Na sexta-feira passada, a Ford anunciou que vai cortar ou suspender a produção em oito fábricas da América do Norte (Estados Unidos, México e Canadá) por causa da escassez de chips. A medida, que já não é a primeira vez que a empresa se vê obrigada a tomar, é também agora justificada com a escassez de chips, que não permite manter as linhas de produção a funcionar ao ritmo normal. A Toyota também já admitiu que este mês, nos Estados Unidos, produzirá menos 25 mil a 30 mil carros, face ao previsto.
Ainda assim, várias são as empresas do sector que já apresentaram previsões mais otimistas para a segunda metade do ano, com a convicção de que, a partir daí, a escassez destes componentes dê tréguas e o mercado vá finalmente estabilizando. General Motors, Ford Motor e Hyundai Motor estão entre as empresas que já anteciparam previsões nesse sentido.
A GM espera melhorias significativas a partir do segundo semestre e a Hyundai aponta para uma normalização das cadeiras de abastecimento, a partir do terceiro trimestre. Empresas como a Volkswagen nem sequer prevêem novas limitações aos planos de produção para este ano, por causa da falta de chips.
Entretanto, a Infineon reafirmou na última quinta-feira, numa conferência telefónica com investidores, que também prevê um aumento da oferta a partir do segundo semestre, mas sublinhando que esse crescimento não chegará ao mesmo ritmo a todos os segmentos. No que se refere aos processadores mais usados pela indústria automóvel, a oferta continuará escassa. “As limitações na oferta estão longe de ter acabado e vão persistir bem em 2022”, referiu Reinhard Ploss, CEO da empresa, citado pela Reuters.
As previsões de outros fabricantes, como a NXP ou STMicroelectronics não são muito diferentes e apontam a verdadeira recuperação para depois de 2022. No caso desta última, a expectativa é de que o equilíbrio entre oferta e procura não regresse antes de 2024, ou 2025.
A demora não tem a ver com a falta de investimento, há muito a ser feito um pouco por todo o mundo, a Ford, por exemplo, anunciou uma parceria com a GlobalFoundries para reduzir a dependência da gigante TSMC e trazer a produção dos chips que usa para os EUA. Tem sobretudo a ver com o tempo necessário para construir uma fábrica e para conseguir pô-la a funcionar, ao máximo da sua capacidade.
Entretanto, os Estados Unidos mantêm o plano de inundar a economia com muitos milhões de dólares para fazer do país A referência mundial na produção de chips, mas as divergências entre cores políticas sobre a forma de fazê-lo, ameaçam o grande plano de investimento aprovado no final da semana, de chegar a algum lado.
No final da semana passada a Câmara dos Representantes aprovou uma lei com um orçamento de 300 mil milhões de dólares para investir na indústria dos semicondutores e reforçar a capacidade industrial do país nesta área.
O problema é que Democratas e Republicanos não estão de acordo com as medidas necessárias para transformar a visão em realidade e é preciso converter o texto agora aprovado numa proposta que o presidente Joe Biden transforme em Lei.
Os republicanos defendem que o pacote apresentado e aprovado é despesista. Coloca o país a gastar mais que a própria China nesta área e dá demasiada atenção e recursos a temas que não são vistos como críticos para o principal objetivo. Defendem ainda que faltam medidas concretas à proposta, para penalizar a China pelas práticas de mercado menos legítimas nesta área.
O America COMPETES Act de 2022 prevê uma série de subsídios para a indústria - 52 mil milhões de dólares só para apoiar o design e produção de chips e outros 45 mil milhões para reforçar a cadeia de abastecimento nas áreas mais críticas. Também prevê investimento em I&D na área dos semicondutores, programas de incentivo à formação em STEM ou aumento dos fundas para a Fundação Nacional da Ciência
O New York Times garante que os republicanos não vão deixar passar a proposta por a consideraram demasiado fraca e apostada em programas supérfluos na área da conservação ou energias limpas. Biden já apelou aos deputados que se entendam e acelerem o texto final, para que o programa possa ser aprovado e operacionalizado.
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