Por Manuel Dias (*)

A aceleração digital impulsionada pela pandemia veio também potenciar a produção e partilha ágil e eficiente de conhecimento, com um aumento substancial de novas formas de aprendizagem social, para além de fóruns de discussão, redes sociais, ou blogs temáticos. Para muitas empresas, uma cultura de aprendizagem contínua é a base para potenciar novas abordagens, novos modelos de negócio e fomentar a inovação, fundamentais para obter uma vantagem competitiva.

As comunidades tecnológicas locais assentes na partilha coletiva de conhecimento, estão cada vez mais associadas ao novo mundo do trabalho. O Social Learning praticado nestas comunidades demonstra o seu valor enquanto motor de aquisição de novas competências, onde as possibilidades são tão variadas e infinitas como a criatividade que a colaboração social pode inspirar.

O sucesso das comunidades

Na base do sucesso destas comunidades está a cultura de grupo, sentir que se pertence a algo, a um grupo, com um objetivo, interesse comum, ou causa maior, que fortalece a comunidade e estimula o seu crescimento.  Outro fator crucial é o sentido de partilha, onde cada membro é encorajado a dar a sua contribuição nos temas que domina, ao mesmo tempo que beneficia do conhecimento dos outros. É esta noção de reciprocidade, enquanto moral implícita à partilha e colaboração, que faz com que a agregação de pequenas contribuições gere a base de conhecimento que alimenta a comunidade.

Em Portugal são já algumas dezenas as comunidades registadas na plataforma mais utilizada – Meetup -  e vão desde a programação até às principais tecnologias emergentes, como a Inteligência Artificial, o Lowcode ou o Blockchain. Como exemplo, a comunidade Power BI Portugal, que ajudei a fundar, com apenas dois anos, conta atualmente com cerca de 3.000 membros, que partilham o interesse em torno de uma área de conhecimento e uma tecnologia – Analytics e Microsoft Power BI. A partilha continuada de conhecimento através de sessões mensais, grupos de WhatsApp, entre outros, associada a uma diversidade de perfis, desde Data Scientists até Economistas ou Gestores, fez com que, mesmo em mode online, a adesão e a colaboração continuem a aumentar.

evolução do número de membros da comunidade de Power BI Portugal
créditos: Tek

Evolução do número de membros da comunidade Power BI Portugal

Perfis e competências dos membros da comunidade de Power BI Portugal
créditos: Tek

Perfis e competências dos membros da comunidade Power BI Portugal

A cultura de colaboração e partilha

As comunidades colaborativas são grupos de indivíduos que utilizam o conhecimento antes disperso e individual para construir um conhecimento maior. A colaboração acontece quando esse grupo trabalha em torno de um mesmo objetivo com as ferramentas necessárias para que cada membro possa participar de acordo com a sua disponibilidade e as suas competências. O sistema deve ainda fornecer feedback aos membros, direcionando a comunidade para o tipo de participação e para os temas favoritos.

A colaboração de todos, com a diferenciação de papéis, é habitualmente baseada num sistema de meritocracia, que permite em simultâneo, classificar os níveis de participação, reconhecer as competências e motivar à participação e contribuição entre os seus membros. A dinâmica meritocrática transparente permite que a comunidade se conheça, crie laços de relacionamento e conexões mais fortes e estimule o conhecimento.

O Social Learning com um papel central

O conhecimento é um processo cognitivo que ocorre em contexto social independentemente da forma, seja ela presencial, virtual, ou face-to-face. O conectivismo enquanto teoria de aprendizagem assume particular importância nesta era digital, amplificando exponencialmente a partilha de conhecimento.

As organizações e os seus colaboradores estão cada vez mais motivados a utilizar tecnologias sociais para atualizar ou adquirir novas competências. Estudos recentes mostram que o principal fator de sucesso do Social Learning é o suporte a uma cultura de aprendizagem e aquisição de competências, seguido pelo incentivo à colaboração e inovação e em terceiro lugar o networking e o acesso direto a especialistas da área que de outra forma seria muito difícil obter.

Conclusão

Em suma, numa era em que a tecnologia evolui exponencialmente, atualizar, adquirir ou reforçar competências é chave para um mercado de trabalho dinâmico e competitivo. Envolver-se numa comunidade tecnológica local, conhecer especialistas, aprender com a comunidade, partilhar conhecimento, ser reconhecido e ter a possibilidade de o fazer em grupo e com pessoas com interesses comuns é suficientemente motivador para o fazer.

Se além disso quer construir a sua marca pessoal, melhorar as suas competências de comunicação, fazer uma palestra ou um workshop, ou mesmo mudar de emprego ou área profissional, as comunidades tecnológicas são um meio natural, eficiente e com um carácter muito humano.

(*) National Technology Officer da Microsoft Portugal