Este ano a SAP marcou a sua conferência de programadores e tecnologia em Bangalore, na Índia, e a opção não é de estranhar. O país é um dos que apresenta um crescimento económico invejável, está entre os líderes na tecnologia, quer ser a capital da Inteligência Artificial e faz também parte dos que estão a crescer a ritmo acelerado na utilização de software empresarial. Os dados partilhados mostram que os produtos SAP “tocam” mais de 60% do Produto Interno Bruto (PIB) da Índia e não faltam exemplos de empresas que estão a usar as soluções de negócio para transformar processos, melhorar a eficiência e abarcar novos desafios.
No SAP Labs em Bangalore, o segundo maior da SAP no mundo, o SAPO TEK teve oportunidade de assistir a várias demonstrações de soluções que estão em desenvolvimento nas áreas de cloud, inovação e Inteligência Artificial, mas também de produtos criados com a Business Technology Platform (BTP), entre os quais uma aplicação feita em parceria com o novobanco para calcular o impacto das decisões dos clientes do banco português na pegada de carbono. A SAP tem cinco laboratórios de desenvolvimento na Índia, reunindo mais de 14 mil colaboradores em Bangalore, Pune, Mumbai, Gurgaon e Hyderabad, e Sindhu Gangagharan, Senior Vice President eManaging Director, da SAP Labs defende que a IA generativa representa um potencial enorme de desenvolvimento para toda a organização.
Os temas de inovação, transformação de negócio e cloud mantêm-se na agenda da SAP mas é a Inteligência Artificial Generativa que domina a atenção e os anúncios no TechEd, à semelhança do que tem acontecido com outras grandes tecnológicas. Juergen Mueller, Chief Technology Officer (CTO) da SAP admite que a empresa quer diferenciar-se pela aposta numa IA Generativa de negócio e que pretende ser líder nesta área, com a adoção dos clientes das soluções de IA Generativa e a criação de valor de negócio. O entusiasmo com o potencial da IA Generativa não está apenas nos palcos das apresentações e entrevistas, mas sente-se também nas conversas com os clientes e os programadores no campus da empresa, onde o foco já está na forma como a tecnologia pode transformar o desenvolvimento de aplicações e de processos.
Numa conferência de imprensa de preparação para o TechEd, Juergen Mueller lembrou que a Inteligência Artificial funciona dentro das aplicações da SAP e não como um elemento adicional, e que a SAP está a construir as soluções de IA Generativa com base na experiência que tem da “narrow IA”, ou seja a IA “tradicional”, já com vários anos. “Trabalhamos com Machine Learning há mais de oito anos e também com modelos de linguagem mais pequenos. O ChatGPT veio trazer atenção para este espaço”, admitiu o CTO da SAP.
Mas a companhia alemã diz que não perdeu terreno, só que não está nas mesmas áreas de outras concorrentes, como a Microsoft, a IBM ou a Google, que também são também parceiras de desenvolvimento e plataformas. Juergen Mueller adiantou que mais de 24 mil clientes da SAP já usam IA e que a empresa tem mais de 130 aplicações com Inteligência Artificial, que se somam a 360 apps “embebidas” em IA desenvolvidas por parceiros.
“Estamos mais perto do Santo Graal da IA generativa quando combinamos os Large Language Models (LLM) com os dados em tempo real das empresas […] é uma proposta de valor diferenciada”, sublinha Juergen Mueller.
A confiança que os clientes têm na SAP para gerir os seus processos de negócio críticos e a integração de dados de negócio, com informação valiosa para treinar os grandes modelos da IA Generativa, são a combinação que Juergen Mueller acredita que faz sentido para as empresas, que olham para a tecnologia como uma forma de transformar e melhorar os seus negócios. “A IA Generativa precisa de capacidade de computação e de algoritmos, que estão a tornar-se mais baratos e acessíveis. Os dados de negócio fazem a diferença e ninguém tem acesso a estes elementos como a SAP”, justifica.
Veja as imagens do TechEd e do SAP Labs em Bangalore
Para sustentar a estratégia de aposta na IA de negócio a SAP está a anunciar no TechEd 23 vários desenvolvimentos das soluções, entre as quais estão novidades para os programadores, integração de IA generativa na SAP HANA Cloud e uma plataforma integrada de desenvolvimento de extensões e aplicações, a AI Foundation. O Joule, anunciado em setembro, que a SAP diz que é o “único co-piloto que realmente entende o negócio”, está na base de algumas das novidades, mas há mais desenvolvimentos, com um novo Vector Engine para o SAP HANA Cloud e parcerias com várias empresas para integração de diferentes modelos de linguagem (LLM).
E como é que estes desenvolvimentos vão beneficiar as empresas? Os resultados vão medir-se em “verdadeiras poupanças” como defende Julia White, Chief Marketing and Solutions Officer, que partilhou exemplos de clientes que já estão a usar as soluções com IA Generativa.
“Um dos nossos primeiros projetos piloto foi na área de transportes e logística e só ao aplicar a IA na entrada e saída e movimentação de camiões no armazém foi possível poupar mais de um milhão de dólares por ano, por armazém. E temos clientes com vários armazéns”, justifica Julia White.
A executiva partilhou ainda o exemplo de um caso onde a IA foi aplicada na verificação de faturas e pagamentos que permitiu melhorar a validação de 30 para 54%, aumentado o valor para o negócio e criando novas oportunidades.
Desenvolvimento mais rápido e integração de dados não estruturados
Depois de ter apresentado o SAP Build em 2022, também no TechEd, a SAP avança agora com o SAP Build Code, com a integração de IA generativa para apoiar o desenvolvimento de aplicações. Nas demonstrações realizadas ainda antes do TechEd há vários exemplos de como com alguns prompts é possível criar aplicações dentro da plataforma SAP, reduzindo de uma semana para um dia o tempo de desenvolvimento e testes. O “copiloto” Joule é um dos elementos base, ajudado por outras ferramentas de produtividade para os programadores na geração de código, desenvolvimento da lógica das aplicações e no teste dos scripts.
O SAP HANA Cloud tem também novidades na adição do Vector Engine, uma nova base de dados de vectores para garantir contextualização aos modelos de IA generativa e estender a utilização de dados aos textos, imagens e áudio. A informação fica mais fácil de encontrara e relacionar, dando acesso a dados críticos da organização num enquadramento seguro e com acesso reservado, o que pode reduzir o desenvolvimento de alucinações. A solução foi desenvolvida internamente na SAP e deverá estar disponível no primeiro trimestre de 2024.
Juergen Mueller diz que este é o anúncio mais relevante depois do SAP S/4HANA,e o potencial é enorme, ultrapassando algumas das limitações dos outros modelos de LLM, que não têm acesso a informação recente nem aos dados mais relevantes das empresas.
Veja o vídeo
Um terceiro anúncio está relacionado também com a criação de uma plataforma integrada de desenvolvimento de extensões e aplicações baseadas em IA generativa na SAP BTP. A AI Foundation é uma base que os programadores podem usar para acelerar este desenvolvimento, com acesso a diferentes modelos de linguagem (LLM) que podem se aplicados e combinados na plataforma conforme os casos de uso, naquilo que a SAP designou como Gen AI Hub, que vai estar disponível em dezembro deste ano.
“Os vários LLM têm qualidades diferentes e queremos ter sempre os melhores para os diferentes casos […] e estamos também a treinar o nosso modelo fundacional com base em dados SAP e no universo SAP”, explica Juergen Mueller.
A tecnológica está também a trabalhar com o Institute for Human-Centered AI da Universidade de Stanford, com quem foi assinado um acordo de cooperação que envolve a comunidade académica e a investigação, focada na interligação da IA generativa e do negócio.
Estas são apostas que podem dar frutos nos próximos meses, até porque todo o sector está a acelerar com a IA generativa e o impacto percebido nas várias áreas do trabalho e das empresas. “A integração da IA generativa cria novas oportunidades, não queremos pensar numa solução única e estamos a integrar o Jules a todo o portfólio e é uma oportunidade para alargar o impacto em todas as áreas”, destacou também Thomas Saueressig, SAP Product Engeneering.
O certo é que há clientes que não querem perder tempo na adoção da nova tecnologia e no TechEd a SAP mostrou vários exemplos, de diferentes sectores, como a HCLTech, a brasileira SDW e a Hitachi. A Henkel é também cliente SAP e colocou a Inteligência Artificial como prioridade no seu desenvolvimento de negócio. "Nos últimos 3 anos a SAP BTP foi a nossa plataforma de inovação e estou muito impressionado com o que a SAP está a fazer com a IA generativa", afirmou Michael Nilles, Chief Digital and Information Officer da Henkel.
“A IA está a vir mais rápido e o impacto é massivo […] acreditamos que é importante sermos primeiros na adoção e não seguidores e por isso é uma prioridade estratégica”, destacou durante a conferência de imprensa.
A empresa alemã de produtos químicos quer usar a IA nas áreas de produtividade, crescimento de negócio e de inovação para se diferenciar face à concorrência e fez uma parceria estratégia com a SAP, desenvolvendo já um caso de utilização com optimização de promoção comercial, “uma atividade que movimenta vários milhões de dólares”.
Nota da Redação: A jornalista viajou para Bangalore a convite da SAP. A informação foi atualizada durante o keynote do TechEd 23. Última atualização 6h07
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