A Apple revelou que o mercado europeu tem um peso de 7% nas receitas globais da sua loja de aplicações, uma semana depois de apresentar um conjunto de alterações em vários serviços na região, para se pôr de acordo com as normas do novo Regulamento dos Mercados Digitais (DMA, na sigla em inglês).

A informação foi avançada pelo administrador financeiro da empresa, Luca Maestri, que comentava o possível impacto das alterações nas receitas da App Store, uma das principais visadas pelas novas regras propostas pela Apple aos programadores, altamente criticadas já por todo o mercado.

“Vai depender em muito das escolhas que forem feitas. Só para contextualizar, as alterações aplicam-se ao mercado da UE, que representa cerca de 7% das nossas receitas globais da loja de aplicações", referiu numa conferência com analistas aquele responsável, como cita o TechCrunch.

A Apple foi uma das empresas identificadas pelas autoridades europeias como gatekeeper. Os gigantes tecnológicos com esta “etiqueta” estão sujeitos a um conjunto de regras adicionais que, supostamente, servem para garantir práticas comerciais mais transparentes e mais justas, favoráveis a um ambiente concorrencial.

Uma das grandes pedras no sapato da Apple, enquanto gatekeeper, é a política da App Store, nomeadamente por causa das restrições a qualquer outra fonte para o download de uma app que não a própria App Store e ao uso de sistemas de processamento de pagamentos que não sejam o seu próprio.

O tema é antigo, a Apple já foi obrigada a fazer algumas concessões na sequência de processos judiciais noutras partes do globo, mas nunca abriu mão do modelo, que é uma máquina de gerar receitas. Os programadores entregam até 30% da receita à Apple para usarem o seu sistema de pagamentos, salvo em algumas exceções que em breve podem ser mais, e também não podem usar outro para estarem na App Store. Por outro lado, também não podem estar em nenhum outro marketplace que não a App Store. As duas restrições que vão mudar.

Seguindo as novas regras do DMA, a Apple vai abrir o mercado aceitando apps com outras proveniências e que usem outras plataformas de processamento de pagamentos. A empresa acedeu, mas a nova proposta retira umas taxas para colocar outras e fazer da nova opção uma via ainda mais dispendiosa para estar na App Store, segundo alguns dos visados.

Como refere a empresa, os programadores terão a última palavra, pois cabe-lhes a eles decidir se querem implementá-las, mas na verdade podem não ser só os programadores a manifestar-se sobre isso nas próximas semanas ou meses. Face às duras críticas que a Apple recebeu dos mais diversos quadrantes, a Comissão Europeia explicou que ainda vai analisar as propostas dos gatekeepers, depois de finalizado o prazo de entrega dessas propostas, que é a 7 de março. Há quem diga que a proposta da Apple viola o DMA.

Para já, os serviços continuam a ser uma das grandes galinhas de ovos de ouro da Apple e boa parte destas receitas são geradas precisamente com a App Store. No trimestre terminado em dezembro, as receitas globais de serviços da Apple avançaram 11% para uma faturação recorde de 23,1 mil milhões de dólares.

A Apple continua a bater nos argumentos da segurança e privacidade para restringir as compras e interações dos clientes nas apps, ao ecossistema da App Store. Tim Cook disse-o mais uma vez nesta última conferência de resultados.

“Se pensarem no que temos feito ao longo dos últimos anos, temos realmente privilegiado a privacidade, a segurança e a usabilidade”, referiu o responsável. Tim Cook acrescentou que, com as mudanças agora implementadas, houve também um esforço para manter essa lógica, “mas vamos ficar aquém de proporcionar o melhor que poderíamos fornecer, porque temos de cumprir o regulamento”.

Recorde-se que o DMA também obrigou a Apple a apresentar outras opções de browser a quem usa o iPhone, uma escolha que cada europeu vai poder fazer a primeira vez que iniciar o smartphone depois da atualização para a versão 17.4 do iOS.