
Por Jorge Borges (*)
Durante décadas “Pergunta ao Google (Google it)” tornou-se uma frase universal, sinónimo de pesquisa online — não apenas uma ação, mas um reflexo automático do nosso comportamento digital. Nos ultimos anos a massificação da inteligência artificial generativa veio abalar os alicerces do modelo tradicional de pesquisa assente em cliques e publicidade. Este novo paradigma é um desafio para a Google, mas também para a sua empresa.
O novo normal: Menos cliques e mais respostas.
Através das ferramentas de IA generativa, os utilizadores já não precisam visitar vários sites para encontrar respostas — a informação é-lhes apresentada sintetizada, personalizada e pronta a ser consumida, diretamente nas plataformas. É um sinal claro: o futuro da pesquisa será conversacional, assistido por IA e altamente personalizado.
Para a Google, cujo modelo de negócio depende do tráfego gerado para terceiros (e da publicidade associada a esses cliques), esta mudança representa uma ameaça estrutural. Segundo previsões da Gartner, até final de 2026, o tráfego global de pesquisas no motor de busca deverá cair 25%.
O maior desafio da Google não é apenas técnico, mas essencialmente financeiro: Se a IA generativa elimina a necessidade de cliques nos resultados das pesquisas, como garantir que os anunciantes continuam a investir? O gigante de Mountain View, que nos habituou a estar na linha da frente da inovação e adaptabilidade, tem sido lento e errático na resposta. Depois do flop Bard a Google alterou o foco estratégico: Lançou o Gemini e tem vindo a adotar uma abordagem cautelosa para integrar IA nas suas pesquisas sem comprometer a sua base de receita. Algumas das iniciativas incluem:
- AI Overviews e AI Mode: Estas funcionalidades experimentais, recentemente disponibilizadas também em português, permitem que a IA apresente respostas combinadas com o formato tradicional de exibição de resultados da pesquisa. A Google pode assim testar a aceitação da IA generativa sem desestruturar o seu modelo de publicidade.
- Personalização com base no histórico do utilizador: o Gemini irá oferecer respostas cada vez mais relevantes ao aceder, com consentimento, ao histórico de pesquisa dos utilizadores. A personalização será ainda reforçada pela integração com outros serviços da Google — como o YouTube, Gmail ou Google Maps — permitindo à IA Generativa apresentar sugestões mais precisas e alinhadas com os interesses individuais.
- Substituição gradual do Google Assistant pelo Gemini: A Google está também a reformular o seu assistente virtual tornando-o mais sofisticado e capaz de interagir com várias aplicações. O objetivo é tornar o Gemini um assistente pessoal completo, sem repetir os erros do Google Assistant, Amazon Alexa e Apple Siri, que ficaram limitados a comandos simples.
- Novos modelos de monetização: A empresa ainda não revelou como pretende compensar a possível queda nas receitas publicitárias, mas há alguns caminhos possíveis, como anúncios contextuais dentro do AI Overview, respostas patrocinadas ou mesmo modelos de assinatura para respostas mais completas e aprofundadas.
E a sua empresa , como se deve adaptar?
Para os profissionais de marketing, esta transformação exige uma nova abordagem aos conteúdos online: Já não basta ter websites otimizados para palavras-chave — é necessário compreender o contexto, a intenção e o comportamento do utilizador. A tradicional optimização baseada nos principais motores de busca (SEO) está a dar lugar à AIO (AI Search Optimization), onde a personalização, a semântica e a análise preditiva são cada vez mais relevantes.
A sua marca vai estar melhor posicionada para alcançar visibilidade e confiança se apostar em:
- Foco na intenção do utilizador
O conteúdo deve responder a perguntas reais e específicas. Ferramentas baseadas em IA permitem analisar não apenas o que os utilizadores procuram, mas porque o fazem. Alinhar os conteúdos com essas intenções é crucial para continuar visível nas respostas geradas por IA. - Criação de conteúdo conversacional e aprofundado
A IA generativa privilegia conteúdos bem estruturados, ricos em informação e adaptados à linguagem natural. Isso significa escrever como falamos, e não apenas à medida dos motores de busca. - Otimização para voz
Com o crescimento dos assistentes de voz, é essencial preparar conteúdos para pesquisas por voz — mais longas, informais e contextualizadas. - Personalização como norma
A personalização já não é uma vantagem competitiva — é uma expectativa do utilizador. Adaptar o conteúdo com base em comportamentos, preferências e histórico de navegação melhora a relevância e o envolvimento. - Monitorização e adaptação contínuas
A velocidade da evolução tecnológica obriga a flexibilidade e agilidade. Ferramentas de analytics baseadas em IA podem ajudar a rapidamente ajustar estratégias, prever tendências e otimizar resultados.
Nesta nova era da pesquisa online, não vence quem pagar ou gritar mais alto com palavras-chave — vence quem compreender melhor o que o utilizador realmente procura. A visibilidade nas buscas pode deixar de ser um espaço “conquistado” para ser um espaço “negociado” com a IA. Posicionar a sua marca dentro desse novo contexto exige repensar conteúdos, autoridade e até presença em canais complementares, alinhados com a jornada de compra. A forma como as pessoas procuram mudou. A sua empresa está pronta para continuar a ser encontrada?
(*) Docente e consultor, especialista na interseção entre marketing, tecnologia e inovação
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