Hoje assinala-se o décimo aniversário do Dia Internacional das Raparigas nas TIC e, para comemorar a data e dar início à Girl in ICT Week, o webinar “Dia Internacional das Raparigas nas TIC: Conversas sobre Tecnologia” foi o palco de central para a partilha de experiências entre mulheres que estão a dedicar a sua vida à tecnologia.

Para abrir a sessão, que decorreu também na data em que se assinala o Dia da Terra, Luísa Ribeiro Lopes, presidente do .PT e coordenadora do Eixo da Inclusão do InCoDe.2030, relembra as palavras de David Attenborough no seu mais recente livro “Uma vida no nosso planeta”, que defende que “retirar as pessoas da pobreza e empoderar as mulheres é a via mais rápida para se garantir a sustentabilidade do planeta”.

“O empoderamento traz liberdade de escolha e quando a vida oferece mais opções às mulheres elas fazem opções mais sustentáveis”. Combinar sustentabilidade e tecnologia é uma missões do projeto Digital With Purpose, ao qual Portugal se associou no ano passado.

“Cumpre-nos alertar para a importância que a transição digital assume na recuperação do pós-pandemia”, afirma Luísa Ribeiro Lopes. A responsável sublinha porém que a transformação só será efetiva “se transversalmente se incluir a questão de género”.

Como se refere no Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), cuja versão final foi hoje entregue à Comissão Europeia, a transição digital obriga a uma “particular atenção à profunda sub-representação das mulheres na área das tecnologias de informação e comunicação”.

Assim, o combate aos estereótipos no mundo digital deve estar presente desde a escola até á qualificação da população ativa onde os programas de capacitação digital terão uma representação equilibrada de género.

Estima-se que a Europa precise de 800.000 trabalhadores em TIC, mas a grande questão que se coloca é: “como é que se invertem os números que mostram que apenas 21,3% dos estudantes do ensino superior em TIC são mulheres e que menos de 1% do emprego total feminino é nestas áreas”?

É neste âmbito que os programas de incentivo e fomento dos talentos assumem um papel de grande relevância, com o reverter das atuais tendências a ser uma missão à qual o governo se compromete.  Através deles é possível quebrar preconceitos e demostrar que “o lugar da mulher é onde ela quiser e poderá ser certamente nas TIC”, enfatiza Luísa Ribeiro Lopes.

Em linha com a responsável do .PT e do InCoDe.2030, Rosa Monteiro, Secretária de Estado para a Cidadania e a Igualdade, defende que é necessário “colocar a participação das mulheres num local central da transformação digital”. “Nunca como hoje a igualdade de género foi tão assumida nas políticas sectoriais das tecnologias e do digital e como condição imprescindível de desenvolvimento”, afirma.

Porém, no período de grande transformação em que vivemos, “as soluções digitais para a crise confrontam-se a vários níveis com os reduzidos níveis de participação das mulheres no digital em Portugal, arriscando até agravar desigualdades pré-existentes”.

Há, assim, uma “importância de fechar o Gender Digital Gap”, sublinha a Secretária de Estado, algo que terá de ser realizado através de “ações e metas muito concretas”, alargando e consolidando, por exemplo, projetos como o Engenheiras Por Um Dia, que já alcançou quase 10 mil jovens dos ensinos básico e secundário, e seguindo os objetivos estabelecidos no PRR para esta área.

“Estas são ações muito concretas que estamos a desenvolver e que consolidam e reforçam o trabalho que temos vindo a fazer para caminharmos de forma sustentada para um Portugal mais igual e digital”, sublinha Rosa Monteiro.

Por entre desafios e oportunidades: as histórias de mulheres que querem ir mais além

No painel “Mulheres nas TIC: Desafios e Oportunidades” um conjunto de mulheres portuguesas que trabalham atualmente na área da tecnologia deram a conhecer na primeira mão as suas experiências.

Matilde Buisel, da CDI Portugal e Apps For Good, destaca que é muito motivador poder inspirar as gerações mais novas a usar a tecnologia para ajudar a resolver os problemas do mundo, em particular as raparigas, cuja atenção é, por vezes mais difícil de captar.

O projeto do Apps For Good ajuda as raparigas a ganhar uma nova perceção do que é a tecnologia e de como esta pode mudar as suas vidas e os seus rumos profissionais, sendo mesmo uma oportunidade de superação de receios

“A tecnologia não é só para os rapazes” e, relembrando as experiências positivas de muitas das jovens que passaram pelo projeto, Matilde Buisel recorda uma mensagem de incentivo deixada por uma estudante: “Se eu consigo fazer isto, consigo fazer qualquer coisa”.

Já Sandra Miranda conta que, na altura em que ainda trabalhava numa consultora, antes da sua entrada na Microsoft, sentia alguma vergonha por ser uma mulher com formação em engenharia aeroespacial num mundo liderado por homens que vinham de áreas como gestão.

Mas, com o passar do tempo, a sua perspetiva foi mudando e uma das grandes lições que acabou por tirar foi a de que a diversidade é essencial. “A melhor forma de resolvermos problemas é termos equipas diversas”.

“Mesmo com minorias entre maiorias: O valor que nós trazemos ao trabalho fala mais alto. Arrisquem, porque nós precisamos de mulheres no mundo da tecnologia.”, enfatiza Sandra Miranda.
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A superação de preconceitos num universo muitas vezes dominado por homens fica também bem patente nas experiências de Susana Sargento, professora da Universidade de Aveiro, Lara Campos Tropa da IBM, Joana Rafael da Sensei, Beatriz Macedo, da Kirchhoff Automotive e uma das jovens que participou no programa de mentoria da Portuguese Women In Tech e Mariana Cruz, aluna da Escola 42.

Daniela Braga, CEO da Defined Crowed, afirma que o caminho de luta contra a desigualdade não é fácil e que são muitas as mulheres que, tal como ela, tiveram de se esforçar três vezes mais para chegarem ao lugar onde estão e de lidar com múltiplos preconceitos. Não é um caminho para os “faint of heart”, mas desistir não é uma opção.

No fecho da sessão, Rosa Monteiro aproveita para deixar uma palavra aos decisores políticos na área da economia, apelando para que reconheçam as vantagens do talento feminino e que se empenhem verdadeiramente na promoção da igualdade e da justiça. A remoção das barreiras que existem é algo decisivo, mas “não é uma aventura individual”.

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