Especialista em segurança internacional, cibersegurança e geopolítica, Alex Younger apresentou no IDC Directions 22 um retrato claro da situação atual e dos riscos o mundo corre com a “questão da Rússia”. Mesmo assim considera que esta é a segunda maior preocupação de cibersegurança, colocando em primeiro lugar uma mudança que está em curso e que tem a ver com a forma como a Internet está a ser dividida, e se vai ficar do lado da democracia ou do autoritarismo.
Depois de trinta anos nos serviços secretos, o antigo responsável dos serviços secretos britânicos, o MI6, Alex Younger admite que quando entrou ao serviço ser espião era mais divertido e era possível circular pelo mundo de forma mais fácil, mas depois chegou o Google e tornou tudo pesquisável.
A corrida contra o tempo no combate ao terrorismo e a necessidade de inovar e de adaptar estratégias para defender o país e os seus amigos foi também recordada pelo especialista, que admite que o seu grande desapontamento é a percepção de que a história não acabou depois da queda do muro de Berlim e que ideologicamente estamos a divergir. “A luta entre os dois blocos continua e a tecnologia é uma das suas faces, que se manifesta na cibersegurança”, lembra.
A situação de guerra atual na Ucrânia tem também esse lado de ciberguerra, que começou ainda antes da invasão da Rússia Crimeia mas que se aprofundou depois disso.
“Se a 22 de fevereiro me dissessem que a Ucrânia ia resistir desta forma contra a Rússia era uma surpresa”, admite, avaliando as vantagens que deram ao país de Volodymyr Zelenskyy a capacidade de se manter na frente desta guerra com a mobilização rápida e a vantagem moral do seu lado.
Ainda assim Alex Younger acredita que “a maior batalha ainda vai acontecer e penso que não será resolvido [o conflito] rapidamente”, afirmou, explicando que inicialmente pensávamos que o ocidente tinha a vantagem do poder económico e que Vladimir Putin tinha o poder militar mas que afinal se revelou que era o contrário devido à questão energética.
“Vamos estar num lugar perigoso no próximo ano, com a Rússia a ficar com falta de opções”, adianta ainda o especialista, referindo que quem ouvir o último discurso de Putin vai perceber que ele ainda não chegou onde queria. Os riscos que dai surgem são de uma escalada de guerra, utilização do pode atómico e de ciberguerra, um risco que Alex Younger diz que ainda não se materializou mas para o qual temos de estar preparados.
O especialista lembra que “a infraestrutura da Ucrânia está a ser atacada todos os dias” mas que está a resistir e que “deve ser olhada como um exemplo de como usar um problema e transformar numa solução”, com a capacidade de se reinventar e de unir a ajuda internacional. Na perspetiva de Alex Younger, a Rússia vai continuar as ciberoperações patrocinadas pelo Estado com ciberespionagem e desinformação nas redes, procurando a divisão dos aliados ocidentais.
A grande questão é se Putin vai usar técnicas ciberdestrutivas. “Tinha previsto que não era provável porque esse é um ato de guerra e Putin não sabe bem qual é o limite da Nato e tem muito respeito pela nossa capacidade ofensiva no ciberespaço”, afirma, mas a sabotagem dos gasodutos Nord Stream no Mar Báltico fez com que colocasse essa teoria em pausa.
Com a incerteza sobre a evolução da situação, Alex Younger coloca a questão sobre o que isso representa para as organizações em Portugal, que podem ser um alvo ou ser apanhadas no fogo cruzado.
Entre a democracia e o autoritarismo na Internet
A divisão da internet, entre os regimes democráticos e os autoritários, com estratégias muito diferentes de atuação é vista por Alex Younger como um risco maior para o futuro da humanidade e para o mundo que vamos deixar aos nossos filhos. “A tecnologia é uma área de competição chave e vamos estar num mundo dividido”, lembra, avisando que do lado ocidental não se conhece um plano mas que o da China está escrito e publicado, aconselhando todas as pessoas a lerem o “Made in China 2025” para perceber o que Xi Jinping, presidente da China, pretende fazer nos próximos anos.
A diferença na forma como os vários blocos tratam a cibersegurança é para o especialista bem clar a e traduz-se de forma rápida. “É uma ironia que nós, como capitalistas temos uma abordagem muito socialista à internet, enquanto a China é muito capitalista, com uma grande diversidade de players e muito desorganizada, onde os ciber hacktivistas não parecem estar muito conscientes do que estão a fazer”. Mesmo assim há traços claros: se o ataque for para roubar segredos comerciais é da China e se forem segredos políticos é da Rússia.
Sem querer deprimir a audiência, o especialista sublinha que estes riscos estão a interferir nos cálculos das empresas e que é preciso trabalhar para preparar-se para os ciberataques que podem surgir. Por isso deixou alguns conselhos, como a utilização da imaginação, olhando de fora para dentro para perceber o perfil da empresa nos cenários e tomar decisões proporcionais. Fazer benchmark com a concorrência do sector, para não ser o mais fraco do grupo e mais vulnerável, e resolver os problemas em tempo de paz são também apontados como estratégias inteligentes.
“Ponham s pessoas na posição em que pensam como responder quando forem atacadas e que press release vão escrever no dia a seguir”, avança.
Reconhecendo que hoje a capacidade de inteligência e segurança já não está concentrada nos governos, Alex Younger sublinha que a cibersegurança é também um problema humano, uma questão de educação, e que as organizações têm que perceber o risco que um elemento interno alienado representa. Para os lideres das organizações fica a ideia de que eles próprios são as primeiras vulnerabilidades porque muitas vezes acreditam que as regras não se aplicam ao seu caso, e por isso são mais vulneráveis.
“No final sou optimista. o que aprendi em 30 anos de carreira é que a capacidade de usar a imaginação e ser ágil é a melhor maneia de sair de um problema”, defende, avisando que “Não é altura de entrar em pânico mas de olhar de forma séria para um assunto com que temos de lidar.
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