Por Rich Rao (*)

Quando as pessoas pensam em aprendizagem automática (machine learning) tendem a pensar em algo como carros que falam ou em robôs humanóides – coisas de ficção científica ou ficção distópica. Mas o que é certo é que aprendizagem automática não é uma coisa nem outra e está já a mudar o que os computadores conseguem fazer. Num futuro bastante próximo, irá transformar a forma como trabalhamos - começando pelo smartphone no seu bolso.

Conheça o seu novo assistente pessoal

Programas que podem aprender como realizar tarefas estão já hoje presentes nos espaços de trabalho, onde cada vez mais assumem o papel de nos pouparem tempo em tarefas mundanas, de modo a que nós humanos possamos dedicar mais tempo às coisas realmente importantes.

Isto é mais evidente no mobile onde os nossos smartphones estão a transformar-se em assistentes pessoais. Em breve, a produtividade no mobile não se irá resumir a receber notificações, definir lembretes ou a marcar reuniões enquanto nos deslocamos. 

O software alimentado pela aprendizagem automática irá ajudar os nossos dispositivos a perceberem como funcionamos, como antecipamos as nossas necessidades e a tornarem os dias de trabalho mais produtivos (e esperamos que sejam também mais agradáveis). Estes pequenos luxos, habitualmente apenas disponíveis para executivos de topo estarão, em breve, disponíveis ao comum dos mortais. Eis apenas três exemplos:

1. Mantendo-o sempre a par de tudo e sem atrasos, a todo o momento

Neste momento, o seu smartphone pode dizer-lhe onde estão os maiores congestionamentos de trânsito no seu trajeto. Pode lembrá-lo daquela reunião importante marcada para essa tarde ou mesmo ajudá-lo a filtrar a sua caixa de e-mail, cada vez mais transbordante. Por outras palavras, pode transmitir e organizar a informação para si de uma forma alargada. Mas, mesmo assim, de uma forma limitada.

O que um smartphone não consegue ainda fazer é prever eventos de uma forma fiável e responder-lhes eficazmente. Imagine que o smartphone detecta que está atrasado para uma reunião. Então, ele chama um táxi ou outro meio de transporte e avisa os seus colegas dando-lhes uma estimativa de hora de chegada à reunião. Mais tarde, está a deslocar-se para a sua reunião diária e no caminho o seu dispositivo disponibiliza-lhe os documentos mais relevantes na ponta dos seus dedos e, assim que chega ao local, começa automaticamente a tomar notas.

Outro exemplo. Imagine aquelas folhas de despesas que a contabilidade lhe pede habitualmente para preencher. E se existisse uma aplicação para telemóvel que preenche automaticamente estas folhas mensais e lhe pergunta um dia antes de acabar o prazo se pretende enviar a folha para a contabilidade?  

O seu smartphone tem hoje elevada portabilidade e está equipado com diversas capacidades de geolocalização. A partir destas características será possível, em breve, detectar não só onde está mas também proporcionar-lhe o que precisa nesse preciso momento e local e de uma forma melhor do que com qualquer outro dispositivo. Deixará de ser necessário pesquisar ou esperar pela informação — ele irá encontra-lo e permitir-lhe que tome decisões de uma forma que, provavelmente, nunca imaginou que viesse a ser possível num ecrã na palma da mão. Mesmo que assim não seja, nunca voltará a estar atrasado ou desorganizado ou nunca voltará a ter uma desculpa para isto acontecer. Com tempo, o seu smartphone poderá até aprender como disponibilizar café ou outra coisa qualquer a tempo daquela reunião que começa às 09:00 da manhã.

2. Trabalho real à distância e sem PC

Um dia, sentados na nossa secretária, iremos olhar para trás e para a nossa agenda desse dia e pensar como não temos quase nada concluído. As pessoas demoram cada vez mais tempo nas deslocações para o trabalho e têm maior flexibilidade para trabalharem remotamente. Para o melhor e para o pior “estamos sempre ligados”. Os produtos baseados em métodos de aprendizagem automática irão libertar-nos de termos de escolher entre flexibilidade e produtividade e serão extensíveis a toda a empresa, do topo à base de colaboradores da companhia.

A transcrição de voz, alimentada pela aprendizagem profunda (deep learning) das redes neuronais, irá corrigir automaticamente os seus erros gramaticais e de uma forma mais precisa do que nunca. Na verdade, irão permitir desenvolver totalmente por voz o seu negócio – sem necessidade de um teclado ou de um ecrã. As melhorias relacionadas com as capacidades de entrada em todos os seus dispositivos irão continuar a tornar tudo ainda mais simples, desde a marcação de reuniões, à preparação de apresentações, passando pela organização de ficheiros, à colocação de anúncios de emprego, etc.

E não esqueçamos o e-mail. Neste momento, é bastante irritante enviar respostas longas num ecrã pequeno. E se um software conseguisse classificar e destacar automaticamente as mensagens mais importantes e depois prever e gerar respostas para si? Parte disto já é possível actualmente. Mas os futuros desenvolvimentos irão permitir-lhe ser muito mais rápido e ágil a responder e a manter-se ligado e sem estar tão colado a uma pedaço de vidro rectangular. 

3. Tratar aqueles números para si

Você é capaz, provavelmente, de utilizar o seu smartphone para dividir a conta do almoço ou jantar em função do consumo de cada pessoa ou quem comeu ou bebeu mais. Mas em breve iremos utilizar os dispositivos móveis para cálculos muito mais complexos e valiosos. A aprendizagem automática irá tornar mais simples o processamento e a organização da informação externa para o trabalho – quer se trate dos processos de encerramento de vendas, criação de relatórios ou alterações em tempo real ao orçamento de marketing e a partir de qualquer dispositivo.

À medida que a aprendizagem automática possibilita a aquisição de competências valiosas de análise de dados e as torna disponíveis para todos, os smartphones tornar-se-ão poderosos para resolver desafios empresariais. O seu telefone irá ser muito mais eficiente e decisivo para resolver qualquer problema.

A aprendizagem automática não é ficção científica – já está aí presente em vários produtos e funcionalidades disponíveis hoje em dia. Ao mesmo tempo que há ainda muito trabalho pela frente – e continua a haver cépticos – a direção em que caminhamos é bem clara. O software e as aplicações do futuro prometem ajudar-nos a cumprir as tarefas impedindo que as mesmas fiquem por realizar, ajudar-nos a trabalhar a partir de qualquer local e a tomar decisões mais acertadas com o apoio da análise de dados.   

Estas mudanças serão graduais e nem todos os desenvolvimentos funcionarão de forma perfeita no início mas o seu efeito cumulativo será profundo na forma como trabalhamos, em particular no mobile. A aprendizagem automática está prestes a ter o seu momento de definição. E uma vez concluído não haverá retrocesso.

(*) dirige a área global de Android, Chrome e educação no Google for Work