A rede social revelou que, provavelmente, a grande maioria dos seus utilizadores teve os dados pessoais “vasculhados” por terceiros. Na origem desta invasão de privacidade estaria um recurso padrão que permitia que as pessoas procurassem os amigos através do número de telefone.
Apesar da configuração já ter sido removida, o responsável do departamento de tecnologia da rede social, Mike Schroepfer, revelou que o recurso tem sido usado (e abusado) há anos por empresas que querem ter acesso a dados de perfis públicos.
"Dada a escala e a sofisticação da atividade que vimos, acreditamos que a maioria das pessoas no Facebook poderia ter o seu perfil público copiado desta maneira", explica-se no site institucional da empresa.
Mike Schroepfer também admitiu que a consultora Cambridge Analytica utilizou dados de 87 milhões de utilizadores da rede social para influenciar campanhas políticas em todo o mundo, um número que representa mais de metade do número de eleitores registados nos EUA e é superior aos 50 milhões divulgados anteriormente.
“No total, acreditamos que a informação de Facebook de mais de 87 milhões de pessoas (a maioria nos EUA) foi indevidamente partilhada com a Cambridge Analytica”.
Também Mark Zuckerberg admitiu que, apesar da rede social estar a atualizar os seus termos de utilização, de modo a simplificar e facilitar a sua leitura por parte dos utilizadores, assim como a sua política de dados para que os utilizadores percebam mais facilmente que dados são recolhidos e utilizados, “esta é uma batalha sem fim: nunca será possível resolver totalmente as questões de segurança”.
À margem de uma conferência com vários órgãos de comunicação social e na sequência do escândalo da Cambridge Analytica de questões como notícias falsas, propaganda política e discurso de ódio na rede social, o CEO do Facebook desabafou que “gostava de estalar os dedos e em três meses, ou seis, ter resolvido todas estas questões”.
“Mas tendo em conta a complexidade do Facebook e das interações entre as pessoas, este será um esforço de vários anos”, acrescentando que “apenas podemos admitir os nossos erros e melhorar. Vive-se a errar e a continuar em frente”, frisa Zuckerberg.
O CEO da rede social também fez questão de reforçar que o Facebook não vende os dados dos utilizadores a terceiros e que grande parte dos dados que estão a ser usados indevidamente são provenientes de informação partilhada publicamente pelos próprios utilizadores.
Nesse sentido e para restringir a informação a que as aplicações de terceiros podem aceder, a rede social já começou a criar novas opções para que as suas ferramentas de privacidade sejam mais fáceis de encontrar e para que os utilizadores controlem melhor os seus dados pessoais. Também durante os próximos sete dias e para tornar tudo ainda mais claro, os utilizadores vão poder dar a sua opinião sobre os termos de utilização e sobre a política de dados do Facebook.
O escândalo com a Cambridge Analytica ficou conhecido no passado dia 17 de março, quando o The Observer e o The New York Times revelaram que a empresa britânica de consultoria política usou os dados de utilizadores do Facebook para criar um programa informático de propaganda destinado a influenciar os resultados de referendos e eleições, nomeadamente a de Donald Trump para as presidenciais dos Estados Unidos.
No seguimento da polémica, além de investigações e processos legais, a rede social está também a sofrer com a desvalorização em bolsa e com o desinvestimento de algumas empresas, que decidiram retirar os seus anúncios da plataforma.
A isto junta-se ainda a hashtag #DeleteFacebook que foi tendência no Twitter durante vários dias e levou até à eliminação de páginas como a da Tesla e a da SpaceX. Para Mark Zuckerberg, a campanha “não teve qualquer impacto significativo”, mas acrescentou que “a situação não é boa”, noticia a Reuters.
Também na sequência do escândalo que envolve a obtenção de dados pela consultora Cambridge Analytica, o Parlamento britânico quer saber se a informação de milhões de utilizadores daquela rede social foram usados para manipular campanhas políticas em todo o mundo, incluindo no Brexit.
Mas, depois de ter pedido desculpas publicamente e de ter admitido falhas no caso da Cambridge Analytica, o co-fundador e presidente executivo do Facebook, Mark Zuckerberg, disse que nao vai ser ele a responder pessoalmente às questões dos políticos britânicos. No entanto, o CEO da empresa vai ser ouvido no Congresso norte-americano no próximo dia 11 de abril, às 10 horas locais (15 horas em Portugal continental).
Quanto à sua continuidade à frente da rede social, Zuckerberg foi peremptório: “Eu ainda não fui despedido. E em última instância a responsabilidade é minha. Fui eu que comecei este lugar, sou eu que o lidero, sou eu o responsável. E vou continuar a ser no futuro. Não quero ser eu a atirá-lo para debaixo do autocarro”.
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