O Facebook, que tem sido fortemente criticado pela passividade em relação à desinformação na plataforma, anuncia agora que identificou e removeu uma rede de contas operadas a partir da Rússia que publicava conteúdos anti-vacinação, também divulgados e amplificados por influenciadores digitais que se suspeita tenham sido pagos para esse fim.
A investigação da rede social acabou por identificar duas grandes campanhas anti-vacinas com impacto em vários países. A rede social era usada para identificar audiências para a campanha de desinformação, que estava dirigida sobretudo à Índia, América Latina e em menor escala aos Estados Unidos e voltava a ter um papel determinante na divulgação dos conteúdos.
Ambas as campanhas coincidiram com momentos em que Governos destes países se viram obrigados a avançar com autorizações de emergência para vacinas que ainda não estavam a usar, primeiro da Astrazeneca e depois da Pfizer e lançavam dúvidas sobre a segurança das duas vacinas.
Os artigos que acabavam por ser divulgados na rede social eram originalmente publicados noutras plataformas, como o Reddit, Medium ou Change.org e divulgadas em contas falsas no Facebook e Instagram para ganharem impacto.
A investigação do Facebook aponta também para o envolvimento no esquema de influenciadores digitais, pagos para divulgarem esses conteúdos, uma suspeita que já tinha sido levantada no início do ano, depois de duas denúncias.
Na primeira campanha a rede divulgou memes e comentários a levantar suspeitas sobre os efeitos da vacina da AstraZeneca, devido ao recurso a adenovirus de chimpanzés e ao possível impacto negativo em humanos. Decorreu em novembro e dezembro do ano passado.
As suspeitas do envolvimento de influenciadores digitais no esquema, personalidades que podem somar muitos milhões de seguidores atentos às suas publicações, baseiam-se no facto de vários terem partilhado os hashtags da campanha e o mesmo tipo de conteúdo, identificou o Facebook.
A segunda campanha começou em maio e questionava a segurança da vacina da Pfizer com base num alegado documento secreto, roubado por hackers à Astrazeneca. Estes conteúdos voltaram a fazer eco nos perfis de influenciadores, na mesma altura em que dois denunciaram ter sido aliciados para uma campanha global anti-vacinas.
Um influenciador francês e outro alemão revelaram que tinham sido contactados por uma empresa de marketing, com uma proposta comercial a troco da divulgação de conteúdos anti-vacinas, informação que acabou por levar vários meios a aprofundar o caso, como o Facebook, e até a divulgar excertos das mensagens trocadas.
A investigação do Facebook acabou por conduzir à eliminação de 65 contas naquela rede social e outras 243 no Instagram, que eram seguidas por outras 24 mil contas. Como reconhece a rede social, o impacto acabou por ser reduzido, mas revela um esquema bem articulado e a envolver vários meios.
A origem do esquema é apontada a uma empresa de social media, a Fazze, que opera a partir da Rússia e que é a mesma que terá contactado os influenciadores que fizeram a denúncia. A Fazze é uma subsidiária da empresa de marketing digital britânica AdNow. O cliente que encomendou a campanha permanece incógnito.
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