
Por Ana Cristina Morais (*)
Durante quase uma década, a cloud híbrida foi promovida como uma ponte para um destino inevitável: a cloud pública total. Mas hoje, essa narrativa está a mudar. O relatório Private Cloud Outlook 2025 deixa claro que mais da metade dos líderes do setor de TI classificam agora a cloud privada como a principal prioridade para a implementação de novos workloads, e quase sete em cada dez estão a planear – ou já a executar – a repatriação de workloads críticas para ambientes privados.
Então, o que está a impulsionar esta inversão de marcha? Identifico três forças a agir simultaneamente.
Primeiro, o clima geopolítico atual é mais imprevisível do que nunca. As organizações estão a reavaliar as dependências de fornecedores externos e a localização física dos seus dados mais sensíveis. Eventos globais recentes — como restrições ao acesso a dados em determinadas regiões, resultantes de sanções internacionais, ciberataques a centros de dados externos ou fugas de informação sensível de clientes — vieram sublinhar a importância crítica de saber, com precisão, onde os dados estão armazenados e quem detém legitimidade para lhes aceder. Num mundo com requisitos cada vez mais rigorosos de soberania digital e localização geográfica dos dados, as empresas desejam flexibilidade para gerir workloads no local certo, no momento certo, nos seus próprios termos.
Segundo, a inteligência artificial (IA) mudou o jogo. Treinar modelos de IA robustos exige conjuntos de dados massivos consolidados num único local. Essa necessidade de concentração de dados contraria estratégias multi-cloud dispersas por vários fornecedores e jurisdições. Para muitas empresas, a forma mais prática de manter as workloads de IA eficientes, em conformidade e com custos controlados, é trazê-las de volta para um ambiente privado, que possa escalar de forma segura, integrar-se com sistemas legados e oferecer um desempenho previsível.
Terceiro, a própria tecnologia evoluiu. Os avanços em arquiteturas de containers, infraestruturas hiperconvergentes e ferramentas de orquestração eliminaram muitas das vantagens técnicas que antes eram exclusivas dos grandes fornecedores de cloud pública. Hoje, uma cloud privada moderna consegue oferecer o mesmo nível de automação, elasticidade e escalabilidade — mas com maior controle e governo. Além disso, essas soluções podem operar de forma integrada entre data centers próprios e locais de colocation, geridos como um único ambiente unificado.
A pressão regulatória está a acelerar esta tendência. Na Europa, quadros como o DORA, a NIS2, o RGPD e o SecNumCloud exigem níveis cada vez mais elevados de soberania, resiliência e auditabilidade. Para grandes organizações sujeitas a múltiplos regimes de conformidade sobrepostos, manter-se à frente das auditorias implica recuperar o controlo sobre infraestruturas críticas. Isto explica a preferência crescente por soluções híbridas, de cloud privada e soberana — capazes de demonstrar, sob escrutínio, que os dados permanecem exatamente onde devem estar.
Por fim, não podemos ignorar o papel da confiança. À medida que a IA transforma a forma como as empresas interagem com os seus clientes, cada resposta automatizada ou recomendação representa um risco reputacional. Um incidente de segurança, um viés algorítmico ou uma interação mal gerida podem comprometer a confiança num instante. As organizações têm hoje uma responsabilidade legal e ética de garantir que a sua infraestrutura e, por extensão, a sua IA são seguras, explicáveis e devidamente governadas.
A mensagem é clara: a cloud privada não é uma peça do passado, é um pilar estratégico para o futuro. Especialmente para organizações que lidam com dados sensíveis, implementam IA avançada ou operam sob forte escrutínio regulatório, a cloud privada pode oferecer a combinação certa de controlo, segurança e desempenho.
As empresas que irão liderar nesta nova era serão aquelas que encontrarem o equilíbrio certo: tirar partido da agilidade e inovação da cloud pública onde faz sentido, mantendo os seus ativos mais críticos e valiosos numa cloud privada de confiança, com elevado desempenho e capacidade de adaptação ao ritmo do negócio.
(*) Head of Cloud, DXC Technology em Portugal
Pergunta do Dia
Em destaque
-
Multimédia
O árbitro já apitou: FC 26 joga-se nas quatro linhas em formato virtual -
App do dia
Wikiloc é uma app para fãs de caminhadas que querem descobrir novas aventuras na natureza -
Site do dia
Crie música através de prompts de IA com a plataforma Mozart.AI -
How to TEK
Saiba como criar grupos de separadores no Chrome e sincronize em todos os equipamentos
Comentários