Por Weverton Parreira (*)
O que são testes? O que lhe vem à mente quando pensa em testes? Validar se o comportamento da aplicação é o esperado? Se tudo está correto?
Não é bem assim… Quando realizamos um teste partimos da premissa que existe um problema. Se não houvesse algum problema não seria preciso testar, certo? O objetivo do teste é encontrar o problema. O teste é uma busca por erros, no sentido de evitar defeitos no código e consequentemente falhas na execução da funcionalidade/software.
Numa única frase temos três conceitos diferentes, mas que muitos julgam ser o mesmo: o erro, o defeito e a falha. Um Erro basicamente é um engano. Seja na definição dos requisitos ou de outras interpretações do negócio. Quando o erro é introduzido no Código passa a chamar-se Defeito. E quando esse defeito é executado temos uma Falha.
Para exemplificar, imagine que eu sou analista num Banco. O Banco quer disponibilizar um novo tipo de empréstimo para os clientes. Então eu como analista que não entende de matemática financeira, faço uma fórmula para o cálculo dos juros a serem cobrados num empréstimo e acrescento à minha documentação dos Requisitos. A minha fórmula tem um Erro. O código é desenvolvido com base naquele erro e tem-se ali um Defeito. Mais adiante a funcionalidade vai para teste ou, na pior das hipóteses vai para produção, e quem vai validar aquele cálculo percebe que não está certo. Foi gerada uma Falha.
O cálculo errado pode ser tanto para um valor maior como menor. Se considerarmos que esse cálculo errado foi realizado já em produção temos como Falha um prejuízo para o banco ou para o cliente.
Quando pensamos em testes geralmente pensamos no ato de executar um teste de uma funcionalidade de um sistema. Daí a nossa tendência em achar que o teste é uma ação, mas na verdade o teste é um processo.
Esse processo é composto por sete passos:
- Planeamento: Deve planear-se as atividades e definir os objetivos dos testes;
- Controlo e Monitoramento: Aqui é o momento de comparar o progresso do que foi planeado e o progresso real;
- Análise: Basicamente é identificar as funcionalidades a serem testadas;
- Conceção: É o “como” testar cada condição. Gerar dados para testes, ambientes, etc;
- Implementação: Onde respondemos se já temos tudo o que é preciso para realizarmos os testes;
- Execução: Como o nome diz, é realmente executar os testes com base nos passos anteriores;
- Conclusão: Geração do diagnóstico. Identificação das falhas e geração do relatório para correções.
Temos também um fator interessante que é a Psicologia do Teste que costuma ser subestimada. A mentalidade do Developer é diferente da mentalidade do Tester. O Developer tem a mentalidade mais positiva, ele quer criar a solução para algo. Já o Tester tem uma mentalidade mais “negativa”, ele quer encontrar um defeito. Esse tipo de divergência pode gerar um certo conflito na equipa e por isso esse fator é tão importante de ser trabalhado.
Na psicologia temos um fator chamado “confirmação tendenciosa” que é a dificuldade que temos em aceitar uma informação contrária à nossa crença e consequentemente admitir que possamos ter cometido um erro. Então quando eu faço uma especificação, uma estória, eu assumo que aquilo está bom e correto. Se alguém se opõe, e considera que o que eu fiz não está correto, gera-se ali uma divergência porque eu terei sempre a tendência de acreditar que o que eu fiz está correto. Por isso é preciso essa interação entre as pessoas da equipa, para que se passe a ter uma visão mais ampla, aceitar a opinião do outro e gerir essas diferenças.
Assim como temos sete passos no processo de testes, temos também sete pilares:
- Os testes evidenciam a presença dos defeitos e não a sua ausência;
- Ausência de erros é uma falácia, porque todos os softwares que estão em produção têm falhas. Não existe um software sem falhas. O que acontece é que certas falhas precisam de dados tão incomuns, tão difíceis de serem encontrados, caminhos tão difíceis de serem percorridos, que aquela falha dificilmente se vai manifestar.
- Testes exaustivos são impossíveis.
- Os defeitos agrupam-se, percebendo-se onde está a maior parte dos defeitos consegue-se mais facilmente chegar à solução do problema;
- Testes são dependentes do seu contexto. Teste de softwares desenvolvidos em metodologias ágeis são diferentes dos testes para um desenvolvimento sequencial (waterfall)
- Paradoxo do pesticida: Refazer sempre os mesmos testes não trará resultados diferentes. É como nas plantações usar-se repetidas vezes um mesmo pesticida e este acaba por não ser mais eficaz porque os insetos já adquiriram resistência.
- Testar cedo poupa tempo e dinheiro. Os testes não precisam iniciar-se apenas ao final do desenvolvimento. Testes dinâmicos. Podemos iniciar os testes ainda na fase de definição dos requisitos com os chamados testes estáticos onde já se consegue prever possíveis falhas e tratá-las antes do desenvolvimento. Este tipo de teste é feito basicamente como uma revisão à documentação que será disponibilizada para o desenvolvimento.
Além disso podemos dividir os testes em duas categorias: Caixa Preta e Caixa Branca. Para ambas as categorias serão testados os componentes, as integrações e o sistema em si.
A diferença aqui é que os testes de Caixa Preta vão abranger os testes funcionais, não-funcionais e negociais. Já os testes de Caixa Branca vão servir para validar o código, a base de dados e a arquitetura. Por isso, esses testes devem ser feitos por pessoas Senior em cada uma das áreas. Uma alternativa quando não se pode ou não é viável ter uma equipa de testes de Caixa Branca, é ter um conjunto de boas práticas e alguém mais Senior na equipa para fazer uma validação. Existem ainda plataformas que conseguem validar essas boas práticas no caso de aplicações mais robustas.
Para finalizar o processo, passamos então aos testes de aceitação, que devem ser feitos por pessoas que não estiveram envolvidas nem nos testes de Caixa Branca, nem nos testes de Caixa Preta e preferencialmente alguém que tenha conhecimento do negócio.
Os testes ainda não têm sido um ponto de grande relevância para as empresas, mas a sua importância para o sucesso de um projeto é altíssima. Podemos ver essa diferença no índice de certificações. São apenas pouco mais de 721 mil certificações em testes no mundo em relação a milhões delas quando falamos em áreas de desenvolvimento de software.
Não subestime os testes porque este processo é o que define o sucesso do seu projeto.
(*) Consultor Funcional na Create IT
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