Por José Eduardo Fonseca (*)

Não é segredo que os dados são, para praticamente todos os setores, sinónimo de fonte de conhecimento que deve ser explorada da forma mais eficiente, intensa e articulada possível. Transformar dados em conhecimento valioso é, atualmente, um dos principais objetivos das empresas. Um inquérito recentemente realizado pela Frost & Sullivan revela que mais de 70% dos CEOs concordam que a exploração de valor dos dados se tornou uma das principais prioridades. Apesar de vários executivos C-level considerarem que os dados são uma prioridade máxima, muitas vezes as diferenças nos seus pontos de vista não se alinham com os objetivos globais da empresa, fragmentando assim as estratégias da mesma. Por exemplo, enquanto um diretor de informação se concentra na integração de um conjunto dos dados em vários formatos, um diretor de marketing poderá concentrar-se nas inovações resultantes da utilização dos dados. Este desalinhamento de estratégia poderá traduzir-se num entrave em funções básicas que, em última instância, pretendem aumentar a produtividade e gerar lucro no momento certo.

Como um alvo muitas vezes difícil de ser interpretado, os dados deixam as empresas sobrecarregadas com elevadas quantidades de informação – com a agravante de, aquando dispersos e em fluxos de trabalho desarticulados, dificultar também a sua partilha, compreensão a todos os níveis da organização da empresa. Urge adotar uma mudança cultural que permita agilidade e coesão na estratégia de exploração de dados, tornando as empresas data-driven. Neste sentido, uma forte cultura de dados como base para obter o máximo de benefícios possíveis da riqueza que a informação acrescenta a uma empresa é essencial para desbloquear eventuais limites e combater falhas, muitas vezes iniciadas no topo da organização.

O primeiro passo para uma cultura de dados clara passa por definir a forma como estes devem ser tratados, bem como a normalização dos processos e a propriedade da interpretação dos dados. Desta forma, é possível combater várias inconsistências e imprecisões que se traduzem em obstáculos às operações quotidianas e nos resultados das empresas. As equipas devem estar alinhadas numa perspetiva comum relativa à utilização de dados, sendo que deverão discutir objetivos comerciais, incluir KPIs para medir o progresso ou comunicar passos mais ambiciosos. Para atingir estes objetivos, as empresas devem reformular e partilhar políticas de gestão de dados que incluam orientações de responsabilidade e propriedade, normalizando-os para garantir a eficiência dos mesmos.

Implementar processos de reavaliação para garantir que as formas e sistemas de trabalho mais desatualizados consigam obter melhores resultados é também essencial para promover essa mudança de cultura. Atualizar constantemente a estratégia e os processos de dados de acordo com a evolução dos objetivos e dos KPI, aliada a uma comunicação consistente com as equipas são passos essenciais para aperfeiçoar os processos e adaptá-los consoante a evolução da situação.

Por último, é crucial tornar os dados acessíveis e compreensíveis para todos os colaboradores. Adotar mecanismos que transmitam confiança nos procedimentos estabelecidos, envolver a equipa nos programas de literacia de dados a todos os níveis e incorporar a compreensão e a importância de tratamento dos dados são etapas essenciais para que, enquanto a responsabilidade seja partilhada, se ofereça os conhecimentos necessários para reforçar a inovação e os novos conhecimentos sobre os dados. É necessário criar uma competência duradoura nos colaboradores em detrimento de investimentos de curto prazo nas suas formações uma vez que, a par da tecnologia, as competências dos colaboradores devem ser atualizadas com regularidade.

Cada colaborador pode ser um cientista de dados desde que esteja integrado numa estratégia consistente e com acesso a formação e a ferramentas de fácil utilização. Este é o passo mais importante para preparar o terreno para uma cultura de dados forte e sustentada, num mundo cada vez mais data-driven.

(*) Diretor de Vendas, Soluções e Arquitetura da Kyndryl Portugal