Em setembro de 2020, um grupo de investigadores do Reino Unido anunciou a descoberta de indícios de fosfina nas nuvens de Vénus, “abrindo a porta” à teoria de que existem microorganismos no planeta. Agora, um novo estudo liderado por investigadores da Universidade de Washington nos Estados Unidos questiona a descoberta e sugere que os indícios encontrados podem ser afinal de dióxido de enxofre.

De acordo com a investigação, que contou com a colaboração de especialistas da NASA, do Georgia Institute of Technology e da Universidade da Califórnia em Riverside, os sinais descobertos pela equipa da Universidade de Cardiff não tiveram origem nas nuvens do planeta, mas sim numa camada da sua atmosfera onde as moléculas de fosfina seriam destruídas num espaço de segundos.

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Para chegarem às suas conclusões, os cientistas recorreram a um modelo das condições da atmosfera de Vénus, reinterpretando os sinais captados pela equipa britânica através do telescópio James Clerk Maxwell e, mais tarde, pelo Atacama Large Millimeter/submillimeter Array (ALMA).

Andrew Lincowski, investigador da Universidade de Washington e um dos autores principais do estudo, explica que o modelo é composto por uma compilação de dados de observatórios terrestres e de missões espaciais, como a Venus Express da Agência Espacial Europeia.

Os especialistas simularam as linhas espectrais produzidas tanto pela fosfina como pelo dióxido de enxofre a vários níveis de altitude na atmosfera de Vénus. Os resultados demonstraram que os sinais, detetados a 266,94 GHz, têm uma origem muito provável na mesosfera do planeta, a qual é abundante em dióxido de enxofre e onde a fosfina não consegue resistir às condições inóspitas.

Clique nas imagens para recordar a descoberta feita pelos investigadores em setembro

A equipa norte-americana defende também que o telescópio ALMA subestimou significativamente a quantidade de dióxido de enxofre que existe na atmosfera do planeta, um problema que poderá ter tido origem na configuração das suas antenas.