Na altura em que os três operadores móveis portugueses se estão a preparar para lançar serviços de quarta geração móvel, o 4G, grande parte dos clientes ainda recorrem sobretudo às redes de segunda geração (2G) para suportar as suas comunicações, mantendo muitos deles terminais que nem suportam a tecnologia de terceira geração (3G). O preço dos equipamentos e a falta de necessidade e interesse nestes serviços – sobretudo para quem usa maioritariamente voz - são elementos chave que justificam esta falta de evolução.

Embora os números de utilizadores de 3G continuem a crescer, de forma lenta, no final do ano passado a Anacom estimava que ultrapassassem apenas os 4 milhões, num mercado onde existem mais de 16,8 milhões de contas móveis ativas, entre telemóveis e outros cartões usados para acessos móveis.

A situação é semelhante por toda a Europa, mas já há países onde o fim da rede 2G tem data marcada, nomeadamente Macau, que em Junho deste ano desliga as antenas de segunda geração e passa a operar apenas com 3G. Os serviços de terceira geração foram lançados em 2007 nesta região administrativa, mas o concurso previa que se os operadores detivessem licenças 2G estas seriam desativadas.

Segundo os Serviços de Regulação de Telecomunicações (DSRT) de Macau, existem ainda mais de 160 mil utilizadores de 2G, apesar destes terminais deixarem de ser vendidos desde 2010 e as operadoras estarem a trabalhar em planos de migração dos clientes para o 3G.

Este cenário está longe de se colocar em Portugal. As licenças de 2G, para tecnologia GSM) não têm um fim próximo e os operadores continuam a investir nas redes de segunda geração, em conjunto com os serviços de 3G (UMTS) e de 4G (LTE). Os terminais de segunda geração também continuam a chegar às lojas a preços bastante atrativos para quem pretende apenas serviços básicos de comunicações móveis, estabelecendo uma diferenciação que continua a ser relevante para o cliente final.

A tecnologia 2G (GSM) começou a ser usada em Portugal em 1991 com o lançamento da Telecel, e só em 1992 a TMN avança com esta tecnologia, já que tinha em operação ainda o Serviço Móvel Terrestre, também conhecido como 1G, desde 1989, através de um consórcio constituído pelos CTT e TLP. Só em Janeiro de 2004 arranca oficialmente a tecnologia UMTS em Portugal (o 3G) depois de atrasos da comercialização por toda a Europa, provocados pela crise económica.



Por detrás das siglas há diversas tecnologias, como a UIT (ITU na sigla em inglês) mostra no quadro abaixo.



[caption]2G e 3G tecnologias[/caption]

“A indústria continua a desenvolver equipamentos 2G, sobretudo para clientes cuja utilização fundamental é voz e SMS, ou em que a utilização de dados esperada é baseada em widgets ou tráfego que não sofra grandes restrições pela menor velocidade de download do 2G”, lembra fonte da TMN. A operadora do grupo Portugal Telecom “modernizou toda a sua rede 2G em 2011 para aumentar as sinergias com as redes 3G e 4G do ponto de vista de infraestrutura e para tornar a arquitetura de rede mais eficaz, tendo reduzido esforço operacional e manutenção, com um aumento na eficiência energética global da rede”, e a licença de segunda geração móvel só expira em 2022.

Também para a Optimus o “switch-off de 2G é uma perspetiva de longo prazo, dependente de vários fatores, nomeadamente a massificação de terminais 4G/3G”, explica a Direcção de Comunicação da empresa da Sonaecom. Sem avançar números concretos da percentagem dos seus clientes que ainda usam 2G, fonte da operadora garante que é uma fatia significativa.

A Vodafone é mais concreta nesta avaliação e admite que cerca de dois terços dos clientes de serviços móveis ainda se mantêm na segunda geração. “Por mais que se acelere a migração para 3G, haverá sempre um mínimo de Clientes 2G”, avisa fonte da empresa, que lembra ainda que os equipamentos com comunicação machine-to-machine operam em 2G e que os slientes que visitam Portugal em roaming de países só com 2G também têm necessidade desta rede. “Por tudo isto não é fácil prever quando se desligará a rede 2G mas o objectivo é migrar progressivamente as frequências de 2G para 3G até um limite designado por ‘2G Thin Layer’ que será o mínimo necessário para suportar este tráfego remanescente”, indica a mesma fonte ao TeK.




[caption]Samsung Wave 525[/caption]

O preço dos equipamentos 3G é apontado por todos os operadores como um dos fatores chave para este cenário de domínio do 2G. Para além dos equipamentos de baixo preço – os chamados feature phones – existem mesmo terminais mais avançados e smartphones que dispensam o uso de 3G, como por exemplo o Samsung Wave 525 ou o BlackBerry 8520.

Sem aplicações e utilização de comunicação de dados a tecnologia de segunda geração, introduzida em Portugal em 1991 continua a servir o propósito e necessidades de grande parte dos clientes. A videochamada, que foi apontada como a killer aplication do 3G acabou por não ganhar adeptos, sendo a comunicação de dados o maior motivo para a mudança dos utilizadores para a terceira geração móvel.

São também os dados que os operadores apontam como suporte para a evolução para o 4G. A tecnologia LTE (Long Term Evolution) permite velocidade mais elevadas – que podem para já chegar as 100 Mbps – e um número mais elevado de clientes a utilizar o serviço em simultâneo, para além de uma utilização mais eficiente do espectro ao permitir que uma maior quantidade de dados passe na mesma largura de banda.

Embora os três operadores móveis garantam estar prontos para lançar os serviços 4G comercialmente assim que as licenças forem disponibilizadas, o que deve acontecer em março, só a Vodafone divulgou já os preços dos tarifários de dados para o 4G, com direito a ajustamento na oferta 3G.



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Mesmo assim os leitores do TeK ainda afirmam que os preços da quarta geração móvel são elevados, o que pode ser um desincentivo à mudança.

Por enquanto não existem também no mercado português smartphones 4G, que os operadores esperam que sejam lançados ainda no primeiro trimestre, mas com preços ao nível dos terminais topo de gama, o que não será um grande atrativo à mudança para quem ainda não quis saltar para o 3G.

De qualquer forma, mesmo quando o serviço for lançado comercialmente, as redes 4G ainda vão ter uma cobertura limitada, alargando gradualmente de Lisboa e Porto às principais cidades, e só mais tarde ao resto do território, até porque os operadores ainda esperam a libertação do espectro que deixará de estar alocado à televisão analógica no final de Abril.

E por isso é garantido que o 2G continuará a fazer parte do leque de tecnologias móveis ativas em Portugal durante muitos (e bons) anos…

Escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico

Fátima Caçador

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