Desenvolvido pela RCS Labs, uma empresa sediada na Itália, o Hermit é um spyware que foi utilizado para espiar cidadãos em múltiplos países através de telemóveis, incluindo em Portugal.  

Como avança o Jornal de Notícias, os dados, que fazem parte de uma investigação de 2022, foram incluídos no relatório final da comissão de inquérito que, ao longo do último ano, esteve a investigar os escândalos com o Pegasus, da israelita NSO Group, e outros tipos de "software espião" na União Europeia (UE) .

As conclusões deste relatório final estão na base da resolução adotada hoje pelo Parlamento Europeu, que apela à realização de investigações mais aprofundadas e à tomada de medidas "apertadas" para evitar abusos com spyware.

A investigação da organização jornalística Lighthouse Reports, publicada em agosto do ano passado, detalha que, na Europa, além de Portugal, Itália e Grécia também fazem parte da lista de países visados. Fora da Europa, cidadãos em países como Líbia, Nicarágua, Malásia, Costa Rica, Iraque e Mali também foram afetados pelo spyware Hermit.

Parlamento Europeu apela a investigações aprofundadas e medidas para evitar abusos com spyware
Parlamento Europeu apela a investigações aprofundadas e medidas para evitar abusos com spyware
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Embora não indique como ou quem é que estava a utilizar o Hermit para espiar cidadãos neste conjunto de países, a investigação realça que o “software espião” podia ser utilizado para ativar o microfone dos telemóveis das vítimas, permitindo aceder também a chamadas telefónicas, mensagens, registos de chamadas, fotos, vídeos e outros dados sensíveis.

Simultaneamente, a Tykelab, subsidiária da RCS Labs, estava a usar dezenas de redes telefónicas para enviar centenas de “pacotes de rastreamento” um pouco por todo o mundo, indicam dados confidenciais vistos pelos jornalistas da organização.

Para tal, a empresa estava a explorar vulnerabilidades em redes telefónicas que permitiam que entidades terceiras descobrissem a localização dos telefones dos utilizadores, interceptando as chamadas sem deixar rasto.

Recorde-se que, na resolução hoje adotada pelo Parlamento Europeu, os eurodeputados defendem que o uso ilícito de spyware está a colocar a democracia em risco e exigem "investigações credíveis, mudanças legislativas e uma melhor aplicação das regras existentes para evitar abusos".

A resolução apela à tomada de medidas específicas por países, como Hungria, Polónia, Grécia, Chipre e Espanha, envolvidos em escândalos com "software espião". O desenvolvimento de regras para a utilização de spyware por Estados-Membros e autoridades, assim como a criação de um instituto de pesquisa independente com poder para investigar casos e expor práticas ilícitas estão entre as propostas deixadas.