Longe vão os tempos em que se associava a marca Bosch apenas a eletrodomésticos ou componentes motores. Em Portugal desde 1911, a empresa apresentou hoje os seus resultados de 2017 e, impulsionados por soluções para Smart Cities, de mobilidade, IoT e Infotainment, os valores foram históricos.
Depois de ter atingido 1,1 mil milhões de euros em 2016, a Bosch Portugal terminou o ano fiscal de 2017 com vendas no valor de 1,5 mil milhões de euros, um valor que se traduz num crescimento de 37% em relação ao ano anterior, anunciou a empresa numa conferência, depois de abrir portas das fábricas aos jornalistas.
Para estes números terá contribuído o crescimento contínuo verificado na Bosch Termotecnologia, em Aveiro, Bosch Tecnologias de Edifícios, em Ovar e, principalmente, na Bosch Car Multimedia Portugal, em Braga.
As soluções de mobilidade, concentradas na fábrica de Braga foram, por si só, responsáveis por mais de metade (68%) do volume total de vendas no ano passado, atingindo o recorde de mil milhões de vendas, um número que, segundo Carlos Ribas, representante da Bosch no país, a tornou “a fábrica que mais faturou no país”.
É neste site do grupo alemão que se desenvolvem as várias tecnologias com que a empresa pretende chegar à visão zero que imagina ser a área da mobilidade do futuro: sem acidentes, sem emissões e sem stress.
Na conferência de imprensa de apresentação de resultados, em Aveiro, Carlos Ribas defendeu que “grande parte da condução autónoma do futuro vai sair de Portugal”, destacando os sistemas multimédia e de instrumentação, assim como o sistema eCall, uma solução de segurança desenvolvida e produzida em Braga.
Obrigatório na União Europeia desde 31 de março, este sistema de chamadas de emergência significa que um assistente digital estará ligado em permanência e, em caso de acidente, solicitará automaticamente apoio. A Bosch também desenvolveu um sistema eCall específico para os motociclos, que passou por um processo de melhoramento a cargo da equipa de processo da empresa em Braga.
Com 800 produtos ativos diferentes a serem produzidos na fábrica bracarense, Laura Antas, responsável pelo departamento de produção daquela unidade, refere que, para isso, é preciso que exista “uma complexa linha de montagem auxiliada por máquinas conectadas e interligadas”, as quais permitem que tudo funcione “de uma forma fácil de ver, mas que tem muitos dados associados e pormenorizados de cada produto”.
E, através do Bcore System, um sistema de gestão de informação interno, é possível aceder aos resultados de 24 horas de produção, com todas as incidências e monitorização de todas as máquinas de cada linha de montagem de forma a saber-se se os produtos estão dentro dos parâmetros.
Nuno Alves, responsável pelo projeto, explicou ainda que todos os dados estão acessíveis online e para toda a organização, o que permite reduzir avarias, aumentar o output e a produtividade. Para Carlos Ribas, este é um exemplo da “indústria 4.0 pura” e indica uma passagem da IoT para a “Internet de Todas as Coisas”, uma vez que “o que não estiver na internet, não existe”, explicou.
“Queremos industrialização 4.0 não porque é nice to have, mas porque faz sentido”, defendeu Jónio Reis, o administrador da Bosch de Aveiro, divisão de Termotecnologia da fornecedora alemã.
A atravessar um grande pico de produção devido a uma nova legislação que obriga à renovação, até setembro, do portfólio de todos os produtos europeus da área que desenvolve e produz soluções de água quente, a fábrica de Aveiro tem atualmente oito mil aparelhos a sair por dia das suas portas.
A digitalização também está a chegar à equipa da Bosch em Aveiro, refere Jónio Reis, apontando para um robot autónomo que transporta materiais das linhas de embalagem para os armazéns e dos armazéns para as linhas de montagem.
Com os cinco robots da divisão pretende criar-se uma geração mais automatizada e com menos operadores, no entanto, o responsável esclarece que o objetivo não é o de “substituir as pessoas por máquinas, mas antes libertá-las de tarefas rotineiras e que não gostem tanto de fazer”.
É também na área da Termotecnologia que estão a ser desenvolvidas e produzidas soluções inovadoras, focadas na conectividade, eficiência energética e em casas inteligentes e sustentáveis, sendo a única fábrica da Bosch que produz esquentadores elétricos instantâneos.
Outro dos focos da equipa de I&D em Aveiro é o desenvolvimento de software para plataformas web e mobile para várias áreas de negócio da Bosch e cuja estratégia tecnológica prioritária passa pelo conforto, por uma eficiência energética de 100% e pela facilidade de utilização quer para o consumidor, quer para o instalador.
Também o site de Ovar teve um “desenvolvimento positivo e contribuiu para a consolidação do negócio no nosso país”, afirmou Javier González Pareja, presidente da Bosch em Portugal e Espanha.
A área de Tecnologias de Edifícios, responsável por desenvolver sistemas de segurança e comunicação, soluções para deteção de incêndio e novos equipamentos eletrónicos para as divisões de Termotecnologia e Eletrodomésticos da empresa em todo o mundo, gerou 26% do total de volume de vendas em 2017.
Há mercado para os engenheiros, mas não há engenheiros para o mercado
Atualmente com mais de quatro mil colaboradores (4.450), a Bosch é um dos maiores empregadores em Portugal. Tendo criado 480 novos postos de trabalho no ano passado, a empresa quer continuar a recrutar em 2018 para reforçar as equipas de I&D compostas por mais de 560 engenheiros em Aveiro, Braga e Ovar.
Apesar do investimento de mais de 25 milhões de euros em investigação e desenvolvimento de novas tecnologias em Portugal, não tem sido fácil encontrar perfis especializados nas áreas de software, eletrónica, hardware, mecânica e física, entre outras.
“Temos emprego para centenas de engenheiros, o mercado é que não tem engenheiros para nos dar e isso pode tornar-se um problema no futuro”, alertou o representante da Bosch em Portugal, Carlos Ribas.
“Começa a haver dificuldades”, disse, explicando que a procura nacional e internacional de engenheiros formados em Portugal tem vindo a aumentar e que “há escassez na Europa”, pelo que as empresas têm atraído recursos humanos portugueses para vários mercados, disse, salientando que tal está a estender-se a outras partes do mundo.
E nem mesmo as parcerias em investigação e desenvolvimento que a Bosch mantém com várias universidades portuguesas, entre as quais as do Minho, Aveiro e Porto, conseguem colmatar essa falta de mão-de-obra qualificada.
Apesar da aproximação das universidades às empresas de modo mais efectivo, por um tempo que permita cimentar essas relações, ser um grande foco, com a parceria entre a Bosch e a Universidade do Minho a ter aberto um novo caminho nas relações entre a indústria e as instituições de ensino, o mercado das competências continua a ter pouca oferta.
Isso representa um desafio que a Bosch tenta ultrapassar fazendo recrutamento em outros mercados “onde provavelmente ainda existem alguns recursos”, como a Venezuela, Paquistão, Índia ou Angola.
Estratégias como a oferta de melhores benefícios ou a possibilidade de trabalhar remotamente também são adotadas pelo grupo alemão, mas Carlos Ribas assume que o que pode “ajudar a cativar mais os colaboradores é dar-lhes um projeto que os cative”.
Para 2018, os objetivos da Bosch são claros e, apesar do difícil contexto económico, a empresa espera que o volume de vendas cresça 2% a 3%, reconhecendo que não é possível “continuar a crescer entre 20% a 30% por ano”.
A ideia para este ano será, então, estabilizar, consolidar e fazer mais investimento em I&D que passará pela expansão das equipas e pelo aumento da divisão de Braga em 21 mil metros quadrados.
“Vamos crescer tanto quanto o mercado nos permitir crescer”, afirmou Carlos Ribas, sublinhando que o objectivo é que se continue a “fazer no nosso país aquilo que não se faz em mais lado nenhum”.
Nota da redacção: A notícia foi actualizada com mais informação e foi feita uma pequena correcção.
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