O co-fundador e ex-CEO da FTX, Sam Bankman-Fried, foi detido nas Bahamas a pedido das autoridades norte-americanas, revelou o procurador-geral do arquipélago Ryan Pinder, prometendo para esta terça-feira mais detalhes sobre as acusações que fundamentam o pedido de detenção, enviado pelo Estado de Nova Iorque. Entretanto, o The New York Times avançou já que as suspeitas na base do pedido de detenção são de fraude e lavagem de dinheiro.

O passo seguinte deve ser um pedido de extradição do empreendedor para os EUA, embora as autoridades das Bahamas já tenham confirmado que têm também em curso uma investigação à falência da FTX.

Bankman-Fried tem 30 anos e residência nas Bahamas, onde também estava a sede da FTX, que no passado dia 11 de novembro abriu falência, deixando dívidas por liquidar a milhares de credores. Segundo algumas contas, o número pode ascender a um milhão de credores e a dívida a 8 mil milhões de dólares, mas para já foram reconhecidos 3 mil milhões de dólares em dívidas aos 50 maiores credores.

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O colapso da FTX começou depois do falhanço do negócio com a Binance, que desistiu da fusão com a corretora de criptoativos depois de uma análise mais rigorosa às contas da empresa. Quando Changpeng Zhao, CEO da Binance, anunciou a suspensão do negócio e mostrou dúvidas em relação à solidez da empresa, que já tinha sido avaliada em 32 mil milhões de dólares, os utilizadores do serviço começaram a tentar recuperar os fundos sob custódia da corretora, que não teve forma de atender todas as solicitações. Em 72 horas foram resgatados 6 mil milhões de dólares em investimentos.

A detenção do ex-CEO da FTX acontece um dia antes da audiência com o Congresso dos EUA, para explicar o colapso da plataforma. No documento da intervenção, ao qual a Reuters alegadamente terá tido acesso, Bankman-Fried iria dizer que foi pressionado para aceitar uma reestruturação e uma nova direção para a empresa pelo escritório de advogados Sullivan and Cromwell e para recusar uma proposta de financiamento entretanto recebida.

Já depois do colapso da FTX, Bankman-Fried fez várias intervenções públicas onde admitiu erros de gestão, garantindo no entanto que não cometeu fraudes, tema que provavelmente dará mote aos processos que terá agora pela frente. Segundo ele, o colapso da empresa foi precipitado pela retirada massiva e simultânea de ativos da FTX que reduziram quase a metade a garantia disponível, mas também por outros fatores externos nos últimos meses, como a desvalorização dos criptoativos ou o custo e dificuldade de acesso ao crédito.

As informações vindas a público nas últimas semanas indicam que uma grande quantidade de fundos terão sido desviados da FTX para outra empresa do grupo, a Alameda, sem autorização dos titulares e há também informações que apontam para o desaparecimento de parte destes ativos, cerca de 1.000 milhões de dólares, segundo fontes contactadas pela Reuters. Refere-se aliás que a crise de liquidez da plataforma teve precisamente origem no desvio de 10 mil milhões de dólares em fundos de clientes FTX para a Alameda.

A nova gestão da FTX, agora liderada por John J. Ray III, que já conduziu outros processos de insolvência em grandes empresas, como a Enron, também já assumiu que a FTX operava sem os devidos controlos financeiros. John Ray é ouvido esta terça-feira pelo Congresso, numa audiência que permanecesse agendada.