"Dada a controvérsia política causada pela escolha de um cidadã não europeu para ocupar este cargo e a importância para a Direção-Geral da Concorrência de ter o apoio total da União Europeia (...), considerei que o melhor era desistir", escreveu Fiona Scott Morton numa carta enviada à Comissária Europeia Margrethe Vestager.
A desistência de Scott Morton foi anunciada hoje pela Comissária Europeia Margrethe Vestager. "Fiona Scott Morton informou-me da decisão de não aceitar o cargo de Economista-Chefe da Concorrência. Aceito este facto com pena", declarou Vestager numa mensagem que difundiu hoje através da rede social Twitter.
A eventual nomeação de Fiona Scott Morton, antigo membro da administração Obama nos Estados Unidos, e antiga consultora das empresas norte-americanas Amazon, Apple e Microsoft, causou polémica em Bruxelas.
Na terça-feira, o Presidente francês Emmanuel Macron manifestou as "dúvidas" sobre a nomeação. Macron, que falou em Bruxelas à margem da cimeira dos 27 Estados-membros com os países da América Latina e Caraíbas, tinha reunido antes com a vice-presidente do executivo europeu, Margrethe Vestager, que defendeu anteriormente este recrutamento perante o Parlamento Europeu.
Para Macron, se não existe “nenhum investigador [europeu] deste nível para ser recrutado pela Comissão, isso significa que existe um problema muito grande com todos os sistemas académicos europeus”. O governante francês sublinhou ainda a ausência de reciprocidade por parte dos Estados Unidos e da China para nomear europeus, que estariam "no centro das [suas] decisões".
Os políticos, sobretudo em França, criticaram as anteriores funções de Scott Morton como responsável pela análise económica na Divisão Antitrust do Departamento de Justiça dos Estados Unidos, entre 2011 e 2012, e como consultora de grandes grupos tecnológicos.
Para os políticos europeus mais críticos podiam vir a verificar-se possíveis conflitos de interesses e o risco de Washington interferir nas decisões da União Europeia.
Na sexta-feira, a Comissão Europeia rejeitou o pedido do Governo francês para cancelar a candidatura da professora de Economia da Universidade de Yale, Estados Unidos.
Margrethe Vestager realçou anteriormente que Scott Morton exerceu os seus cargos como consultora, mas “nunca como lobista”. No entanto, reconheceu que haverá alguns processos nos quais Scott Morton não poderá estar envolvida para evitar conflitos de interesse.
Mas “são pouquíssimos casos, no máximo um punhado”, destacou, recusando-se a revelar a lista por questões de confidencialidade, apesar da insistência por parte de vários eurodeputados.
A abertura da vaga a candidatos não europeus constava do anúncio publicado em março, explicou ainda, justificando esta escolha pela escassez de competências disponíveis. A Comissão recebeu apenas 11 candidaturas, quatro das quais cumpriram os critérios de seleção, realçou a comissária da Concorrência.
A poderosa Direção-Geral da Concorrência é responsável por assegurar o bom funcionamento da concorrência na UE e, em particular, por investigar os abusos de posição dominante por parte dos gigantes tecnológicos, que resultaram em multas recordes nos últimos anos.
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