Por Francisco Teles
Na semana passada, um erro técnico comprometeu as plataformas sociais do Facebook, originando um apagão digital de cerca de 6 horas que levou ao desespero de milhões de utilizadores.
No meio desta escuridão digital, ergueu-se um fantasma adormecido e, de certa forma, esquecido: a fiabilidade das aplicações e sistemas de informação. E se aterroriza uma das maiores empresas digitais do mundo, como não se hão de preocupar outras instituições?
Enfrentamos uma era em que as organizações necessitam de apostar em tecnologias cloud para se manterem competitivas numa economia digital, transformando muitos modelos de negócio em modelos cujo core business se baseia em software. Assim, qualquer falta de fiabilidade destes sistemas de informação pode ter consequências trágicas e irreversíveis, principalmente em áreas críticas como o setor financeiro, serviços de saúde ou de e-commerce.
Mas afinal o que é uma aplicação fiável? Acima de tudo, é uma aplicação que vai de encontro às necessidades e expectativas de quem a utiliza, e que funciona sem falhas ao longo do tempo.
Apesar de não existir uma receita ideal e de a perfeita fiabilidade aplicacional ser inatingível, existem 4 pontos essenciais para a criação de aplicações e software na cloud, que permitem diminuir a probabilidade de falha, aumentando consequentemente a sua fiabilidade:
- Definir o Service Level Agreement (SLA) da sua aplicação
Todos os fornecedores cloud estabelecem SLAs: percentagens tabeladas de disponibilidade de serviço, que dependem das opções (e do preço) que cada cliente seleciona. Este SLA deve ir de encontro à disponibilidade necessária da sua aplicação. Mas que disponibilidade é suficiente?
Um serviço com 99.9% de disponibilidade significa que irá ter 8 horas e 46 minutos de downtime por ano. No caso de uma empresa como o Facebook pode representar enormes perdas financeiras e a fuga de alguns clientes para aplicações concorrentes, mas para um serviço hospitalar pode significar largas perdas de vida.
- Utilizar a escalabilidade da cloud e monitorizar a performance aplicacional
Uma das maiores vantagens da cloud é aumentar e diminuir recursos de forma automatizada, indo ao encontro da utilização real e imprevisível das aplicações. Um bom exemplo de escalabilidade é curiosamente a aplicação Telegram que, no dia do apagão do Facebook, conseguiu escalar a sua infraestrutura para receber de forma inesperada 70 milhões novos utilizadores.
Para além disso, um sistema de monitorização e de alarmística deve ser implementado para, não só garantir a disponibilidade das aplicações, mas para que a sua resposta ocorra num intervalo de tempo esperado pelos seus utilizadores.
- Planear e implementar arquiteturas de alta disponibilidade
Os datacenters dos fornecedores cloud são construídos para serem altamente disponíveis, mas não estão salvaguardados de eventuais falhas físicas que possam ocorrer.
É por isso vital pensar-se em alta disponibilidade desde a fase de desenho de uma arquitetura, de forma a prever possíveis pontos únicos de falha e adicionar-se redundância de serviços e aplicações, como por exemplo, distribuir o workload da sua aplicação em vários servidores em datacenters em localizações geográficas distintas.
- Implementar, testar e monitorizar a segurança aplicacional
Uma aplicação fiável é também naturalmente uma aplicação segura, que não apresenta riscos nem vulnerabilidades para o utilizador e, acima de tudo, respeita as normas de privacidade de dados em vigor.
Hospedar uma aplicação na cloud permite tirar partido dos elevados standards de segurança de acesso físico aos datacenters, mas não é suficiente: os crimes de roubo de dados são maioritariamente causados por ataques informáticos remotos. Assim, é crucial utilizar soluções de segurança aplicacional, muitas delas disponíveis nativamente nas plataformas cloud.
Terão todas as empresas condições técnicas e financeiras para investir nos pontos anteriores? Muito provavelmente não. É essencial comparar eventuais riscos, perdas financeiras e impactos no negócio de um apagão digital, com o investimento a ser feito para otimizar a fiabilidade das aplicações. As conclusões de tal exercício poderão ser surpreendentes.
Irão continuar a existir falhas no atual mundo digital. Atuar na prevenção é a chave para a continuidade dos negócios.
(*) Cloud Solution Architect na Microsoft em Zurique
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