Aos 30 anos, Diogo da Silva é atualmente um dos streamers mais conhecidos da Twitch em Portugal, com 188 mil seguidores e com dezenas de milhares de visualizações por stream. As suas imponentes perucas, óculos e fatos coloridos fazem parte da imagem de marca e por isso é rapidamente reconhecidos pelos seus fãs. O streamer já é um dos mais requisitados influenciadores da atualidade em eventos e para promover marcas.
Moviemind estava longe de pensar numa carreira sólida e a tempo inteiro como criador de conteúdos não só para a Twitch, como outras redes sociais com o TikTok, YouTube e Instagram. A sua carreira deve-se sobretudo à gsua rande paixão: os relatos de futebol. Foi a relatar um jogo de FIFA que chamou a atenção pela sua voz colocada e articulação, colocando-o muito próximo do que se faz profissionalmente na rádio e televisão nas partidas de futebol. E essa experiência, desenvolvida em torneios e eventos, deu origem a um recente contrato com a Sport TV onde já faz comentários a partidas de futebol para o canal desportivo.
Sem formação superior, terminou o ensino secundário com um curso de organização de eventos, o seu primeiro emprego foi como carteiro, na distribuição entre as aldeias na zona de Penacova, onde é a sua origem. O dinheiro permitiu-lhe comprar o seu primeiro computador para fazer streams.
Quando decidiu começar a fazer streams para a Twitch dividia o seu tempo profissional a trabalhar de noite numa discoteca e aos fins de semana em lojas de roupa. “Só conseguia fazer stream ao domingo e depois de quase 30 horas sem dormir, trocando a discoteca com a loja de roupa”.
Pandemia de COVID-19 deu o “empurrão” para o sucesso
Movemind diz que no início, em 2017, não tinha muita gente no canal a assistir às suas streams, mas tinha muito gosto no que fazia. Um dia teve a oportunidade de relatar um torneio de FIFA e estava presente o jogador profissional de eSports JOliveira10 (que atualmente representa o Benfica) que reparou no seu trabalho e gostou.
O atleta ajudou-o a crescer na Twitch, fazendo raids (possibilidade de mandar o público a assistir de uma stream para a outra). “O canal foi crescendo, de 10 pessoas a assistir para 50, 100, 300, etc. Já tinha um público de 500 ou 600 pessoas, por vezes mais nas streams ao domingo, mas estes manifestavam-se que queriam ver conteúdo mais vezes”, explica Movemind.
A pandemia de COVID-19 acabaria por representar o empurrão que Diogo da Silva necessitava para se “transformar” definitivamente, e a tempo inteiro, no Movemind. A pandemia fê-lo perder os seus dois empregos. Desde então mergulhou totalmente na plataforma de streaming, referindo que até hoje está a correr muito bem. “Faço isto a tempo inteiro e por mim, farei até morrer”.
“Cheguei a casa e disse à minha mãe que não tinha como sobreviver. Recebia 100 euros por mês na Twitch e que era aquilo que queria apostar”, salientou Movemind
A falta de tempo foi apontada como o principal desafio no início da sua carreira como streamer, mas também a falta de material, como uma câmara ou um microfone e iluminação. O seu computador também não era o ideal. “Tudo era mau, mas fui implementando estratégias que correram bem”.
Quando decidiu que o seu projeto “tinha pernas para andar”, a sua preocupação foi aumentar o número de pessoas a assistir ao seu canal. Por isso, criou introduções temáticas numa base diária, a ver com as coisas que se passavam no país, fossem taças que Portugal ganhou ou outros assuntos. “As pessoas queriam estar no canal para ver qual seria o tema do dia”, acabando depois por ficar e acompanhar as transmissões. “A minha maior dificuldade era mesmo cativar as pessoas no início”.
Conciliação de streamer com comentador desportivo
Com um início de carreira ligado aos relatos e comentários desportivos em torno de FIFA, a SportTV sempre soube do seu gosto pelo futebol e por se dar bem com jogadores de futebol. “Começaram a seguir de perto os torneios que eu ia relatando e surgiu a oportunidade de ser narrador do canal”, uma nova experiência profissional recente, que começou há cerca de três meses.
Movemind diz que o novo projeto está a correr bem e que consegue conciliar com as streams. Se tivesse de colocar numa balança, considerando que o streaming foi o que lhe abriu portas e o lançou, esta seria a sua escolha na hora de optar, algo que gostaria de fazer para a vida toda. Mas desde pequeno o que queria ser era relatador desportivo e por isso diz que consegue manter as duas atividades que o apaixona.
Apesar de partilhar fotografias e alguns vídeos mais criativos, seja a mostrar um produto de uma marca ou a fazer promoção de eventos onde participa, Diogo da Silva diz que não tem qualquer experiência de design. “Tenho ideias, mas depois a minha equipa trabalha comigo para as explorar”, afirma o streamer, referindo que os seus colegas já estão habituados às suas ideias e fazem um trabalho conjunto, seja em fotografia ou vídeo. “A ideia é que a marca que me procura veja um trabalho único e de qualidade, e que este seja feito com o Movemind, marcando a diferença”. E acredita que até agora as marcas estão satisfeitas com os resultados.
Na sua equipa consta um designer que faz as fotos e as suas stories para as redes sociais. Recentemente adicionou um editor de vídeo para fazer trabalhos mais criativos para o Reels e Tiktok e um outro a editar para o YouTube. Além disso tem um manager da organização que representa, ajudando-o no seu dia-a-dia. Mesmo assim não descura o lado da saúde, referindo que tem uma psicóloga sempre aliada ao seu trabalho, que o ajuda a gerir o stress e em momentos menos positivos, tais como quando os números dos conteúdos caem e outros problemas que surjam e o podem desgastar. Afirma que tem descuidado do ginásio e massagista, mas deseja regressar em breve.
Respondendo ao SAPO TEK sobre incluir uma psicóloga na equipa, Movemind diz que é uma necessidade, mesmo antes de se tornar um streamer, acompanhando-o desde o início. “Sempre achei que era importante trabalhar a área da psicologia e aconselho no dia-a-dia, não apenas quando precisamos, porque pode ser tarde de mais”. O medo deste seu sonho acabar é comparado ao de um futebolista quando chega ao fim da sua carreira e um psicólogo pode ser essencial para atenuar esse problema, explica.
Outro aspecto importante na sua profissão é a separação de Diogo da Silva da sua persona Movemind. Explica que quando começou a fazer relatos e a desenvolver esse sonho ainda não fazia streams. Como o tinha o sonho de se tornar um relatador profissional, sentiu a necessidade de se diferenciar. Ou seja, o Diogo da Silva comentador “nunca diz asneiras”, mas tudo muda quando coloca uma peruca e assume a personagem, que diz ser mais ele, divertido, dizendo o que lhe apetece, algo que não ficaria bem a um comentador desportivo.
Por isso, tentou criar a imagem que o diferenciasse quando estava dentro e fora da streaming. “O meu primeiro fato para streaming foi mesmo do Homem-Aranha e uma peruca rosa do Carnaval. Ainda tinha eu uns 10 seguidores quando alguém me disse que eu era parecido com o Dr. Disrespect, mas não o conhecia”. O streamer foi pesquisar e o que lhe chamou a atenção foi o cenário de fundo, o nível gráfico foi algo que quis replicar nos seus trabalhos.
“A minha inspiração nele foram os seus designs e criar coisas diferentes. A peruca foi para diferenciar o Movemind do Diogo. Hoje em dia corre tudo bem, e tenho 11 ou 12 perucas, assim como 30 e tal fatos, e muitos óculos”. O streamer acrescenta que fechou um contrato com a Red Bull que lhe forneceu muitos óculos.
Uma comunidade amiga e fiel e o prémio que ganhou em Milão
“Os elementos da minha comunidade são autênticos guerrilheiros e mercenários”, refere Movemind, referindo que gostam do seu conteúdo e são fieis, não apenas na Twitch, como nas redes sociais TikTok, Instagram ou mesmo no Discord onde conversam e jogam juntos. Afirma que quando tem alguma dúvida coloca e todos ajudam, o mesmo para quando precisa de uma opinião.
"Parece cliché, mas diria que esta é a melhor comunidade do mundo. É o nosso canal e eles colocaram-me num patamar que nunca pensei estar a nível de live streams, sobretudo em Portugal".
Um dos jogos que mais sucesso faz no seu canal, além de FIFA é GTA RP, devido ao facto dos jogadores viverem uma espécie de vida virtual onde cada um desempenha um papel. “No jogo fui apanhado a roubar uma casa e levado a julgamento. O painel de juízes era totalmente composto por jogadores que me julgaram. Todos seguem a narrativa como se fosse a vida real e os espetadores como se fosse uma telenovela. É muito divertido”. Além disso joga títulos competitivos como Call of Duty e CS: GO, mas também narrativos como The Last of Us. “Também jogo os jogos mais irritantes e antigos, assim como os divertidos para jogar com amigos, como o Among Us. E também canto e danço, faço eventos em castelos e até um que fiz para o Europeu”, refere o streamer mostrando a sua multiplicidade de conteúdos.
Afirma que a pandemia veio trazer muita expansão dos canais em Portugal, assim como a nível global. Nota que a Twitch tem vindo a crescer em Portugal e vê as marcas a apostar nestes conteúdos, quando antes era apenas no YouTube.
O seu trabalho levou-o a uma nomeação internacional ao prémio da categoria Live do aboutyouawards2022 em Milão, que o português acabaria por conquistar. “Estava a concorrer com nomes internacionais muito mais conhecidos e com milhões de subscritores. Eu era o patinho feio do meio da tabela, mas Portugal quando toca a ajudar, todos se unem e a votação do público correu bem. E o júri, composto por 13 pessoas gostou do meu trabalho.” O streamer diz que o prémio foi atribuído quando ainda estava em ascensão e nunca tinha vencido nada em Portugal. “Fui a Milão ganhar contra outros nomeados na área do cinema, moda, televisão, no meio de pessoal que nunca esperava”. Conclui que foi o momento mais nervoso da sua vida e que nunca se vai esquecer.
Em conclusão, deixa uma mensagem aos fãs e outros criadores de conteúdo que estejam agora a começar a sua carreira: “sejam vocês próprios. Uso fato e peruca, mas como estou na stream ou eu no meu dia-a-dia”. E diz que já sente que lhe falta algo quando não está a utilizar e já pensou utilizar mais vezes mesmo fora das streams. Refere que não se deve pensar em crescer demasiado rápido, uma vez que o sucesso demora anos a conseguir. “Não vão atrás das modas, mas daquilo que vos diverte, e façam o mesmo se estiverem a fazer a stream para uma ou 5 mil pessoas. A diversão tem de vir à frente do objetivo de ganhar dinheiro, e invistam no que querem fazer”.
O trabalho não lhe deixa muita margem para outros hobbies, uma vez que considera o seu trabalho igualmente divertido. Quando não está em stream está a preparar e a planear as coisas, ou a pensar em projetos fora da caixa. Joga futebol duas vezes por semana como única diversão, dorme para descansar e come fora com amigos quando tem tempo. E faz música, para a sua stream, claro.
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