Durante a Conferência dos Oceanos das Nações Unidas, que teve lugar em Lisboa esta semana, foi feita uma atualização sobre o que já está mapeado sobre o fundo dos oceanos. Na mais recente atualização, foi referido que já foi mapeado 23,4% da área subaquática dos oceanos e apenas no último ano foram adicionados 10 milhões de quilómetros quadrados ao mapa.

Segundo refere a BBC, a mais recente expansão do mapeamento deve-se sobretudo aos dados que as instituições, governos e empresas têm contribuído dos seus próprios arquivos para o projeto. Muitos destes dados são mantidos em sigilo porque podem revelar segredos comerciais ou de defesa, mas segundo o diretor do projeto Seabed 2030, Jamie McMichael-Phillips, não existe motivo de preocupação. Para o projeto de mapeamento as imagens fornecidas não precisam de ter qualidade de alta resolução, as de baixa também funcionam bem.

Veja na galeria algumas das embarcações que estão a mapear os oceanos:

A Seabed 2030 é uma organização que está a tentar reunir toda a informação possível sobre o fundo dos oceanos do planeta e construir um mapa completo até 2030. Segundo a organização, ter o conhecimento dos oceanos é importante por diversas razões, tais como aumentar a segurança na navegação, gestão das pescas e claro, a conservação das águas. É referido que a vida marinha tende a congregar-se em torno das montanhas subaquáticas e cada um dos lugares é um hotspot de biodiversidade.

Por outro lado, a textura do solo oceânico influencia o comportamento das correntes e da mistura vertical da água. Estas informações são essenciais para melhorar os modelos de previsão das mudanças climáticas, já que os oceanos têm um papel-chave no calor distribuído pelo planeta.

A organização anunciou uma nova parceria com a The Nippon Foundation (a principal financiadora do projeto) e a GEBCO (General Bathymetric Chart of the Oceans) para completar o mapeamento do oceano até 2030. E todos os dados compilados serão disponíveis gratuitamente no mapa oceânico que está a ser criado pela GEBCO.

“Apesar de cobrir cerca de 70% do planeta, o nosso conhecimento do que existe debaixo desta superfície azul tem sido severamente limitado. Sem esta informação crucial não conseguiremos ter um futuro sustentável”, referiu Mitsuyuki Unno, diretor executivo da The Nippon Foundation. Disse ainda que um mapa completo da superfície do oceano é uma ferramenta imprescindível para resolver os desafios ambientais, incluindo a poluição marinha e dessa forma salvaguardar o futuro do planeta.

O Seabed 2030 é um dos programas da Ocean Decade, uma iniciativa das Nações Unidades que pretende mobilizar governos, o sector privado, cientistas e sociedade civil para desenhar e entregar conhecimento transformativo; que possam levar a ações que revertam o declínio da saúde do oceano e permitam as mudanças para uma gestão sustentável do ambiente marinho.

A iniciativa convida a todos os interessados a utilizar equipamento de sonar para palmilhar o fundo dos oceanos, sejam eles grandes navios ou pequenos iates podem contribuir para a causa. A BBC refere o novo navio do Reino Unido, o RRS Sir David Attenborough, tem equipamento para registar milhões de quilómetros quadrados durante a sua carreira. Mas há outros “empreiteiros” que encontram “buracos” no mapeamento durante as suas deslocações e acabam por fazer expedições, desviando-se um pouco das suas rotas para dar o seu contributo.

Ainda assim, muitas partes do planeta são tão remotas que poucos navios os visitam, o que dificulta obter dados sobre o oceano profundo. Os investigadores já estão a utilizar pequenas embarcações autónomas para fazer os registos, como é o caso do Saildrone Surveyor, que fez uma viagem entre São Francisco e Honolulu no ano passado. A sua viagem foi de 28 dias e permitiu ao robot registar 22 mil quilómetros de superfície oceânica.

A empresa de robótica marinha Ocean Infinity está a construir barcos no Vietnam de 78 metros de comprimento, que apesar de não terem ainda autorização para navegar sem tripulação, pretende no futuro que sejam autónomos. Estes barcos, vigiados via satélite, poderão dar um grande contributo no mapeamento aos locais, com custos muito inferiores e com segurança por não ter ninguém a bordo.

O objetivo parece bem traçado: até 2030 é preciso ter 100% dos oceanos mapeados e a tecnologia vai ter um papel crucial para conseguir cumprir as metas.