A Tesla vai recolher mais de 2 milhões de carros nos Estados Unidos, para atualizar o software dos veículos e ir ao encontro das preocupações do regulador de segurança rodoviária. A recolha será a maior da história da empresa, fundada e dirigida por Elon Musk, e deve visar a totalidade dos veículos da marca nos Estados Unidos, segundo a Reuters.

Ainda não é claro se a Tesla vai fazer chegar as mesmas atualizações aos veículos em circulação noutros mercados. A atualização, nos Estados Unidos, vai afetar os Tesla modelos S, X, 3 e Y comercializados desde 2012.

Em questão está a segurança das funcionalidades de assistência à condução do Autopilot da Tesla, e mais concretamente do Autosteer, que permitem ao veículo realizar algumas tarefas de condução em modo automático.

Na sequência de uma investigação, a National Highway Traffic Safety Administration conclui que o sistema facilita a distração dos condutores. As atualizações que a Tesla se prepara para integrar nos veículos têm como objetivo reforçar a atenção dos condutores à estrada e à condução, enquanto estão a utilizar o Autopilot e enquanto o sistema realiza por eles algumas tarefas de condução.

A investigação da NHTSA decorre há dois anos e foi aberta na sequência de vários acidentes entre Teslas e veículos parados, mas também analisou acidentes fatais envolvendo veículos da marca. O regulador analisou neste período 956 acidentes envolvendo veículos Tesla, onde se suspeitava que o Autopilot estivesse em utilização, com destaque para 322, onde se verificou que o sistema estava efetivamente em utilização.

A entidade publicou agora um conjunto de conclusões, onde defende que os sistemas de controlo do Autopilot “podem não ser suficientes para prevenir o seu uso incorreto pelos condutores” e aumentar o risco de acidentes.

"Uma das coisas que determinámos é que os condutores nem sempre estão a prestar atenção quando o sistema está ligado", sublinhou numa audição sobre o assunto, na Câmara dos Representantes, Ann Carlson, administradora da NHTSA.

A Tesla entretanto já disse que não concorda com as conclusões da NHTSA, mas ainda assim vai agir, lançando uma atualização de software que vai “incorporar controlos e alertas adicionais àqueles que já existem nos veículos afetados, para encorajar os condutores a cumprir as suas responsabilidades”, enquanto os sistemas de apoio à condução funcionam.

As críticas à capacidade das atualizações que a Tesla vai lançar para corrigir o problema já se fazem ouvir. O professor de direito da Universidade da Carolina do Norte, Bryant Walker Smith, ouvido pela Reuters, é um dos que defende que uma atualização de software pode ser pouco para resolver o problema, porque “parece colocar a maior parte da responsabilidade no humano e não num sistema que facilite mais a má utilização”.

Como reconhece também à agência um advogado envolvido em vários casos judiciais que querem ver a Tesla responsabilizada por acidentes com os seus veículos, em situações onde o Autopilot estava a ser usado, a decisão do regulador não tem qualquer impacto nos processos em curso e não prova a responsabilidade do sistema em nenhum caso concreto.

Esta semana, a entidade responsável pela segurança rodoviária no Canadá também informou que vãpo ser recolhidos 193 mil Tesla para resolver questões com o Autopilot. Nos EUA, outra decisão da NHTSA, em fevereiro deste ano, já tinha obrigado a Tesla a recolher mais de 300 mil veículos. Nessa altura foi identificado que as opções mais avançadas de condução assistida do veículo, ainda em modo beta, não estavam em conformidade com as normas de segurança rodoviária.

O que é o Autopilot?

O Autopilot é um sistema avançado de assistência à condução, equipado de série nos veículos mais recentes e disponível como add-on nos restantes. Entre as funcionalidades que assegura estão o Cruise Control Adaptativo, que adapta a velocidade do veículo à do trânsito circundante, ou a Direção Automática, que assiste a direção numa mesma faixa de trânsito.

O Autopilot Aperfeiçoado permite também a mudança automática de faixa em autoestrada, o estacionamento automático em paralelo ou perpendicular, a colocação e retirada autónoma do veículo de um espaço apertado, utilizando a aplicação para telemóvel, ou a movimentação do veículo sozinho num parque de estacionamento ou estrada privada, para vir ao encontro do condutor.