O ano de 2011 está em marcha e com ele surgem novos (e renovados) desafios para os operadores de telecomunicações. Para os players que gerem ofertas móveis e fixas as redes de nova geração são um desafio com duas vertentes a alimentar, a primeira (fixa) mais numa perspectiva de continuidade com o trabalho que já começou a ser feito, a segunda (móvel) ainda numa fase mais embrionária.



Mas o ano que hoje deixa para trás o primeiro mês tem para explorar outros factos consumados em 2010, que resultam da junção de diversos factores e ampliam significativamente o potencial das receitas de dados móveis não SMS.



O crescimento exponencial da oferta de smartphones no ano passado e o surgimento dos primeiros tablet PC obrigaram a reajustes nas ofertas (nomeadamente tarifárias) e nas estratégias e em 2011 a combinação de novos elementos dará mais frutos.



"A disseminação dos tablets - onde a Optimus acredita que desempenhará um importante papel - a par da crescente massificação do consumo de dados móveis vão ser certamente movimentos interessantes", defende a Optimus.



Também a Vodafone antecipa que se 2010 foi um ano fértil em termos de inovação, 2011 não ficará atrás. "Os smartphones deverão manter-se como grandes impulsionadores das vendas de equipamentos terminais em 2011", defende a operadora.



"Novas funcionalidades e aplicações e a redução do preço de entrada nesta gama de equipamentos serão elementos promotores de uma maior adopção de smartphones na base de clientes dos operadores", acrescenta-se.



Com mais tablets no calendário de lançamentos para 2011, o leque de opções à disposição do consumidor vai alargar-se e as gamas de preços e características também.



Para responder a este novo apetite do mercado exigem-se melhorias na rede, para gerir um maior volume de tráfego e garantir que a largura de banda evolui na medida das expectativas. São também necessários conteúdos relevantes que, graças a modelos simples (no acesso e no preço), estão finalmente a fazer o seu caminho e a permitir, não só dinamizar um tão desejado mercado de dados móveis, mas também a dar um contributo importante para a convergência entre ecrãs de acesso.



"É um novo mundo - o das aplicações - que se afirma e que comporta consigo uma maior usabilidade e conveniência da tecnologia", admite a Vodafone.



"Trata-se de pequenas aplicações que vêm substituir os tradicionais e mais dispendiosos pacotes de software, e que, graças ao seu baixo custo, simplicidade, utilidade e disponibilidade ganham cada vez maior expressão entre os utilizadores de PCs, smartphones, notebooks, tablets e na própria TV", acrescenta a operadora.



Os efeitos nas contas dos operadores vão-se revelando. Na Optimus os dados móveis já pesam 30 por cento na receita de cliente. A Vodafone não revela valores e na TMN representaram 24,5 por cento das receitas de serviços nos primeiros nove meses de 2010, de acordo com a informação disponível.



Mercado inova mas não cresce



Mesmo com as boas perspectivas de uma crescente adopção de novos serviços e equipamentos os operadores não acreditam, no entanto, que o mercado cresça em 2011 e justificam as expectativas com o actual momento económico e com a malha regulatória. Se as piores previsões se concretizarem, sublinha a Vodafone, 2011 poderá ser o terceiro ano de retracção no mercado móvel.



O ambiente recessivo justifica parte da tendência. Do lado da regulação sublinham-se "as pressões regulatórias sobre as receitas, bem como a redução do preço médio por minuto das comunicações, em resultado da elevada competitividade que tem caracterizado o sector em Portugal", refere a operadora.



A Optimus também aponta o dedo à regulação como elemento incontornável na geração de valor no sector, mas prefere sublinhar que, a este nível, garantir algum impulso à concorrência e a uma maior capacidade de criação de valor no sector passaria por acelerar a "redução das tarifas de interligação ou introduzir assimetrias tarifárias no mercado, tal como fizeram diversos reguladores na Europa".



Mas, da regulação espera-se outro movimento importante em 2011, numa medida mais consensual entre todos os actores do mercado: uma decisão sobre o LTE, a tecnologia escolhida para assegurar uma quarta geração de comunicações móveis.



Um leilão deverá definir quem fica apto a fornecer esta nova geração de serviços móveis, para onde transita grande parte do potencial dos serviços associados aos novos dispositivos móveis que têm invadido o mercado, graças à (muito) maior largura de banda.



"O LTE/4G vai ser uma realidade a prazo, mas é prematuro falar sobre o assunto, uma vez que neste momento ainda não é conhecido o enquadramento regulatório, financeiro e concorrencial em que se vai desenvolver esta tecnologia", sublinha a Optimus que, tal como os concorrentes, está contudo já a testar a tecnologia.



A PT adopta uma abordagem diferente e no início deste mês Zeinal Bava, CEO da operadora, elegia 2011 como o ano da 4ª geração móvel. "A TMN está a preparar-se mais cedo do que mais tarde para dar as boas-vindas à 4ª geração móvel. O LTE é complementar aos investimentos que fizemos em fibra óptica", sublinhava o responsável numa apresentação da operadora.



Uma nova geração de interesses partilhados … ou talvez não



Mas se o entusiasmo pode soar diferente entre interlocutores as baterias dos três concorrentes estão alinhadas na mesma direcção: redes de nova geração. São a oportunidade dos próximos anos e também um enorme foco de investimento, numa altura em que o acesso ao crédito e a disponibilidade para investir das empresas é medida ao centímetro. Isso explica que a Vodafone as classifique como um desafio, seja pela "dimensão do país ou pela escassez de recursos". A operadora sublinha a propósito que está atenta às decisões regulatórias nesta área e à possibilidade de uma regulação pouco efectiva "inibir o investimento e criar as condições para o ressurgimento de monopólios".



Como se sabe, Vodafone, Optimus e mais operadores defendem partilha de infra-estruturas nas redes de nova geração. Uma posição que não é defendida pela Portugal Telecom, com um milhão de casas já passadas na fibra e planos para cobrir mais 600 mil este ano, a que se junta a já referida intenção de preparar o 4G "mais cedo do que mais tarde".



A par com as já referidas áreas dos equipamentos e dados móveis a Vodafone sublinha nas suas previsões para 2011 a relevância de um terceiro vector, o cloud computing. Mais uma vez, não está sozinha.


A área também mereceu destaque da concorrente Portugal Telecom ainda em 2010, ano em que anunciou parcerias com a Cisco e a Microsoft para a área, deixando claro que os operadores de telecomunicações estão atentos à tendência e pretendem desempenhar um papel neste modelo de entrega de serviços.



"Cada vez mais irá privilegiar-se a desmaterialização de serviços e dados que serão executados/armazenados em gigantescos servidores e darão aos utilizadores maior segurança, menores custos e maior flexibilidade no acesso à informação", sublinha a Vodafone.

Cristina A. Ferreira