A transformação dos processos, a transparência da cadeia de abastecimento e a sustentabilidade - ou será melhor dizer a ESG, sigla válida para Environmental, Social and Governance - marcam a estratégia atual da SAP, no ano em que empresa de software assinala o seu 50º aniversário . Assim ficou demonstrado no recente SAP Sapphire em Madrid, e foi depois reforçado pelo SVP & General Manager da SAP SEFA, em entrevista ao SAPO TeK.
ESG foi precisamente o tema que levou João Paulo da Silva ao palco do evento anual da gigante alemã, onde detalhou a história de uma parceria para a criação de um sistema que fez da Navantia a primeira entidade pública em Espanha a criar um sistema de contabilidade de sustentabilidade, que abrange relatórios de Scope 1, 2 e 3 e todos os KPIs de ESG, para chegar ao objetivo de zero emissões e, mais para a frente, avançar para a criação de uma rede de parceiros verdes.
Já na entrevista ao SAPO TeK, o responsável falou de como “ainda estamos todos a aprender” mais sobre as questões do ambiente, da responsabilidade e da governance, apontou as soluções que a empresa já apresenta e destacou a falta de concorrência perante a “a abrangência da SAP” neste mercado.
Acima de tudo, a SAP tem soluções para qualquer tipo de empresa, independentemente da sua dimensão, garantiu João Paulo da Silva, que também sublinhou a importância da rede de parceiros, falou sobre a aposta em novas tecnologias como blockchain ou realidade estendida, mencionou as consequências da pandemia e contou que já se vende mais cloud do que on premise, confessando que está consciente de que o mundo vai ser híbrido.
SAPO TeK: A sustentabilidade é uma “intenção” de todos e em tudo neste momento. Como é que se passa de buzzword à prática?
João Paulo da Silva: A sustentabilidade parece realmente uma buzzword que às tantas se vai queimando um pouco. Por isso gosto de falar em ESG [environmental, social and governance], porque é um pouco mais amplo e mais correto.
Está bem em sermos sustentáveis, mas se não tivermos um ambiente social adequado não seremos sustentáveis. Se não houver um conjunto de governance associado também não seremos sustentáveis. Pensar só numa componente verde da questão é limitativa, por isso gosto de falar em ESG porque temos de endereçar estes três pilares de forma adequada.
Neste momento todo o mercado está a avançar e está a aprender. A grande diferença é que no passado as empresas trabalhavam de forma autónoma e o Estado não se “metia” muito, e o que vemos hoje é o estado a ser interventivo - e parece-me correto -, criando mecanismos de discriminação positiva ou negativa para premiar ou castigar comportamentos.
Ainda estamos todos um pouco a aprender e a nossa abordagem é que nada vai funcionar se não entrar no mainstream das empresas ou do mercado: não se deve ter um sistema em que se mede apenas uma pequena parte…
A abordagem que temos aos nossos clientes é que enquanto estes três pilares da sustentabilidade, de social e de bom governo não forem embebidos na empresa isto não “entrará” de forma normal.
SAPO TeK: Mas sentem que as empresas estão conscientes da importância de terem uma estratégia nesta área?
João Paulo da Silva: Consciência sustentável já têm porque já lhes dói na conta de resultados se não a tiverem. A questão é como o podem fazer de forma mais ágil e mais inteligente, porque qualquer decisão que se tome hoje em dia tem impacto nas receitas da empresa, nos custos da empresa, mas também na componente mais de social, de governance. Há várias dimensões que têm de ser olhadas em conjunto sob o risco de termos uma visão redutora.
SAPO TeK: Entretanto que soluções nesta área já apresentam aos vossos clientes? Como olham para a concorrência?
João Paulo da Silva: Na parte ambiental temos todo o tracking da pegada de carbono das empresas; na parte social temos o nosso software de recursos humanos e proteção de género ou uma plataforma de compras em que é possível decidir como queremos orientar o nosso volume de gastos em compras para efeitos sociais ou definir políticas globais para a empresa relativamente à renovação da frota automóvel para a compra de carros elétricos.
Se olharmos para estes três pilares [Environmental, Social and Governance] de forma holística temos soluções para todos eles. Se olharmos de uma forma holística também não há nenhuma empresa que tenha um footprint tão amplo como o nosso nas empresas: estamos nas fábricas, estamos nos bancos, 88% do comércio mundial passa pelos nossos sistemas… Não há nenhum concorrente que tenha a nossa abrangência.
SAPO TeK: Temas como blockchain, inteligência artificial, realidade estendida ligam bem com a sustentabilidade?
João Paulo da Silva: Sim. Temos algumas coisas nossas e outras dos nossos parceiros.
Estamos a trabalhar em todas estas tecnologias e é apaixonante como está a evoluir. Estamos a incorporar blockchain, IA, realidade aumentada nas nossas soluções precisamente para reduzir a pegada de carbono.
SAPO TeK: Saindo da sustentabilidade - ou melhor dizendo, das dimensões ESG - e analisando as questões mais gerais de mercado, como olha para Portugal neste momento? Como acha que evoluiu nos últimos anos com uma pandemia pelo meio?
João Paulo da Silva: A pandemia trouxe-nos a capacidade de podermos repensar aquilo que estamos a fazer e ajustarmos as coisas em muitas dimensões.
Portugal sendo um país mais pequeno pode ter a vantagem de conseguir inovar mais fácil e rapidamente. A menor dimensão também pode resultar em alguma fragilidade em termos de crescimento no mercado dessas inovações.
Em termos de crescimento económico temos visto uma aceleração do negócio. Apesar da pandemia fez um excelente ano. Há sempre quatro, cinco empresas mais importantes que marcam um pouco o ritmo do mercado, mas depois temos um volume de cerca de 70% do negócio que vem de PMEs. Temos uma grande rede de parceiros que nos ajuda a estarmos junto dos clientes.
Sinto que há uma agenda forte em Portugal com o Web Summit, por exemplo, foi algo que deu um grande contributo. Hoje vemos o WSJ ou o Los Angeles Times a falarem de Portugal. Tudo isso vem de uma dinâmica que se está a criar, de uma brand à volta do país, em hubs de inovação que estão a ser criados, que considero serem muito sãos e que se continuarmos a fazer as coisas bem, vão perdurar por muitos anos.
SAPO TeK: E a SAP ressentiu-se com a pandemia?
João Paulo da Silva: Aproveitámos para mudar muitas coisas. Em termos de gestão do talento, de flexibilização, foi incrível como é que continuámos a operar a entregar projetos remotamente.
Houve um trabalho de racionalização e simplificação do portfólio. O que quer dizer que temos milhares de componentes de software, nalguns casos esses milhares são utilizados e noutros casos são pouco utilizados. Temos a ter um custo de manter algumas componentes que não são tão utilizadas que podemos simplificar também.
Aproveitámos para incorporar novas tecnologias, acelerar a integração do blockchain, a componente ambiental. Aproveitámos também para repensar um pouco aquilo em que podíamos ser mais ágeis poder operar de forma global.
SAPO TeK: Como está a cloud neste momento?
João Paulo da Silva: Hoje já vendemos muito mais cloud do que on premise. Os clientes percebem que se querem ter mais agilidade maior flexibilidade, se querem acrescentar inovação cumprir com os seus critérios de ESG, de ratings de sustentabilidade, têm de ir nessa direção também.O nosso dia a dia já é a cloud.
Uma coisa é certa, temos consciência de que o mundo vai ser hibrido. Haverá clientes que ainda vão querer alguns sistemas on premise, por razões de segurança, por terem sistemas críticos de defesa, de saúde.
A SAP, pela sua dimensão de clientes, vai ter sempre os dois mundos. Agora é certo que quando há uma inovação onde é que ela vai sair primeiro? Na cloud.
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