Aos 53 anos, Pedro Tochas é um conhecido comediante da praça portuguesa, conhecido pelos seus espetáculos como artista de rua e nos clubes de stand-up comedy. Na televisão, foi um dos rostos mais populares dos anúncios de água mineral, mas consolidou a sua imagem como jurado da edição portuguesa do programa Got Talent entre 2015 e 2022.

Realizou recentemente o espetáculo chamado “Um Serão com Pedro Tochas”, onde une a arte de contar histórias num formato stand-up comedy, com circo, malabarismo, reunindo elementos das suas atuações com o ritmo do espetáculo de rua. Mas continua a ser uma pessoa em movimento, com digressão pelo país, mas pelo mundo. Diz que passa muito tempo fora de Portugal, do Canadá à Austrália, Roménia, Coreia do Sul e muitos outros países. Tem um projeto paralelo, o Tochas e Telmo, um novo espetáculo de stand-up comedy, além de ser convidado por empresas como orador no encerramento de convenções.

Em entrevista ao TEK, Pedro Tochas diz-se muito ativo na sua profissão, não estando muito ativo nas redes sociais. “Gosto do presencial, ainda sou daqueles que liga aos amigos, não gosto de mensagens”. Tem uma teoria de que quando se mete muitas fotos das férias nas redes sociais significa que não estão a ser muito boas, porque caso contrário nem tem tempo ou se lembra de as colocar.

Pedro Tochas
Pedro Tochas

Mas há uma faceta de Pedro Tochas que provavelmente muitos fãs não conhecem: é um gamer veterano desde muito novo. Diz que sempre gostou de videojogos, tendo começado com um ZX Spectrum 128K +2, seguindo-se o Commodore amiga e depois o PC, plataforma que até aos dias de hoje continua a ser a sua favorita. Adora jogos do género de automação (construção de fábricas), MMOs como World of Warcraft, Destiny, etc. E há mais de 20 anos que tem um grupo de amigos com quem continua a jogar online.

Esses amigos em constante contacto no Discord convenceram Tochas a criar o seu canal na Twitch e fazer streams. Diz que aqui pode jogar, com a diferença de que tem pessoas a ver. Inicialmente encontrou alguma resistência em abraçar as sterams, mas queria um projeto onde os seus eventuais seguidores estivessem ali pelo mesmo gosto dos jogos, não para ver o Pedro Tochas a jogar. Ou seja, não quis e não quer usar a sua imagem pública para promover o seu canal, que ainda está a dar os primeiros passos. “Não quis fazer como muitos famosos que durante a COVID-19 ficaram trancados em casa aborrecidos sem nada para fazer e faziam stream a jogar, por jogar”.

Nesse sentido, o seu canal, que mesmo para esta entrevista preferiu manter o mistério (não em segredo), não está em nome próprio e não tem webcam. Afirma que a câmara é intrusiva, mas também não queria apenas mostrar o ecrã do jogo. Por isso, resolveu criar um avatar que acabou por se tornar a mascote do canal. E é um boneco animado em sincronia quando fala e se mexe.

Quando abriu o canal, preferiu também o anonimato porque não queria ser mais uma pessoa conhecida com a pressão de “fazer porcaria durante as transmissões”. Compara este momento no streaming como o início da sua carreira, com pequenos passos e conquistas nos degraus de uma escada, dando uns em frente, outros atrás, cometendo erros e aprendendo com eles. “E dei muitos erros. Quando comecei a transmitir WoW toda a gente perguntava se o jogo era cinzento, porque cada vez que olhava para o ecrã do chat morria, ficando a imagem cinzenta”.

Pedro Tochas
Pedro Tochas

Outra decisão que teve de tomar foi o idioma das streams. Logo aqui há um despiste, porque decidiu fazer em inglês, não apenas para praticar a língua, como a sua voz soa diferente. A escolha reflete também a possibilidade de abraçar um público internacional, como a sua própria carreira de artista de rua que andou pelo mundo.

Ao fazer as streams sem imagem e apenas usando a sua voz, diz que este se tornou um desafio de “pensar de voz alta”, algo que aprendeu no Got Talent. Ou seja, quando está a jogar em streaming, tudo o que está a pensar vai vocalizando, para criar o conteúdo, em simultâneo que interage com a sua audiência. Uma coisa é garantida, nenhuma mensagem no chat fica por responder por Pedro Tochas.

Sem câmara pode brincar com o avatar, que expressa também as suas emoções, quando se ti, se está contente ou triste. No tempo que faz as transmissões já passaram pessoas de todo o mundo, que acabam por ficar, até porque faz streams pela noite dentro, começando às 23h00 até às 2 ou 3 da manhã. Como curiosidade, conta que um fã do Pedro Tochas (como figura pública) que também seguia o canal, só ao fim de três meses é que descobriu que era o próprio comediante.

Prefere ter pessoas que gostem é de jogos e do seu trabalho como streamer, do que pelo seu lado de figura pública. Tem pessoas em vários países que o incentivam a jogar alguns jogos, como o exemplo de ter descoberto o título indie Dungeon Clawler que lhe foi oferecido por um seguidor dos Estados Unidos.

Pedro Tochas
Pedro Tochas

A sua veia artística e de comediante é utilizada nas streams de forma natural. Diz que mesmo a sua vida pessoal acaba por ser comparável à sua vida de gamer, que diz ser uma sucessão de “sub quests” antes de alcançar a “quest principal”. Desde jovem que faz “cenas na rua” que depois se tornaram profissão de stand-up comedy. Nos jogos diz que é igual, que passa muito tempo a picar todas as missões paralelas antes de entrar na principal.

Apesar de não querer revelar a sua identidade na Twitch, Pedro Tochas lança o desafio a quem gosta mesmo de jogos a encontra-lo em direto, com as pistas que vai deixando nas suas redes sociais. Sabe que muita gente está a trabalhar quando está a assistir às suas streams, muitas vezes como se fosse um programa de rádio. A vantagem é que podem interagir em direto com o artista. E o entusiasmo com a streams é tal, que deixou de dedicar muito tempo a jogar “offline” para guardar a experiência para quando está em live.

Pedro Tochas considera-se um nerd o gaming, mas também da cultura pop, gosta de muitos géneros e até aceita desafios dos seus seguidores, como recentemente que passou Alien Isolation em modo nightmare, depois de ter sido “picado” nas stream. Atualmente joga Factory, Destiny 2, Warframe, Valheim, Diablo 4, também experimenta demos. “Gosto é de jogos, tudo o que cai aqui pumba, jogo”. Tem Game Pass onde diz estarem muitos dos jogos que joga, considera Clare Obscur: Expedition 33 um dos mais belos jogos dos últimos tempos, jogou Oblivion Remastered e está à espera de DOOM: Dark Ages que sai hoje.

Questionado sobre como reagem os seus pares perante o seu gosto pelo gaming e pelas streams, Pedro Tochas diz que quando era adolescente já era nerd. Vivia numa terra pequena e já colecionava banda-desenhada antes de “estar na moda ser nerd”. Uma das funcionalidades da Twitch, por pertencer à Amazon, quem tem serviço Prime tem direito a oferecer uma subscrição na plataforma por mês a um streamer. “Estava a falar com uma pessoa de um grupo de amigos que não ligam a jogos para me oferecerem as subs do Prime, que não lhes serve para nada, mas ajuda ao algoritmo do meu canal. Uma delas que abordei pensou que lhe estava a vender um esquema da pirâmide”.

Pedro Tochas
Pedro Tochas

Aponta que quando se fala em videojogos, muitos não têm noção sobre o tamanho da indústria, maior que o cinema e música. Mas diz que não costuma calhar em conversa o gaming com colegas por serem meios diferentes. “Ou se gosta de videojogos ou não, paciência. É como eu vir para aqui falar de comédia do ponto de vista do processo, escrita criativa, construção de espetáculos, muita gente não vai entender”. No entanto, acredita que o assunto do gaming seja mais discutido agora do que há alguns anos.

Pedro Tochas adora a sensação de estar a fazer uma stream de forma anónima e receber o feedback pelo que está a fazer enquanto joga, do que por ser conhecido. “De repente entra um holandês no chat, gosta do canal e sem saber que sou oferece cinco subs, apenas porque gostou do conteúdo”. Está habituado, como artista de rua, a verem-no atuar muitas vezes à chuva, sem saber que pertence a um programa como o Got Talent. Ou vice-versa, estar no programa e não saberem que Tochas é um artista de rua.

Falando sobre a sua profissão de artista de rua e desmistificar um pouco o seu papel nas cidades, Pedro Tochas diz que participa num circuito de festival internacional. Os programas pagam aos artistas a viagem, alojamento e refeições, “depois os artistas ganham o seu rendimento a viver do chapéu”.

E aponta que são festivais com orçamentos de 200 a 300 mil euros, levando milhares de pessoas às ruas. Só na Nova Zelândia, por ano, há cerca de 600 grupos e pessoas que tentam participar e só convidam 20 com tudo pago. Há programas e horários com os espetáculos, embora os rendimentos pessoais venham diretamente das pessoas, “uns dão mais dinheiro, outras dão menos”.

“Mesmo que não ganhasse nada, só o facto de viajar e curtir com tudo pago já valia a pena”, refere Tochas que leva a esposa nas viagens fazendo de assistente. E andam os dois pelo mundo, com a sua empresa que os representa, criando espetáculos. “Mas andar de um lado para o outro também cansa, estar cinco meses fora e nunca parar uma semana na mesma terra. Nem desfazes a mala, vives dela, para não dar trabalho”.

Esteve em digressão na Austrália, passando por Sidney, Adelaide, Melbourne e outras cidades e locais. Depois é capaz de passar um ano em Portugal, par sentir novamente falta de viajar e volta a pegar na mala para andar pelo mundo. “Estive no Casino Lisboa durante uma semana com a sala esgotada, passado uma semana estou na Austrália a fazer espetáculos de rua”, conclui Pedro Tochas, afirmando que faz o que gosta, que são os espetáculos. "Ser streamer é algo diferente, mas que gosto muito também".