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Após meses de preparação vai ser apresentada oficialmente no próximo dia 25 de Setembro a ESOP, associação de Empresas de Open source portuguesas, que reúne algumas das mais importantes empresas de open source nacionais, uma notícia que o TeK já tinha antecipado.

Gustavo Homem, presidente da associação, explica agora em entrevista os objectivos da ESOP e comenta o desenvolvimento do sector e alguns dos acontecimentos recentes, como a votação da norma OOXML.

TeK - Como surgiu a ideia de criar uma Associação de empresas de open source em Portugal? É uma ideia recente ou tem vindo a ser amadurecida?
Gustavo Homem -
A ideia surgiu da necessidade de dinamizar este mercado em Portugal. As implementações de soluções open source em Portugal têm-se multiplicado e há cada vez mais empresas a trabalhar nesse modelo em Portugal. Contudo há ainda uma falta de percepção dessa realidade no nosso mercado, o que representa um considerável atraso em relação aos nossos parceiros na UE e às potências emergente a nível mundial. A ESOP é um conceito que tem vindo a ser amadurecido nos últimos meses.

TeK - Quais os objectivos que presidiram à criação da ESOP?
G.H. -
Os objectivos centrais foram a promoção dos serviços baseados em open source, a promoção das normas abertas, interoperabilidade e independência de plataforma e o esclarecimento da opinião pública. Pensamos que estes 3 tópicos são de primeira necessidade no mercado das TI em Portugal. Para além disto esperamos encontrar sinergias entre os associados e apoiar projectos de desenvolvimento, por forma a potenciar o sector em Portugal.

TeK - Quem são as empresas que avançaram com a criação da ESOP? A associação está aberta a mais participantes?
G.H. -
Os membros fundadores são 12 empresas de referência no mercado nacional. A lista completa estará disponível em www.esop.pt. A ESOP está aberta a novos associados que se revejam nos estatutos e missão da ESOP e estejam dispostos a contribuir com o seu esforço para os objectivos comuns. Estamos neste momento em fase de avaliação de novas candidaturas.


TeK - Existe já em Portugal uma Associação para o Software Livre, a Ansol. Há diferenças de objectivos/actuação que justifiquem a criação desta nova entidade?
G.H. -
Sim. A Ansol tem um ênfase no apoio ao utilizador individual. A ESOP é uma associação empresarial e portanto tem um focus mais orientado ao mercado. As duas associações são complementares, embora se intersectem em alguns pontos.


TeK - O open source está cada vez mais na ordem do dia dos temas relacionados com as tecnologias da informação e ainda recentemente se gerou uma enorme polémica aquando da aprovação da norma OOXML pela Comissão Técnica de normalização portuguesa, sobretudo porque alguns intervenientes apontaram o "peso excessivo" que a Microsoft teve nesta decisão. Se a ESOP já existisse o processo poderia ter tido um desenvolvimento diferente?
G.H. -
A ESOP não pode nem pretende influenciar politicamente decisões de organismos independentes, que deveriam ser 'exclusivamente técnicas'.
A enorme polémica que menciona é consequência da politização da Comissão Técnica CT173, que por via de alguns dos seus interlocutores abdicou do rigor necessário num processo de normalização. Este problema, que pôs em causa a credibilidade do próprio IPQ, é da exclusiva responsabilidade do Instituto de Informática, não podendo neste momento ser resolvido por mais ninguém.
Nós só poderíamos actuar a nível de contributo técnico, visto que muitos dos associados tem experiência nas matérias em causa.


TeK - Qual a apreciação que a associação faz dos protocolos que têm sido estabelecidos com a Microsoft para suporte de várias iniciativas governamentais, muitas delas incluídos no memorando de entendimento com Bill Gates, que abrangia dezenas de iniciativas? Há uma dependência excessiva do Governo em relação à Microsoft?
G.H. -
Há de facto uma dependência excessiva com efeitos problemáticos a nível de independência tecnológica e know-how instalado.
A manutenção da actual monocultura não permite o alargar de horizontes dos utilizadores nem dos profissionais de TI e não incentiva a competitividade no mercado. Pelo contrário, um investimento em tecnologia aberta (código e normas) potenciaria a médio prazo a economia local com impactos quer a nível do PIB quer da balança comercial - falo à dimensão do sector de TI, evidentemente. No aspecto da administração pública o nosso atraso é notório face aos exemplos de outros países a começar pela Espanha, passando pela França, Alemanha e países Escandinavos, mas também pelo Brasil que se está a tornar uma potência mundial em tecnologia aberta.
Por outro lado, admito que o Estado Português nem sempre tenha a informação necessária para decidir nesta matéria. É aqui que devemos em parte fazer mea culpa, melhorar a nossa comunicação e ajudar a resolver o problema.


TeK - Como presidente da associação, pensa que será possível que a ESOP consiga congregar o peso institucional necessário para se tornar parceira do Governo em algumas iniciativas e constituir uma alternativa - representando o mundo open source - face à Microsoft?
G.H. -
Estamos convictos que teremos peso institucional, no bom sentido. Podemos ajudar o Governo a informar-se sobre a oferta tecnológica das soluções open source, bem como das boas práticas de implementação.


TeK - Que tipo de iniciativas tem a ESOP previstas que possam trazer mais visibilidade ao open source ?
G.H. -
Iremos organizar conferências, workshops e divulgação de implementações de referência. Iremos responder criteriosamente a pedidos de informação que nos sejam enviados e disponibilizar-nos para contribuir em iniciativas relevantes.


TeK - Em relação à evolução do sector open source, a profissionalização é uma realidade a nível internacional. Parece-lhe que em Portugal há já uma oferta consistente de software e serviços que dê garantias às empresas que querem adoptar soluções open source ou ainda estamos numa fase de pouca maturidade?
G.H. -
Há uma maturidade técnica indiscutível em Portugal. Em particular na ESOP o capital técnico e humano é um dos pontos fortes. Faltou até agora alguma capacidade de organização, problema este prestes a passar à história.


TeK - Essa oferta está disponível nas diferentes áreas de actividade económica e em todo o país ou acaba por se concentrar em determinados nichos?
G.H. -
Pelo contrário. Poderão existir alguns nichos específicos em que a oferta não se aplique. Aparte disso a oferta é aplicável com grande generalidade à maioria das organizações, a nível desktop, servidor e redes, em muitas regiões do país.


TeK - Pensa que a tendência será para a consolidação dessa oferta nos próximos anos?
G.H. -
Já existe alguma consolidação, porque as diferentes ofertas existentes têm quase sempre em comum os protocolos e normas standard, que permitem integração mútua.


TeK - Têm algum estudo ou dados que permitam já apurar o impacto económico do software open source dentro do sector de software e serviços em Portugal?
G.H. -
Os números mais recentes disponíveis são os da IDC. Faz parte dos planos da ESOP a recolha de dados estatísticos que permita uma maior caracterização do mercado.


TeK - Como lhes parece que será a evolução nos próximos anos?
G.H. -
Contamos com avanços importantes nos próximos 5 anos.


TeK - Os últimos números publicados pela IDC relativamente a adopção de software open source em Portugal são ainda reduzidos, embora na administração pública (central e local) se multipliquem implementações bem sucedidas baseadas em open source. Vale a pena continuar a apostar na Administração Pública ou as empresas têm de ser um alvo importante para quem trabalha na área do open source?
G.H. -
A administração pública encara uma redução de custos muito significativa a médio prazo na perspectiva de adoptar tecnologia aberta, devido ao factor de escala relacionado com a sua dimensão. As empresas por outro lado tendem a reagir muito mais rapidamente, sendo mais sensíveis aos factores custo e fiabilidade. Eu diria que em relação às empresas o progresso será mais rápido, muito embora gostasse de ver a AP acelerar nesta direcção.
Apesar disso, existem já alguns casos interessantes em funcionamento nomeadamente no Ministério de Justiça(ITIJ), Governo Civil do Porto e INE ...
Acrescentaria que é necessário rever o âmbito do "open source" à luz de mudanças recentes. O sistema operativo Solaris, que é chave nos sistemas das Finanças e da Segurança Social, é agora open source (Open Solaris). A plataforma Java, omnipresente nos telemóveis, e a base dos sistemas empresariais da Sun, IBM e Oracle, é agora open source. Este foi um espaço muito importante conquistado com a persistência dos defensores do software aberto na defesa e valorização deste modelo.

Fátima Caçador