Esta segunda-feira “atirou-se a primeira pedra” que formalizou o início da construção do Square Kilometer Array Observatory (SKAO), aquele que pretende ser o radiotelescópio mais avançado do mundo. Anunciado formalmente em abril, o SKAO será composto por 197 pratos e cerca de 130 mil antenas, sendo distribuído pela Austrália e África do Sul. O seu cérebro está a ser construído no Reino Unido. Na Austrália ficará o telescópio SKA-Low e na África do Sul será construído o Ska-Mid.

O dia 5 de dezembro fica marcado pelo início oficial da construção nos dois países, depois de uma maratona de 18 meses de negociações com empresas e instituições em torno do planeta, que deram origem a mais de 300 milhões de euros no total em contratos que cobrem a sua principal infraestrutura (200 milhões), assim como as antenas para os telescópios (100 milhões). Foram ainda fechados 40 contratos ao longo dos 18 meses relacionados com o observatório no valor de mais de 150 milhões de euros, somando um total de fundos de construção de quase 500 milhões de euros.

O maior contribuinte do projeto é o Governo do Reino Unido, suportando 15% do total dos custos de construção (17,4 milhões de euros) e as suas operações iniciais desde 2021 até 2030. Este orçamento servirá para suportar o envolvimento das universidades de Oxford, Cambridge e Manchester, assim como alguns laboratórios de investigação.

Veja na galeria imagens do local e conceptuais do SKAO:

Na primeira fase na África do Sul serão adicionados 133 pratos do SKA aos existentes 64 do telescópio percursor MeerKAT, para formar um instrumento de frequências médias. Na Austrália, está a ser construído o sistema de frequências baixas, composto por 131.072 antenas moldadas numa forma de árvore de Natal, permitindo aos dois telescópios cobrir uma grande área de frequências de rádio. Os telescópios terão de ser alimentados por infraestruturas de energia e de fibra ótica. Diversos países vão contribuir para o projeto, incluindo a Itália, Espanha, África do Sul, Reino Unido, China e outros.

A construção dos telescópios inclui ainda oportunidades de emprego, assim como treino e transferência de talento. Na Austrália vão abrir cerca de 100 novos cargos, e na África do Sul o principal construtor da infraestrutura é obrigado a empregar e treinar mão-de-obra local. Os projetos obrigaram a inspecionar cerca de 400 quilómetros de área, sobretudo para minimizar tanto o impacto no meio-ambiente, como da cultura indígena das regiões afetadas.

Square Kilometer Array Observatory (SKAO)
Square Kilometer Array Observatory (SKAO)

O SKAO já tem um cronograma inicial planeado. Depois das infraestruturas serem colocadas e os principais componentes do telescópio estarem no lugar, segue-se o próximo objetivo que é garantir os primeiros quatro pratos do SKA-Mid e seis estações no SKA-Low, com 256 antenas cada um, de forma a trabalharem juntos como um telescópio. As duas estações de antenas devem estar completas em maio de 2023, enquanto o que o primeiro prato será instalado em abril de 2024, seguindo-se a adição de três ou quatro pratos por mês. Espera-se que a construção esteja praticamente terminada em 2028.

À procura de respostas para a origem do universo

E a equipa espera ter os primeiros resultados científicos de relevo mesmo antes da construção dos telescópios terem sido completados, no final desta década. Isso deve-se ao design do projeto que vai permitir a múltiplos telescópios serem combinados para atuarem como um telescópio gigante. A gestão destes equipamentos será feita na sede da SKAO em Jodrell Bank, perto de Manchester no Reino Unido.

Os telescópios SKA têm uma esperança de vida de 50 anos e serão usados para responder a questões cruciais sobre as primeiras épocas do universo, esperando-se dessa forma descobrir alguns dos mistérios mais profundos da astrofísica. “Os telescópios SKA vão realmente revolucionar a nossa compreensão do universo”, salienta a Dra. Catherine Cesarsky, líder do projeto, acrescentando que vai permitir o estudo da evolução do universo e compreender com um detalhe sem precedentes.

Os equipamentos vão ajudar a investigar as energias negras, assim como o seu potencial efeito na expansão cósmica. A sua sensibilidade poderá ser utilizada para procurar vida extraterrestre. Numa entrevista ao The Guardian, a diretora Dra. Sarah Pierce refere que os telescópios poderiam captar um radar de aeroporto num planeta a dezenas de anos de luz de distância.

O cérebro do sistema é composto por software e hardware superpoderosos, desenhado para trabalhar em rede e controlar aquele que será o maior telescópio de rádio que foi construído. É considerado um dos maiores projetos científicos do século XXI, que se irá juntar a uma série de outros telescópios de próxima geração a serem concluídos durante esta década, incluindo o telescópio espacial James Webb e o E-ELT (European Extremely Large Telescope).

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O SKAO vai gerar cerca de 600 petabytes (600 milhões de gigabytes) de dados por ano, a serem distribuídos pelos astrónomos em todo o mundo. “Será um problema de escala, um problema de processamento e um problema de transferência de dados”, salientou o Dr. Chris Pearson, o líder do projeto anteriormente.

Foi explicado que o software que está a ser produzido vai ajudar a orientar o telescópio, dizendo-lhe para onde olhar no céu, fazer diagnósticos de problemas e traduzir os sinais captados em dados utilizáveis para investigação. Se o sistema fosse composto por um prato ou antena, o trabalho seria linear, mas o objetivo é trabalhar de forma sincronizada com milhares de componentes do observatório.