A forma como o Facebook lida com o discurso de ódio e a desinformação levou a que mais de 100 marcas suspendessem a sua atividade publicitária durante o mês de julho nas plataformas da empresa liderada por Mark Zuckerberg, juntando-se à campanha #StopHateForProfit.
Ao longo da semana passada, várias empresas, como a Mozilla, Verizon, The North Face, a Ben & Jerry’s e a Coca Cola, juntaram-se ao movimento liderado pelas organizações Free Press e Common Sense Media em conjunto com grupos de ativistas que lutam pelos direitos civis, como a National Association for the Advancement of Colored People (NAACP), a Color of Change e a Anti-Defamation League.
A Unilever, que detém algumas das maiores marcas de grande consumo, foi das mais recentes a participar no boicote. Além do Facebook e do Instagram, a empresa decidiu que vai suspender os seus anúncios no Twitter.
Em comunicado, a Unilever anunciou a 26 de junho que “há ainda muito por fazer, em especial no que toca aos conteúdos que promovem a divisão e ao discurso de ódio, durante este período de eleições polarizado nos Estados Unidos”. A empresa sublinhou que continuar a publicitar nas redes sociais neste momento “não trará valor às pessoas e à sociedade”.
Embora algumas das marcas que fazem parte da campanha #StopHateForProfit se comprometam a não fazer anúncios nas plataformas em questão durante o mês de julho, a Unilever decidiu manter a suspensão até ao final de 2020.
Com a pressão a aumentar e as ações do Facebook na bolsa de valores a registar uma quebra na ordem dos 8% após a decisão da Unilever, Mark Zuckerberg partiu para o Facebook e anunciou que a rede social vai tomar novas medidas para travar a disseminação do discurso de ódio e da desinformação.
Assim, o Facebook passará a incluir mensagem de alerta nas publicações que violem as políticas da rede social, mas que sejam do interesse público, à semelhança das medidas tomadas pelo Twitter. “Permitiremos que as pessoas partilhem o conteúdo para condená-lo”, explica Mark Zuckerberg, justificando que “esta é uma parte importante da forma como discutimos o que é aceitável na nossa sociedade”.
No que toca aos anúncios nas plataformas da empresa, Mark Zuckerberg explicou que estão a ser tomadas medidas para banir uma maior variedade de conteúdo relacionado com discurso de ódio. “Estamos a expandir a nossa política de anúncios para proibir alegações de que as pessoas de uma determinada raça, etnia, religião casta, orientação sexual, identidade de género ou estatuto imigratório são uma ameaça à segurança, saúde ou sobrevivência de outras”, indicou o responsável.
A rede social comprometeu-se ainda a disponibilizar mais informação aos utilizadores acerca das eleições presidenciais norte-americanas, incluindo uma ligação para uma página interna em todas as publicações acerca da temática e removendo todos os posts que querem incentivar à violência ou a encorajar as pessoas a não votar.
A organização da #StopHateForProfit acredita que as medidas anunciadas pelo Facebook não são suficientes. Em declarações à Reuters, Jessica Gonzalez, co-chefe executiva da Free Press, sublinhou que a criação de políticas compreensivas e que sejam, de facto, aplicadas é fulcral: “Se eles [Facebook] pensam que resolveram o problema com as medidas anunciadas na sexta-feira, eles estão redondamente enganados. Não precisamos de políticas pontuais”.
À agência, Jim Steyer, chefe executive da Common Sense Media, afirmou que a campanha não se limitará a agir nos Estados Unidos. “A próxima fronteira é a da pressão global”, indicou o responsável, afirmando que espera que a campanha leve os reguladores europeus a “apertar o cerco” ao Facebook.
A expansão a nível mundial poderá impedir uma parte dos lucros da publicidade cheguem ao Facebook, no entanto, poderá não ter um forte impacto financeiro. De acordo com Richard Greenfield da LightShed Partners, a decisão, por exemplo, da Unilever apenas dá conta de 10% dos 250 milhões de dólares que a empresa gasta anualmente em publicidade no Facebook.
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