O potencial do 5G como acelerador da 4ª revolução industrial já era esperado antes da tecnologia chegar ao terreno e começa a concretizar-se. A largura da banda da tecnologia, a densidade de equipamentos que permite ligar e a forma, quase instantânea, de o fazer dão a base que faltava para potenciar o uso de novas tecnologias disruptivas no ambiente de fábrica. É uma via para levar a sensorização a um novo patamar (IoT) ou tirar mais partido dos dados recolhidos para análises e previsões, para além de abrir portas a tecnologias como o vídeo analytics ou a realidade virtual e aumentada.
Na Europa acredita-se que o 5G venha ajudar a criar ou transformar até 20 milhões de empregos em todos os setores da economia, até 2025. A indústria é um dos sectores da economia que muito terá a ganhar com o acesso a redes 5G, na sua transformação digital em marcha.
Um estudo da Accenture estima que a tecnologia possa contribuir para aumentar os ganhos de produtividade em 20% a 30%. Para aumentar em 20% o tempo de vida útil dos ativos industriais, para melhorar em 90% a deteção de itens defeituosos, ou para promover ganhos de eficiência na ordem dos 50% nas linhas de montagem.
“A conectividade massificada dos dispositivos e a sua capacidade para comunicarem entre si, em tempo real e sem falhas, permite às empresas criarem condições de monitorização e controlo de consumos, produtividade e sustentabilidade de processos cada vez mais eficientes”, sublinha a NOS, que cita os estudos referidos.
Como também ilustra a Vodafone, numa fábrica “a conectividade vai permitir aprofundar o conhecimento de todos os aspetos do processo, da monitorização de matéria-prima à criação do produto em si, à entrega aos consumidores”. Sobre esta camada de conexão, tecnologias que exijam da rede capacidade para trocar grandes volumes de dados em tempo real, como a comunicação máquina-máquina, a inteligência artificial, big data e o machine learning estão na linha da frente para potenciar ainda mais os benefícios da rede de nova geração, lembra a operadora.
NOS mostra casos de uso
A NOS é um dos operadores que tem divulgado vários use cases em diferentes sectores, que mostram como é que este potencial pode concretizar-se no terreno. Num projeto de reforço da segurança operacional, com o Porto de Leixões, a rede 5G está a ser usada para monitorizar as operações portuárias recorrendo a drones equipados com câmaras capazes de transmitir, em tempo real, imagens de vídeo em alta qualidade para a sala de controlo.
“Com estes meios de monitorização remotos, tanto o centro de operações, como os pilotos dos navios podem acompanhar um conjunto de manobras de maior risco, aumentando simultaneamente a capacidade para realizar inspeções no local”, explica Tiago Ribeiro, diretor de B2B da operadora.
Está também a ser estudada a melhor forma de tirar partido da realidade aumentada e da tecnologia de gémeo digital, para tornar os processos de manutenção de maquinaria e logística mais eficientes, recorrendo a sensores que vão permitir saber em tempo real a localização e estado de todos os ativos.
Outro caso divulgado pela operadora, ainda no ano passado, foi o da fábrica Sumol-Compal, em Almeirim, pioneira na implementação de soluções de Realidade Aumentada sobre 5G em contexto industrial. As soluções em questão (da portuguesa Glartek) servem as equipas de manutenção da fábrica, que conjugam Smart Glasses e smartphone 5G durante as atividades, para terem acesso a manuais de procedimento, guias interativos em realidade aumentada, ou conteúdos de vídeo com anotações de RA em tempo real.
“São soluções que reduzem drasticamente o erro e o tempo de execução dos processos, e minimizam os custos associados à deslocação de equipas ou fornecedores de suporte técnico, ao facilitar o diagnóstico in loco”, como destaca Tiago Ribeiro.
Operadores adequam ofertas a novas oportunidades
Além de fornecerem a conectividade, os operadores de telecomunicações, querem ter um papel mais direto nesta transformação e têm vindo a criar ofertas para se posicionar nesse sentido e complementar um portefólio que tem vindo a crescer, à medida que o conceito as a service também ganhou destaque.
A NOS explica que a sua oferta de serviços e soluções 5G, nomeadamente para a área industrial, tem por base “uma arquitetura robusta”, ao nível, por exemplo, de Analytics e Edge Computing, construída em articulação com cloud hyperscalers, como a AWS, Google Cloud e Microsoft. Junta-lhe uma rede de parceiros que combina grandes empresas e startups, com soluções específicas para diferentes mercados.
Também a Vodafone assegura que nos últimos meses as equipas têm estado empenhadas no desenvolvimento de novas soluções assentes na rede 5G, junto dos clientes. Uma das ofertas que a empresa já integra no portefólio para a indústria é o Vodafone Machine Data, “um ERP industrial que integra processos de vários setores da empresa”, explica.
O Machine Data toca a gestão de operações (gestão de stocks, ordens de aprovisionamento ou operações industriais); gestão de clientes ou de recursos humanos; e chão de fábrica (consumos, produção, manutenção) e é modular.
Ou seja, cada cliente implementa as funcionalidades que entender necessárias e no limite ganha uma “gestão centralizada e em tempo real do negócio, através da aquisição de dados em chão de fábrica, cálculo e apresentação de indicadores de performance e custeio industrial”, acrescenta a operadora.
Este é um entre muitos exemplos possíveis de soluções que vêm tirar partido de ambientes cada vez mais conectados, que ganham com a chegada do 5G. Podem vir a ser usados sobre redes privadas ou públicas de quinta geração, ou em infraestruturas que combinam diferentes tecnologias fixas e móveis, mais e menos modernas. Antecipam-se os vários cenários, em processos de adoção que vão ser progressivos e que implicam investimento por parte das empresas, não só nas soluções que vão tirar partido do 5G, mas no hardware e sistemas que vão permitir que isso aconteça.
Altice explica projeto da fábrica 3D
“O 5G é, de facto, uma nova tecnologia, uma tecnologia disruptiva, fundamental para a transição digital do país, mas tem de ser combinada com as infraestruturas de rede fixa, com a rede de fibra ótica”, refere precisamente a Altice, sublinhando o investimento que fez nos últimos quatro anos e meio para fazer chegar fibra ótica a mais de seis milhões de casas em todo o país.
Do seu lado, a dona da MEO, tem-se posicionado para juntar ao portefólio de soluções de Cloud e Data Center, Segurança, IoT e Mobilidade, que diz estar a alavancar em tecnologias de última geração, o suporte a startups e empresas que desenvolvem soluções inovadoras na área da Indústria 4.0. Um dos caminhos escolhidos para o fazer são os seus “laboratórios abertos, como o golabs.IoT e o golabs.5G, que permitem às empresas encontrar a arquitetura de solução mais adequada, suportar as escolhas de componentes e fornecedores e, por fim, testar e certificar as soluções desenvolvidas”.
Entre os projetos de referência já no terreno, a Altice aponta a implementação num cliente de uma solução de Fábrica 3D: “uma ferramenta que permite visualizar, em tempo real, a performance do processo produtivo (com acesso à informação recolhido no chão de fábrica), simular novos cenários de produção e dá acesso a formação virtual”.
A operadora lembra que através das suas duas características-chave - redução das latências e aumento das velocidades - o 5G, além de vir trazer melhorias de eficiência às indústrias em geral, que também se refletem em ganhos do ponto de vista dos indicadores de sustentabilidade, traz também a melhoria dos graus de segurança. Essa combinação terá impacto na transformação digital do sector e, por consequência, na economia e no crescimento da economia do país.
“Um exemplo desta realidade é o caso da implementação desta tecnologia nas atividades portuárias, aeroportuárias e ferroviárias. Acima de tudo, o 5G vai trazer um conceito-chave, que também tem sido já aplicado noutros países à gestão portuária, que é o conceito de tempo real”, nota a Altice. Na área da logística e dos transportes, está aberto o caminho para melhorias importantes no serviço ao cliente, que passa a poder acompanhar a distribuição em tempo real ou a melhorar os tempos de picking, exemplifica ainda a empresa, elegendo áreas onde o impacto da tecnologia deve tornar-se rapidamente óbvio.
Este artigo integra o Especial: Indústria 4.0: Como estão as empresas portuguesas a abraçar a nova revolução no sector
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