Quando apareceu pela primeira vez nas redes sociais, um utilizador conhecido por Harlan afirmou ser nova-iorquino e veterano do Exército, de 29 anos, que apoiava Donald Trump para Presidente. Alguns meses depois, Harlan sofreu uma transformação. Agora, afirmava ter 31 anos e ser natural da Florida.

Uma nova investigação sobre as redes de desinformação chinesas dirigidas aos eleitores norte-americanos mostra que as afirmações de Harlan eram tão fictícias como a sua fotografia de perfil, que os analistas pensam ter sido criada com recurso à IA.

Seja quem for ou onde quer que esteja, Harlan é uma pequena parte de um esforço maior dos adversários dos EUA para usar as redes sociais para influenciar e subverter o debate político no país, noticiou a agência Associated Press (AP).

A conta foi atribuída ao Spamouflage, um grupo chinês de desinformação, por analistas da Graphika, uma empresa com sede em Nova Iorque que monitoriza as redes online. Conhecido pelos investigadores há vários anos, o Spamouflage ganhou o seu nome devido ao hábito de espalhar grandes quantidades de conteúdo aparentemente não relacionado juntamente com a desinformação.

"Uma das maiores operações secretas de influência online do mundo - uma operação dirigida por atores estatais chineses - tornou-se mais agressiva nos seus esforços para se infiltrar e influenciar as conversas políticas dos EUA antes das eleições", alertou Jack Stubbs, diretor dos serviços de informação da Graphika, à AP.

Os serviços de informação e de segurança nacional já revelaram que a Rússia, a China e o Irão montaram operações de influência online dirigidas aos eleitores dos EUA antes das eleições de novembro.

A Rússia continua a ser a principal ameaça, de acordo com os serviços de informação, apesar de o Irão se ter tornado mais agressivo nos últimos meses, apoiando secretamente os protestos dos EUA contra a guerra em Gaza e tentando invadir contas de email de membros ligados às campanhas dos dois candidatos presidenciais.

A China, no entanto, adotou uma abordagem mais cautelosa. Pequim vê poucas vantagens em apoiar um candidato presidencial em detrimento de outro, de acordo com os analistas dos serviços de informação. Em vez disso, os esforços de desinformação da China centram-se em questões de campanha particularmente importantes para Pequim - como a política norte-americana em relação a Taiwan - ao mesmo tempo que procuram minar a confiança nas eleições, na votação e nos EUA em geral.

De acordo com as autoridades norte-americanas, este é um esforço a longo prazo que continuará muito depois do dia das eleições, enquanto a China e outras nações autoritárias tentam usar a Internet para minar o apoio à democracia.

O porta-voz da embaixada chinesa, Liu Pengyu, rejeitou as conclusões do Graphika, considerando-as repletas de "preconceito e especulação maliciosa" e disse que "a China não tem qualquer intenção e não irá interferir" nas eleições.

Plataformas como a X ou TikTok já removeram várias contas ligadas à Spamouflage depois de terem sido levantadas questões sobre a sua autenticidade. "Continuaremos a remover contas enganosas e desinformação prejudicial, ao mesmo tempo que protegemos a integridade da nossa plataforma durante as eleições nos EUA", frisou hoje, num comunicado à AP, um porta-voz do TikTok.