Março ficou marcado pela audição do CEO do TikTok no Congresso dos Estados Unidos, naquele que pode ter sido um passo decisivo para o bloqueio definitivo da aplicação no país. Entretanto, o TikTok já foi proibido em instituições federais e públicas de diferentes Estados norte-americanos, ainda que a popularidade da app não pare de crescer no país. Na União Europeia e no Reino Unido há decisões idênticas, mas na verdade a aplicação da ByteDance está longe de ser a única usada com sucesso em países do ocidente.

Num artigo publicado este fim-de-semana, a BBC destaca outras três apps em clara ascensão e, pelo menos até à data, fora do radar das preocupações com a privacidade dos dados de quem as utiliza. Segundo dados compilados pela Apptopia, estas três apps estão no top 10 das aplicações móveis gratuitas mais descarregadas nos Estados Unidos. São elas: CapCut, Shein e Temu.

A primeira, CapCut, é uma aplicação de edição de vídeo, que ajuda a criar vídeos virais adicionando-lhes sons, filtros e outros efeitos especiais. É detida pelo mesmo grupo que controla o TikTok e foi descarregada 13 milhões de vezes em fevereiro (Sensor Tower).

Em Portugal, a CapCut aparece no ranking da Apptopia como a quarta mais popular e mais descarregada entre utilizadores do iOS, os dados disponíveis são do início de fevereiro. No Android, a CapCut ocupava a 20ª posição do ranking.

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Outro fenómeno de popularidade é a Shein, app de uma loja de roupa online, fundada pelo bilionário chinês Chris Xu e direcionada para a população mais jovem. Aposta em força na promoção em redes sociais e converteu-se num sucesso, pelo menos a avaliar pela posição nos tops de popularidade das empresas de estudos de mercado. Em Portugal, era a terceira app mais descarregada em fevereiro para Android e a segunda mais descarregada no iOS. Nos Estados Unidos ocupava a terceira e quarta posições nos dois ecossistemas.

Outro sucesso chinês em terras americanas, que ainda não está disponível em Portugal, é a Temu. O conceito desta loja online que vende quase tudo é o facto de permitir a compra direta a fabricantes, eliminando intermediários. Os preços são muito baixos e a campanha publicitária na última edição do Super Bowl ajudou a passar a mensagem. A app já é mais popular que a da Amazon ou que a do Wallmart. A sede da Temu é em Boston, mas pertence ao grupo chinês PDD Holdings.

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Especialistas consultados pela BBC, explicam o sucesso das apps chinesas no mercado ocidental com a experiência acumulada no seu gigantesco mercado doméstico, altamente concorrencial nessas áreas, que lhes permitiu apurar formas de agradar ao consumidor. Por exemplo, desenvolver algoritmos de recomendação altamente eficientes, como refere Zeyi Yang, jornalista e investigador do MIT Review, especializado em tecnologia chinesa.

Também consultado pela BBC e respondendo a uma questão sobre o real risco para a segurança nacional do ocidente, da utilização de aplicações chinesas, Paul Scherer admite que riscos existem.

O autor do livro Four Battlegrounds: Power in the Age of Artificial Intelligence sublinha que, enquanto nos Estados Unidos e noutros países ocidentais as empresas chegam a contestar em tribunal pedidos dos seus Governos (a Apple já o fez), na China essa opção não se coloca. Se o Governo solicitar informação a uma empresa, “não há direito de escolha”. O autor admite, no entanto, que a forma como os EUA e o resto do mundo gerirem o sucesso das apps chinesas fora da China terá “consequências profundas na liberdade de expressão e da informação a nível global”.

Para o mesmo autor, a forma certa de endereçar o problema é aprovar leis de proteção da privacidade efetivas, referindo-se sobretudo aos Estados Unidos, e sublinhando que sem isso qualquer app pode ser um veículo de acesso a informação privada, independentemente do país de origem.

"Penso que as pessoas devem ser cépticas em relação a todas as aplicações. Abrem mão de muitos dados nos seus telefones, sem compreenderem completamente o que estão a aceitar, que informação é que a empresa está a obter, ou como a estão a utilizar", sublinha o responsável.