Após o apagão de 28 de abril, que deixou milhões de portugueses sem eletricidade e sem redes de comunicações durante várias horas, a ANACOM apontou falhas por parte das operadoras durante o corte de energia, alertando para a necessidade de melhoria nas comunicações perante incidentes como o que se sucedeu.

Mas o que realmente falhou do lado das telecomunicações e o que muda depois do apagão? Esta foi uma das questões centrais no debate que reuniu Jorge Graça, Chief Technology and Information Officer da NOS; José Pedro Nascimento, Chief Technology Officer da MEO; Paulino Corrêa, Chief Network Officer da Vodafone Portugal, no palco do 34º Congresso da APDC, acompanhados por Rodrigo Cordeiro, Country Head da Capgemini Engineering.

Como explica José Pedro Nascimento, há maneira de mitigar uma falha de energia, tendo em conta os sistemas de backup energéticos usados pelas operadoras para assegurar o funcionamento das redes fixas. Por outro lado, “há é que garantir que existem corredores logísticos e processos estabelecidos para assegurar o reabastecimento de combustível” nestas zonas de operação que não são formalmente consideradas críticas.

A questão torna-se ainda mais complicada quando olhamos para as redes móveis, onde é quase impossível ter um gerador em todas as estações

Apesar dos investimentos que têm sido feitos em renovação na infraestrutura das redes móveis, que permitem alguma resiliência em casos de incidentes. “Não é exequível do ponto de vista económico ter uma rede, por exemplo, a rede móvel preparada para aguentar um dia de apagão”, afirma o CTO da MEO.

“A grande questão é se os pressupostos [para desenhar a rede] mudam ou não. (…) A rede que falhou primeiro foi a rede elétrica”, realça Paulino Corrêa, Chief Network Officer da Vodafone Portugal. Em linha com o responsável da MEO, o CNO da Vodafone detalha que “não é comportável, nem ambientalmente nem do ponto de vista de investimento” ter geradores nos milhares de estações de redes móveis.

“Isto não quer dizer que não vamos atualizar os pressupostos”, ressalva o responsável. No entanto, é “preciso compreender se formos no caminho de ter uma autonomia absolutamente brutal em todos os ‘sites’, vamos cumprir a lei e enviar investimento para aqui, mas é investimento que não vai para cobertura, para serviços de 5G Standalone e para outras dimensões de desenvolvimento de rede”.

Recorde-se que, em junho, o Ministério das Infraestruturas e Habitação recebeu os relatórios pedidos à Autoridade Nacional da Aviação Civil (ANAC), à Autoridade Nacional de Comunicações (ANACOM) e ao Instituto da Mobilidade e dos Transportes (IMT) sobre o impacto do apagão de 28 de abril.

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De acordo com o regulador, “a falha prolongada de energia elétrica provocou um efeito em cascata com impacto direto na operação das redes de comunicações eletrónicas móveis e fixas”, que afetou quer “o acesso aos serviços de emergência, quer as comunicações entre os serviços de emergência, as autoridades e os agentes de proteção civil”.

Esta situação, aliás, levou o Governo, “em 01 de maio, a determinar a realização de um estudo técnico-estratégico para a substituição urgente do Sistema Integrado de Redes de Emergência e Segurança de Portugal (SIRESP)”, lembrou.

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Nas suas recomendações, a ANACOM destacou a “avaliação da autonomia dos sistemas de energia de socorro e emergência (baterias e geradores) e definição de tempo mínimo de autonomia para os vários elementos das redes”, apontando ainda a “utilização de sistemas de energia baseados em fontes renováveis”, com o objetivo de “aumentar a autonomia dos 'cell sites' em termos de energia socorrida, reduzindo a necessidade de instalação de baterias adicionais”.

Para a ANACOM é também importante a “adoção de mecanismos de acesso a serviços das redes móveis em situação de emergência”, recomendando “um estudo para adoção de um conjunto restrito de cartões SIM/eSIM a serem usados por autoridades, forças de proteção civil e operadores críticos” e a ligação direta de todos os operadores móveis aos Ponto de Atendimento de Segurança Pública (PASP), bem como a “diversificação das rotas de encaminhamento das chamadas 112”.