Lançado a 1 de julho de 2023, o telescópio espacial Euclid foi projetado para investigar o “universo negro” como uma espécie de detetive. Está posicionado a cerca de 1,6 milhões de quilómetros da Terra, orbitando o chamado “Segundo Ponto de Lagrange” (L2) no sistema Terra-Sol.

O seu objetivo principal é analisar as inúmeras galáxias que residem a cerca de 10 bilhões de anos-luz de distância, construindo o mais extenso e detalhado mapa 3D da distribuição da matéria escura no Universo.

Depois de em novembro do ano passado ter divulgado as primeiras imagens registadas, a ESA anunciou que o telescópio começou oficial e efetivamente a “trabalhar” no mapeamento, mas antes teve de receber uns ajustes de última hora.

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Uma das grandes vantagens do Euclid é sua capacidade de “varrer” vastas áreas do céu de uma só vez, algo essencial para uma missão que visa mapear mais de um terço do céu ao longo de seis anos.

O telescópio segue um modo de observação chamado “passo a passo”, dedicando cerca de 70 minutos para observar uma área, produzindo imagens e espectros, e depois movendo-se para a próxima área em apenas quatro minutos. Ao longo de toda a missão, o fará mais de 40 mil de observações do género.

No entanto, logo depois de ligar os instrumentos do Euclid pela primeira vez, a equipa percebeu que seria preciso redesenhar todo o levantamento. O problema era que uma pequena quantidade de luz solar indesejada atingia o instrumento visível do Euclid (VIS) em ângulos específicos, mesmo com o escudo solar do observatório espacial (a sua parte traseira) virado para o astro-rei.

“O plano original era que o Euclid mantivesse o escudo solar voltado para o Sol. Mas logo após o lançamento, foi detetada a luz perturbadora do Sol nas imagens de teste”, explica Ismael Tereno, da Universidade de Lisboa, e líder da equipa de apoio às operações de pesquisa Euclid, apoiada pela Agência Espacial Portuguesa.

Para a luz desaparecer, o telescópio teria de fazer as observações com uma orientação diferente em relação ao Sol e isso significava que o desenho original do mapeamento já não iria funcionar.

“Tivemos que criar rapidamente uma nova estratégia, implementá-la e testá-la”, acrescenta João Dinis, também da Universidade de Lisboa, que juntamente com Ismael foi responsável pelo redesign do levantamento.

Foi graças a estas alterações que o Euclid começou oficialmente o seu “inquérito” esta quarta-feira, dia 14 de fevereiro.  O telescópio está programado para observar uma área de 130 graus quadrados – mais de 500 vezes a área da Lua cheia – ao longo dos próximos 14 dias.

Recorde-se que a derradeira intenção do Euclid é “fazer luz” sobre a matéria escura e a energia escura, dois dos ingredientes ainda desconhecidos que compõem a maior parte do Universo. Outro dos objetivos passa por ajudar os cientistas a compreender o que está a acelerar a expansão do Universo.

Ao longo de 2025, o telescópio espacial deverá completar cerca de 15% do objetivo total de pesquisa. Este primeiro ano de dados será divulgado à comunidade no verão de 2026, refere a ESA. Está prevista uma divulgação menor de dados de observações de campo para a primavera de 2025, acrescenta a agência espacial europeia.