Foi a 1 de janeiro de 2022 que Andrés Ortolá assumiu o cargo de diretor geral da Microsoft Portugal, substituindo Paula Panarra na direção da sucursal portuguesa da empresa de tecnologia. Com duas décadas de experiência na indústria de Tecnologias de Informação, o gestor já dirigiu a Microsoft nas Filipinas, liderou a área de clientes empresariais em Singapura e passou por outras empresas no Médio Oriente e África, entre as quais a IBM e a Quest Software. Um ano depois de “aterrar” em Portugal partilhou com o SAPO TEK uma visão optimista sobre o caminho que o país está a fazer no digital, mas defende que é preciso fazer mais.

“Em termos de oportunidade, o que Portugal tem de incrível é a disponibilidade e a qualidade do talento, que é impressionante, e também o desejo real de transformar e melhorar. Talvez os bloqueios estejam mais nos processos, na forma como as pessoas decidem avançar e a velocidade a que o fazem, o que pode ser o principal obstáculo para fazer as coisas acelerar”, defende Andrés Ortolá.

Mesmo assim o diretor geral da Microsoft Portugal admite que há um problema de literacia e liderança digital.

“Os líderes das PME ainda não são líderes digitais, mas isso vai acontecer, tem de acontecer, precisa de acontecer. Nas nossas sociedades mesmo as PME estão em transformação digital dos negócios e é algo que tem de evoluir”, avisa Andrés Ortolá.

Este é o caminho que Andrés Ortolá acredita que deve ser seguido. “Tentamos promover a liderança digita, temos investido em formação e uma em cada cinco pessoas ativas em Portugal está formada em tecnologia Microsoft. Queremos ir mais longe e focar mais em formação, e mentoria dos líderes digitais”, sublinha, adiantando que os gestores das empresas têm de entender a oportunidade da tecnologia e o que podem atingir em eficiência, competitividade e capacidade de chegar a mercados internacionais.

Um ano de liderança da operação em Portugal deu ao gestor uma visão clara sobre o mercado e o processo de transformação digital. E também sobre os investimentos que estão em curso.

“O PRR [Plano de Recuperação e Resiliência] é uma oportunidade de uma vida para o país, para usar este investimento e criar projetos sustentáveis. O que vamos construir ajuda-nos no futuro”, explica, admitindo que “já há fundos a serem usados nesse sentido, mas provavelmente devíamos fazer mais, com soluções que melhorem a vida dos cidadãos, a acessibilidade a serviços, a produtividade das empresas e a digitalização das pequenas e médias empresas”.

Há coisas que estão a funcionar bem e que são únicas em Portugal, e é preciso continuar a incentivar as empresas que nascem digitais, percebemos que têm necessidade específicas, e que crescem a um ritmo diferente”, refere Andrés Ortolá, lembrando que a Fábrica de unicórnios criada em Lisboa é um bom exemplo.

“A oportunidade está cá e temos o talento, podemos chegar a mercados que não há muitos outros que podem abordar […] estou muito optimista sobre a direção que estamos a seguir”, destaca o diretor geral da Microsoft Portugal.

Um estudo encomendado pela Microsoft que vai ser revelado em fevereiro indica que o impacto da empresa na economia portuguesa ultrapassa os 4,9 mil milhões de euros, o que corresponde a 2,4% do PIB. “É um número grande e mostra que estamos no caminho certo. Esperamos que no próximo ano seja maior”, defende, indicando que este é um valor que corresponde a um ecossistema Microsoft que envolve mais de 3.700 parceiros.

Reformulação e despedimentos em análise

Nos últimos cinco anos a Microsoft Portugal duplicou a dimensão do negócio em Portugal, acelerou a transformação para a Cloud e aumentou a equipa, acolhendo 1.000 novos colaboradores e fazendo crescer o número de profissionais para 1.400.

O anúncio recente de que a empresa vai despedir 10 mil pessoas a nível global e uma queda de 12% nos lucros foram também abordados na conversa, mas Andrés Ortolá diz que ainda não tem pormenores para partilhar.

“O nosso negócio está a crescer de forma saudável, mas fazemos análise das áreas de investimento com frequência, e vamos fazer em breve”, explica.

Apesar de não ter informação concreta para partilhar, o diretor geral afirma que “podemos garantir que o processo vai acontecer com total transparência e tomando conta das pessoas e que a procura de talento que temos em Portugal se vai manter. É apenas um ajustamento da estratégia”.

Inovar para continuar a avançar

O gestor acredita que o contexto atual da economia e também o geopolítico têm de ser considerados numa equação de crescimento onde é necessário inovar para ultrapassar o atual estado de estagnação. Mas lembra também que nos últimos 100 anos a tecnologia nos permitiu evoluir a um nível excelente, mas que estamos a chegar a um ponto de maior estagnação.

“Estamos a chegar a um ponto em que precisamos de evoluir para o próximo nível”, afirma Andrés Ortolá, defendendo que é preciso abrir novas fronteiras na computação quântica, com novos modelos de produção energética como está a acontecer com a fusão nuclear. “Estes são grandes avanços que nos vão ajudar a continuar a inovar”.

Mesmo sublinhando que já temos ferramentas que nos podem ajudar a dar passos importantes, para tornar qualquer negócio mais eficiente, sustentável e produtivo, aumentando o retorno das organizações, é através do software que se vai realizar a próxima revolução industrial.

Estas foram ideias que defendeu também na sua intervenção no palco do Building the Future 2023, a conferência que se realizou nos dias 25 e 26 de janeiro e que reuniu mais de 15 mil participantes, um número somado entre o evento presencial no Pavilhão Carlos Lopes em Lisboa, e as visualizações online, que este ano eram abertas e gratuitas.