A identificação da presença de ozono e dióxido de carbono foi feita com a utilização do Trace Gas Orbiter (TGO) da ExoMars, que estuda Marte a partir da órbita do planeta há mais de dois anos. A missão tem como objetivo entender a mistura de gases que compõem a atmosfera marciana, com foco especial no mistério em torno da presença de metano, mas os cientistas ficaram agora surpreendidos e intrigados com as novas descobertas, que garantem porém que não invalidam os resultados anteriores.

A identificação dos novos gases é relatada em dois novos artigos publicados na Astronomy & Astrophysics, um liderado por Kevin Olsen, da Universidade de Oxford, Reino Unido, e outro liderado por Alexander Trokhimovskiy, do Instituto de Pesquisa Espacial da Academia Russa de Ciências, em Moscovo, na Rússia.

“Estão na faixa exata do comprimento de onda em que esperávamos ver os sinais mais fortes de metano. Antes dessa descoberta, o recurso de CO2 era completamente desconhecido, e é a primeira vez que o ozono em Marte é identificado nesta parte da faixa de comprimento de onda de infravermelhos”, refere Kevin Olsen, citado pela ESA.

Os artigos relevam novos segredos sobre a atmosfera marciana e permitirão uma determinação mais precisa da existência de metano, um gás associado à atividade biológica ou geológica, no planeta.

A atmosfera marciana é dominada pelo CO2, que os cientistas observam para medir temperaturas, rastrear estações, explorar a circulação de ar e muito mais. O ozono - que forma uma camada na atmosfera superior em Marte e na Terra - ajuda a manter a química da atmosfera estável. Tanto o CO2 quanto o ozono foram vistos em Marte em missões anteriores, como o Mars Express da ESA, mas a sensibilidade do instrumento ACS (Atmospheric Chemistry Suite) no TGO foi capaz de revelar novos detalhes sobre como esses gases interagem com a luz.

Os cientistas já tinham mapeado a forma como o ozono marciano varia com a altitude. Até agora, porém, isso ocorreu em grande parte através de métodos que dependem das assinaturas de gás nas faixas ultravioleta, uma técnica que só permite a medição em grandes altitudes (mais de 20 km acima da superfície). Os novos resultados da ACS mostram que é possível mapear o ozono marciano também no infravermelho, para que seu comportamento possa ser investigado em altitudes mais baixas para criar uma visão mais detalhada do papel do seu papel no clima do planeta.

"Estamos a trabalhar ativamente na coordenação de medidas com outras missões", esclarece Kevin. "Em vez de contestar qualquer reivindicação anterior, essa descoberta é um motivador para todas as equipes olharem mais de perto - quanto mais sabemos, mais profunda e precisamente podemos explorar a atmosfera de Marte".

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A origem do metano em Marte tem vindo a ser estudada por outras missões da ESA, como o Mars Express, a partir da órbita do planeta vermelho, mas também com o rover Curiosity da NASA na superfície, e continua a intrigar os cientistas. Embora também seja gerado por processos geológicos, a maior parte do metano na Terra é produzida pela vida, das bactérias ao gado e à atividade humana. Detectar metano em outros planetas é, portanto, "extremamente empolgante". Isso é especialmente verdadeiro, considerando que o gás se decompõe em cerca de 400 anos, o que significa que qualquer metano presente deve ter sido produzido ou libertado num passado relativamente recente.

A ExoMars foi lançada em 2016 para Marte em cooperação com a agência espacial russa, e leva tecnologia portuguesa a bordo, seguindo os passos da Mars Express, que orbita o planeta há uma década e que identificou variações no metano existente na atmosfera daquele planeta. Foi esta descoberta que deu o mote para o lançamento da ExoMars, que vai medir os gases na atmosfera do planeta vermelho durante os próximos anos.

"Estas análises estabelecem novos padrões para futuras observações espectrais e nos ajudarão a desenhar uma imagem mais completa das propriedades atmosféricas de Marte - incluindo onde e quando pode ser encontrado metano, o que permanece uma questão fundamental na exploração de Marte", defende Håkan Svedhem, responsável pelo projeto TGO da ESA. "Cada informação revelada pelo ExoMars Trace Gas Orbiter marca o progresso em direção a um entendimento mais preciso de Marte e nos coloca um passo mais perto de desvendar os mistérios remanescentes do planeta"

Marte está na rota das principais missões de exploração espacial, e depois do lançamento de duas sondas na semana passada, uma dos Emirados Árabes Unidos e outra da China, esta semana a NASA vai lançar mais uma missão a Marte com o rover Perseverance que se junta a outros exploradores que têm vindo a percorrer o planeta vermelho.