É engenheiro e professor no ISEL, onde ensina temas relacionados com desenvolvimento de software e criou um canal na Twitch para fazer streaming das aulas depois de aceitar a sugestão feita por um colega mais novo “num desabafo” na altura da pandemia, quando as escolas e universidades se preparavam para fechar portas - assim como o resto do país.
Paulo Pereira diz que é “um bocado velho” e não conhecia muito bem a Twitch. Por curiosidade, já “tinha lá ido espreitar e, ocasionalmente, via uma ou outra live de gaming”, contou ao SAPO TEK.
Tudo começou “de forma muito despretensiosa”, com a tentativa de conhecer melhor a plataforma, fazendo o tooling up necessário.
“Ao início foi tudo muito titubeante, eu sem saber bem o que estava a fazer, mas com os alunos super entusiasmados com a circunstância por terem aulas na Twitch. Achavam o máximo”.
Rapidamente percebeu o valor de gravar e disponibilizar as aulas, facilitando o acesso dos alunos aos conteúdos e permitindo-lhes rever a matéria quando precisassem ou quisessem. E foi assim que nasceu o canal no YouTube. “Ali era instantâneo: a live acabava e estava imediatamente disponível na Twitch e ficava durante 15 dias que era o tempo que eu precisava para fazer o upload para o YouTube”.
A pandemia terminou, tudo regressou aos padrões normais de funcionamento, mas a “aventura letiva” na Twitch continuou. Desde aí de forma diferente: em vez de estar sentado e falar para o computador, Paulo Pereira passou a fazer streaming das aulas a partir do ISEL.
Dar aulas presenciais e online simultaneamente trouxe novos desafios: se antes a interação através do chat era constante, na universidade o foco de atenção passa para a expressão dos alunos à sua frente.
Quando estava em casa a dar aulas, “o chat era como que os olhos dos alunos”, refere Paulo Pereira, explicando que este era o espaço para comentar, colocar dúvidas e fazer perguntas, e que seguia tudo o que era dito. “Com os alunos à minha frente, tenho de olhar para eles e perceber se estão a entender ou não. Dou muito menos atenção ao chat”.
Ultimamente aquilo que tem partilhado resulta das aulas que dá no ISEL, não estando a fazer conteúdos com a frequência que gostaria. “As coisas mudam de semestre para semestre, e este semestre foi de disciplina de laboratório, cujas aulas não são interessantes, por serem práticas”, justificou.
O que faz é aproveitar para estudar online e, ocasionalmente, fazer streaming “e a malta aparece para acompanhar, faz perguntas” e vai respondendo. De resto o plano é sempre que está a dar aulas, e essas aulas sejam interessantes, fazer lives.
Confessa que não faz grande pós-edição dos vídeos e tem a noção de que haveria espaço e oportunidade para criar vídeos mais pequenos, focados, pois há muita procura sobre o tema da programação e do desenvolvimento de software em geral.
Criar conteúdos mais dedicados “está nos planos” de Paulo Pereira, mas isso “requer tempo e, além disso, energia”. Mesmo com uma agenda de professor mais livre, destaca a necessidade de preparação prévia para oferecer conteúdos de qualidade. Diz-se exigente e responsável com aquilo que partilha e, por isso, prefere não fazer lives sem se sentir devidamente preparado.
Claro que a máxima que aplica ao desenvolvimento de software deixa a parte do streaming de jogos de fora. Isto porque, além do ensino, Paulo Pereira também começou a jogar online, por sugestão de vários dos seus seguidores. Embora seja péssimo, confessa.
“A malta acha piada a ver um velhote como eu a jogar e num canal ‘profanate free’, porque eu não digo palavrões, não digo vernáculo”.
Defende que jogar online permite uma interação mais leve e descontraída com os seus seguidores, proporcionando um espaço para entretenimento e construção de comunidade, considera.
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Diz não ser o tipo de professor de cátedra e que sempre procurou a proximidade com os alunos. “É o que me é mais natural. Não me causa mossa tratarem-me por tu ou as brincadeiras com os nicks que estão sempre a ser feitas. Se neste meio a pessoa fica melindrada então não deve ir por ali”.
Sente que os seus alunos e restantes seguidores o protegeram desde sempre. “A comunidade protege-se muito. Às vezes há uma ou outra brincadeira menos bem posicionada, mas a malta compreende o espírito”.
E por falar em seguidores, tem neste momento na Twitch mais de 16,9 mil e, embora sejam maioritariamente alunos e ex-alunos, “há de tudo”, nomeadamente profissionais de diferentes idades e áreas e até pessoas completamente leigas na matéria, interessadas em aprenderem alguma coisa sobre programação. “É uma audiência muito democrática”, comenta.
Paulo Pereira partilha inclusive algumas histórias de seguidores que decidiram ingressar no ISEL após assistirem às suas aulas e há quem até tenha mudado de profissão, abandonando a enfermagem para se dedicar à criação de software, mostrando o impacto positivo e o alcance das aulas que partilha online.
No final, a experiência com as plataformas digitais e o feedback que tem recebido trouxeram-lhe uma certeza: a paixão que tem pelo ensino. “Ficou muito claro que o que mais gosto de fazer na vida é ser professor”, sublinhou.
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