O satélite Gaia está no espaço desde 2013 e tem vindo a mapear o posicionamento, as distâncias e os movimentos das estrelas da Via Láctea. Através dos dados recolhidos pelo satélite da Agência Espacial Europeia um grupo de investigadores da Universidade de Berkeley conseguiu criar um mapa 3D de todas os sistemas binários de estrelas que existem a uma distância de 3.000 anos-luz da Terra.

De acordo com o estudo publicado na revista científica Monthly Notices of the Royal Astronomical Society, que foi liderado pelo investigador Kareem El-Badry, foi possível identificar mais de um milhão de sistemas binários de estrelas na porção da Via Láctea que foi analisada.

Os sistemas binários são mais comuns do que se possa pensar e representam pelo menos metade de todas as estrelas semelhantes ao nosso Sol na Via Láctea. Uma vasta porção dos sistemas inclui estrelas cuja distância entre si é superior a 10 unidades astronómicas, ou seja, 10 vezes superior à distância que existe entre a Terra e o Sol.

Estelas binárias captadas pelo satélite Gaia da ESA
Estelas binárias captadas pelo satélite Gaia da ESA créditos: ESA

O grupo de especialistas, que incluiu também Tyler Heintz, da Universidade de Boston, e Hans-Walter Rix, do Instituto de Astronomia Max Planck, na Alemanha, recorreu a um conjunto de técnicas computacionais para identificar as estrelas, tomando por base o mais recente conjunto de dados do satélite Gaia, o qual data de dezembro de 2020.

Embora a técnica possa levar a alguns falsos positivos, os investigadores indicam que 1,3 milhões de pares têm uma hipótese de 90% de serem verdadeiras estrelas binárias

Investigadores criam mapa com mais de um milhão de estrelas binárias através de dados do satélite Gaia
Investigadores criam mapa com mais de um milhão de estrelas binárias através de dados do satélite Gaia Segundo a investigação, o ponto mais brilhante à esquerda da Via Láctea contem mais de 1 milhão de sistemas binários de estelas. créditos: Kareem El-Badry/UC Berkeley e Jackie Faherity/ AMNH

Os cientistas detalham que 25% das estrelas estão separadas por uma distância superior a 30 unidades astronómicas. Além disso, algumas das estrelas identificadas contam com uma separação mais extrema entre si de 260.000 unidades astronómicas, o equivalente a 3,26 anos-luz.

O mapa de estrelas apresenta um vasto conjunto de anãs brancas, as quais compõem cerca de 1,400 dos sistemas encontrados. Já 16.000 são compostos por uma anã branca e por outro tipo de estrela. Foi possível verificar também que muitos dos pares de estrelas têm massas semelhantes apesar da distância existente entre elas.

Recorde-se que, ainda em maio do ano passado, o satélite Gaia conseguiu registar mais de 1,7 milhões de estrelas. Para comemorar a ocasião, a ESA produziu um vídeo com a animação de como o satélite executa os registos em forma de círculos, até ser desdobrado, revelando uma panorâmica da Via Láctea e até galáxias vizinhas.