O Hubble ajudou a descobrir detalhes impressionantes sobre um cometa que os cientistas observavam a partir da Terra desde 2010. O núcleo do C/2014 UN271 (batizado como Bernardinelli-Bernstein, em homenagem aos cientistas que o descobriram) será cerca de 50 vezes maior que a média dos cometas descobertos até à data. Tem um diâmetro de 136 quilómetros.

O maior cometa descoberto até agora tem um núcleo com um tamanho estimado de 97 quilómetros, é o C/2002 VQ94, identificado em 2002 no âmbito do projeto Lincoln Near-Earth Asteroid Research (LINEAR). O Neowise, que passou perto da Terra em 2020, tem um diâmetro de cerca de cinco quilómetros.

NASA - comaparação de tamanhos dos núcleos de vários cometas
NASA - comaparação de tamanhos dos núcleos de vários cometas créditos: NASA

O UN271 tem quatro mil milhões de anos e foi observado pela primeira vez em 2010, mas ainda não tinha sido possível perceber a dimensão do núcleo sólido do cometa, no meio da nuvem de poeira que o envolve. Os cientistas tinham a suspeita que seria grande, pela intensidade do brilho, tendo em conta a distância a que está da Terra, mas com telescópios terrestres não era possível precisar.

Foi preciso o Hubble entrar em ação, em janeiro deste ano, para conseguir reunir esses dados, ainda que a distância também não tivesse permitido obter uma resposta simples, a partir das imagens recolhidas.

Processo de análise do UN271
Processo de análise do UN271 créditos: NASA

Ainda assim, o telescópio conseguiu captar o ponto de luz do cometa e a partir dele os astrónomos criaram um modelo para determinar o tamanho da nuvem de poeira e gás que envolve o núcleo (designada por coma ou atmosfera). Usaram depois esses dados para determinar o tamanho do núcleo, constituído por gelo, poeiras e pequenas partículas rochosas.

Outra descoberta feita a partir dos dados agora recolhidos é que o núcleo deste cometa é negro, como descreveu o astrónomo David Jewitt, da Universidade da Califórnia em Los Angeles, co-autor do estudo que resultou da análise dos dados, publicado esta semana no The Astrophysical Journal Letters.

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Os cientistas explicam a importância da descoberta, que evidencia uma enorme diversidade destes corpos. "Este cometa é literalmente a ponta do iceberg para muitos milhares de cometas que são demasiado ténues para serem vistos nas partes mais distantes do sistema solar".

Se viu o filme de Leonardo Di Caprio “Não Olhe Para Cima”, que relata a aproximação à Terra de um cometa que acaba por destruir o planeta, é quase inevitável a pergunta…e se? Mas pode ficar tranquilo.

Os cientistas já garantiram que o mais perto que o UN271 ficará do sol é a uma distância de 1,6 mil milhões de quilómetros e isso só acontecerá em 2031. O cometa não está na rota da Terra. Segue viagem no extremo do sistema solar, a 35.000 km/h, carregando uma massa com um peso estimado de 500 biliões de toneladas, 100 mil vezes mais que num cometa “normal”.