Foram reveladas as primeiras imagens baseadas nos dados recolhidos pelo satélite Biomass da Agência Espacial Europeia, que nos próximos cinco anos vai ajudar os cientistas a saber mais sobre as grandes florestas da Terra e o seu impacto no armazenamento de carbono.

Ainda em fase final de afinações, o satélite já recolheu dados impressionantes de florestas, desertos e glaciares, trabalhados já e mostradas pela primeira vez no Simpósio Planeta Vivo 2025 em Viena, dois meses após o lançamento da missão. Equipado com um radar de abertura sintética, com um comprimento de onda maior que o de outros instrumentos usados para o mesmo fim, o satélite promete dados únicos que já começou a recolher.

Os primeiros elementos recolhidos pela missão Biomass mostram que será possível contar agora com muito mais detalhes sobre a flora e a orografia das grandes florestas, desertos ou glaciares do planeta. Esses dados serão usados em modelos climáticos, esforços de conservação e para a contabilização do carbono. O satélite vai, por exemplo, conseguir medir a quantidade de madeira por hectare para poder estimar a quantidade de carbono armazenada nas florestas.

Imagens mais detalhadas, dados mais rigorosos

Uma das imagens divulgadas mostra uma floresta tropical na Bolívia, próxima de planícies aluviais ribeirinhas. É uma zona que tem sofrido com a desflorestação, sobretudo por causa da expansão agrícola. As diversas cores mostram ecossistemas distintos: verde para a floresta tropical, vermelho para as zonas húmidas florestadas e planícies aluviais e azul-púrpura para as pastagens. A linha escura é o rio Beni.

Comparando a imagem criada a partir destes dados mais recentes, com a mesma paisagem vista pelo Copernicus Sentinel-2, constata-se que só com ajuda do radar de banda P do Biomass é possível captar toda a estrutura vertical da floresta por baixo da copa das árvores. As imagens criadas com dados do Sentinel-2 só permitiam conhecer caraterísticas da superfície. Esta diferença vai dar ao novo instrumento uma maior eficácia na medição da biomassa florestal e do teor de carbono, graças à visão 3D das florestas que consegue proporcionar.

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Na imagem do norte do Brasil, que também faz parte da mesma coleção, os tons vermelho e rosa indicam zonas húmidas florestadas e planícies aluviais, enquanto as regiões verdes retratam floresta densa e uma topografia mais acidentada. Mais uma vez, refletem o potencial do satélite para monitorizar a saúde e a estrutura da floresta, em áreas remotas e ecologicamente críticas da bacia amazónica.

Também na imagem da floresta tropical montanhosa de Halmahera, na Indonésia, o radar do novo satélite consegue penetrar na copa das árvores da densa florestação e expor os contornos dos vulcões e o chão da floresta circundante.

Em África, o satélite consegue revelar estruturas ocultas sob as areias do Saara no norte do Chade, graças à capacidade do radar de banda P para penetrar até cinco metros abaixo da superfície do deserto, expondo as formas de antigos leitos de rios e formações geológicas enterradas.

As paisagens geladas da Antártida, também estão retratadas neste primeiro conjunto de imagens, com detalhes de estruturas abaixo do gelo que podem vir a ser fundamentais para conhecer melhor a dinâmica e a estabilidade das camadas de gelo e da subida do nível do mar.

Veja o vídeo da ESA sobre a missão Biomass

"Estas primeiras imagens são nada menos que espetaculares - e são apenas um vislumbre do que ainda está para vir", sublinhou Michael Fehringer, gestor do projeto Biomass da ESA, num comunicado. "Como é rotina, ainda estamos na fase de comissionamento, ajustando o satélite para garantir que fornece dados da mais alta qualidade para os cientistas determinarem com precisão a quantidade de carbono armazenada nas florestas do mundo".