Desenvolver ferramentas que estimulem o pensamento criativo dos mais novos é o objectivo de Mitchel Resnick, professor e director do Lifelong Kindergarten do MediaLabs do M.I.T.. Foi na apresentação do SAPO Kids que o TeK ficou a conhecer o especialista em linguagem de programação para crianças e principal impulsionador do Scratch, uma das ferramentas mais populares no mundo que faz agora parte do portfólio do SAPO.

TeK- Como surgiu o Scratch e quais foram os objectivos iniciais do MediaLabs ao criar esta ferramenta?Depois de várias tentativas chegámos ao Scratch: uma ferramenta intuitiva onde a criatividade é a chave principal e a partir da qual resultam os trabalhos dos mais pequenos, das próprias ideias que tenham, sejam elas promovidas em trabalhos da escola ou individualmente.
Ao aliarmos o que conseguimos às capacidades actuais, acabámos por obter uma ferramenta que não só lhes garante a concepção dos seus próprios projectos como a partilha dos mesmos com crianças de qualquer ponto do mundo e isso é óptimo! Pensar que o conhecimento dos adultos de amanhã está a ser partilhado agora, à medida que crescem.

TeK - Esta é a única ferramenta dedicada às crianças que o MIT tem?

M.R. - Não. Temos uma outra muito interessante que também apela à criatividade e imaginação das crianças mas que é mais física. Está relacionada com uma parceria que temos com a LEGO há já alguns anos e prende-se essencialmente com a robótica. A diferença entre o LEGO Mindstorms e o Scratch é que neste último controlam as coisas no ecrã e no outro projecto é necessária uma abordagem que vai para além da programação. Existem ainda outros projectos onde colaboro, alguns que são da minha responsabilidade, é o caso dos Computer Clubhouse, uma rede de centros de aprendizagem pós-aulas, onde os jovens interagem com novas tecnologias e novas ferramentas.

TeK - O Scratch já está activo há alguns anos nos Estados Unidos e está disponível em vários idiomas, incluindo o português. Como surgiu a parceria com a Portugal Telecom e em que difere esta versão do Scratch?
M.R. - A grande diferença é que até aqui, para aceder ao Scratch era necessário entrar no canal principal do M.I.T. Nesse software é possível traduzir todos os conteúdos para o idioma que queremos, até em chinês se for esse o desejo do utilizador. A questão é que a interactividade aí produzida era toda em inglês porque qualquer comentário que fosse introduzido seria escrito, na sua maioria, em inglês. A tradução serve para os conteúdos base, não para os produzidos pelo utilizador.
Com o interesse da Portugal Telecom pensou-se numa alternativa que passava por promover a ferramenta em português e na sua totalidade. Através dos trabalhos conjuntos com a nossa equipa foram transformados os menus e criado um novo acesso possível de ser feito a partir do portal SAPO Kids.
O pioneirismo da iniciativa surge quando passaram a existir dois Scratch: um site de origem norte-americana que pode ser traduzido para várias línguas e outro português, onde tanto o site como o próprio programa de criação de projectos estão no idioma local. Desta forma é duplicado o alcance que um projecto de uma criança pode ter.

TeK - Esse alcance pode ser aproveitado através dos contributos de outras crianças?
M.R. - Sim porque qualquer utilizador pode aliar os seus conhecimentos aos projectos de outras crianças. Como a programação do projecto funciona por blocos, é possível chegar ao site, ver a linguagem utilizada na criação de determinado projecto, fazer alterações e voltar a publicar o conteúdo, desta vez com mais informações.
Existem até casos em que as crianças desenvolvem apenas personagens e dizem "este é o meu boneco, se o quiserem utilizar nos vossos jogos e projectos basta dizerem-se". Isto é extremamente poderoso se pensarmos que são crianças a estimular o interesse de outras, a promover as suas criações. E quem não gosta de ver que o seu trabalho é útil e aproveitado pelos outros?

TeK - A Portugal Telecom trabalhou com o M.I.T. para a optimização do Scratch para o Magalhães. Qual a sua opinião acerca dessa aliança e que frutos acha que pode trazer para as crianças?
M.R. - Esse foi outro ponto que nos entusiasmou na parceria com a Portugal Telecom. Criar uma versão específica para um computador que tem como intuito promover a interacção entre as crianças e as novas tecnologias, esse é um dos intuitos primordiais do Scratch.
Trabalhámos em conjunto e criamos uma versão do software que permitisse colocar uma aplicação que está concebida de origem para computadores com ecrã mais amplo num com as dimensões tão reduzidas quanto as apresentadas pelo Magalhães.
Conseguimos fazer essa versão, tal como já tínhamos conseguido fazer uma específica para o XO, do One Laptop per Child.
Quanto aos benefícios do Magalhães, o que lhe posso dizer é que, no meu entender, é óptimo pensar que os mais pequenos, os nossos filhos, têm o seu próprio computador, o seu próprio instrumento de trabalho. Se queremos inovar e fazer com que o pensamento criativo seja característica comum às gerações futuras, temos de lhes garantir ferramentas para isso e o Magalhães parece-me ser uma das plataformas ideais.

TeK - Falou do XO, um computador de baixo custo desenvolvido no âmbito de uma iniciativa criada por um dos principais nomes do M.I.T, Nicholas Negroponte. Com o número de projectos que têm com o Estado português, porque nunca pensaram na possibilidade de trazer o XO para Portugal?
M.R. - Essa é uma questão que nunca lhe conseguirei responder. São decisões estratégicas que acabam por passar ao lado de quem está mais ligado a iniciativas de programação, de software educativo e de projectos mais específicos. É o meu caso. Dedico-me apenas a projectos educativos que promovam o know-how tecnológico de cada um. Daí trabalhar em várias versões do Scratch para diferentes plataformas, seja o XO, o Classmate ou, neste caso, o Magalhães.

Patrícia Barreiros