A confirmar-se, é uma descoberta que pode ajudar a desvendar os mistérios do centro da Terra: um novo estudo sugere que a enorme bola de ferro que constituirá o núcleo do planeta está “embrulhada” por uma estrutura que se acredita ser o fundo de um oceano antigo, “denso, porém fino”.
A mais de 3.200 quilómetros abaixo da superfície, o manto rochoso da Terra encontra o núcleo externo metálico derretido. As mudanças nas propriedades físicas através desse limite são maiores do que aquelas entre a rocha sólida na superfície e o ar acima dela.
Compreender a composição do limite núcleo-manto em grande escala é difícil, mas uma equipa de investigadores da Universidade do Alabama, EUA, tentou a sua “sorte”, ao enterrar 15 estações de monitorização no gelo da Antártida, capazes de detetar ondas sísmicas à medida que estas viajam pelo solo.
Com um comportamento semelhante a uma ressonância médica, esta rede sísmica constituída pelas 15 estações permitiu perceber as estruturas e a composição do que está abaixo da superfície terrestre e criou uma nova imagem da Terra.
O projeto foi capaz de sondar uma grande parte do hemisfério sul em alta resolução pela primeira vez, usando um método detalhado que examina os ecos das ondas sonoras no limite do núcleo-manto. Os cientistas referem na pesquisa, publicada recentemente na Science Advances, terem identificado energia inesperada nos dados sísmicos que chegam alguns segundos após a onda refletida no limite.
A camada já tinha sido detetada anteriormente em trechos isolados, mas está no subsolo há muito tempo, quando as placas da Terra se deslocaram, formando uma zona de velocidade ultrabaixa (ULVZ). A área é mais densa que o resto do manto profundo, o que diminui a velocidade das ondas sísmicas que refletem sob a superfície, explicam os cientistas.
“Análises sísmicas como a nossa fornecem uma imagem de maior resolução da estrutura interior do planeta, e estamos a descobrir que essa estrutura é muito mais complicada do que se pensava”, diz Samantha Hansen, professora da Universidade do Alabama, nos Estados Unidos, e principal autora do estudo, citada em comunicado.
Os dados registados pelas estações de monitorização revelaram também que a estrutura ancestral em redor do núcleo da Terra não é homogénea - tem vales e montanhas -, pois a espessura varia de um lugar para outro. A espessura do material varia de alguns até dezenas de quilómetros.
Tais “montanhas” subterrâneas podem desempenhar um papel importante na forma como o calor escapa do núcleo da Terra, que alimenta o campo magnético do planeta. O material dos antigos oceanos também pode ser arrastado pelas plumas do manto, ou pontos quentes, que retornam à superfície através de erupções vulcânicas.
Investigações deste tipo são importantes para aprofundar o entendimento sobre o funcionamento do campo magnético - que é responsável por proteger a Terra da radiação solar emitida pelo Sol - e, correspondentemente, sobre o futuro do Planeta Azul.
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