Por Rui Ribeiro e Paulo Veiga (*)

As PME, se excluirmos as micro, representam em Portugal cerca de 50 mil empresas, de acordo com os dados da Pordata, ou seja, 4% do tecido empresarial português, mas representam cerca de 45% da soma do volume de negócios de todas as empresas nacionais e empregam cerca de 1,5 milhões de pessoas.

Este pequeno enquadramento demonstra a importância nacional destas empresas na produtividade e economia portuguesa.

Contudo, os resultados alcançados não são positivos quando entendemos o que nos rodeia. Analisando a produtividade do trabalho realizado em Portugal face à média da União Europeia, entendemos que o drama existente se traduz nas reais ineficiências e eficácias do país e das empresas. Para ficar com o registo: a hora de produção portuguesa equivale a 65% da média europeia! Ou seja, para a mesma entrega, uma empresa portuguesa tem de fazer um esforço que é quase o dobro do europeu.

Em português popular: “muito suor e pouco sumo”!

Como é que é possível mudar, sabendo que o trabalhador português é dedicado e esforçado?

A resposta está na gestão e na ambição dessa mesma gestão. Ou seja, a mudança começa nos modelos de gestão e liderança empresarial. Estamos a meio da Quarta Revolução Industrial e já a iniciar a quinta, sendo que a realidade empresarial vive ainda com muitos métodos alicerçados de gestão da Terceira Revolução Industrial. Isto é, ainda vivemos no modelo de gestão do digitalizar e não no de transformar digitalmente os processos, alavancando o potencial da análise de dados e da antecipação, com factos, dos caminhos futuros dos negócios.

O negócio digital não é vender online, como é muitas vezes assumido. O negócio digital é entender as cadeias de valor das empresas e das várias cadeias de abastecimento, criando ou recriando novas formas de interação, de produção ou de entrega dos produtos e serviços, usando tecnologias como suporte. E a razão é simples, com a tecnologia em todos os processos consegue-se sensorizar, dito de outra forma, consegue-se ter produção de dados.

A partir desse momento, é possível estudá-los e conhecer o que efetivamente está mal, o que pode ser melhorado e o que pode ser antecipado. Deixa-se de viver em suposições, ou “achismos” (a típica resposta “Acho que …”), e passamos a viver com factos reais que nos permitam assegurar decisões mais certas, aumentando diretamente nas eficiências e eficácias da produtividade.

Para isso, é crucial a ambição digital das lideranças das empresas, que se traduz na redefinição estratégica das empresas, em particular, na criação de alinhamento da estratégia de negócio com uma estratégia digital. Sem ela, a produtividade vai piorar, pois a competitividade será ainda maior e nunca mais será (apenas) a nacional. A concorrência é já mais do que a europeia, é já mundial.

A ambição digital faz-se caminhando (e errando), mas fazendo e acelerando. A produtividade aumentará certamente e o país agradece.

(*) Rui Ribeiro é diretor-geral da IP Telecom, e Paulo Veiga é CEO da EAD. Ambos são autores do livro Transformação Digital – os desafios, o pensar e o fazer