dos utilizadores.
A pandemia de COVID-19 veio agravar algumas situações em que as plataformas digitais são a única forma de aceder a informação ou serviços. Por exemplo, o SAPO TEK verificou que, de acordo com o AccessMonitor, uma ferramenta disponibilizada pela Agência para a Modernização Administrativa, o website da Direção Geral da Saúde conta com uma pontuação de 4,6 em 10. Já o Estamos ON, o site do Governo com informação acerca das medidas tomadas para conter a COVID-19, tem uma classificação de 6,4.
Em linha com Ana Sezudo, Micael Lopes, formador de informática da Associação dos Cegos e Amblíopes de Portugal, contou ao SAPO TEK que há alguma falta de cuidado na forma como a informação é apresentada. O formador é invisual e recordou, por exemplo, um caso onde as instruções online de colocação da máscara não eram adequadas a pessoas cegas.
“«Coloque a máscara com a parte branca virada para a cara»: uma pessoa cega não consegue perceber isso. Podiam ter tentado, dentro da medida do possível, dar indicações sobre o lado onde a costura ou os elásticos estão, mas não houve essa preocupação”, afirma Micael Lopes
Fora da acessibilidade web, Ana Sezudo indicou que, a linha telefónica do SNS24 “levou algum tempo” até ser adaptada para que a população surda pudesse ter acesso a informação. Além disso, o processo de adaptação nas televisões também registou algumas dificuldades e a responsável elucida que a falta de legendagem é um problema, pois muitos surdos não sabem língua gestual.
Apesar dos problemas dentro e fora do mundo online, existem empresas nacionais que reúnem esforços para criar software que permita uma maior acessibilidade à web. A OutSystems, por exemplo, lançou recentemente mais de 70 aceleradores de desenvolvimento que garantem que aplicações web e móveis criadas na plataforma low-code da empresa estão em conformidade com os padrões e regulamentos de acessibilidade.
Os aceleradores permitem aos developers criar mais rapidamente aplicações adaptadas para pessoas com deficiência visual, auditiva, ou outras limitações temporárias ou permanentes. “Criar aplicações com grande acessibilidade é uma responsabilidade legal, mas, mais importante, é uma responsabilidade moral dos developers garantir que todos possam perceber, navegar e interagir com o seu site ou app móvel para obter os serviços e produtos de que precisam”, afirmou Gonçalo Gaiolas, vice-presidente de produto da OutSystems em comunicado.
Acessibilidade web: um cenário longe do ideal
O mais recente relatório da Web Accessibility In Mind (WebAIM) revela que o mundo online ainda não é assim tão acessível quanto se pensa. A organização sem fins lucrativos da Utah State University analisou um milhão de páginas web e descobriu que 98,1% das home pages apresenta pelo menos uma falha no que toca ao cumprimento das diretrizes do W3C. Em média, foram registados quase 70 erros por página.
A WebAIM explica que a maioria das falhas nos websites se relaciona com a falta de contraste no texto e de conteúdos que se adaptam às necessidades dos utilizadores, assim como com a presença de hiperligações “vazias”.
No contexto de pandemia, a Internet tornou-se essencial para aceder a informação importante sobre saúde ou a serviços públicos, além de ser uma ferramenta fundamental para o teletrabalho. No entanto, a falta de literacia digital continua a preocupar. Um recém-publicado relatório da Cisco revela que embora 90% dos postos de trabalho exijam competências digitais básicas, 23% dos adultos em todo o mundo ainda não sabe ler nem escrever em formato digital.
Superar o fosso digital é um desafio, e a inclusão é um dos cinco objetivos que a ONU pretende atingir no espaço de 10 anos, tendo em vista um futuro onde todas as pessoas têm acesso às mesmas ferramentas da sociedade da informação em condições de igualdade. Recorde-se que, ao todo, ainda existem 3,6 mil milhões de pessoas “desligadas”, sem qualquer tipo de acesso a educação online, emprego ou informação crítica sobre saúde.
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