Temperaturas extremas e inundações marcam ano mais quente na Europa e somam centenas de vítimas

Fátima Caçador

15 abr 2025 11:15

A Europa é o continente que está a aquecer de forma mais rápida, com impactos extremos das alterações climáticas, mostra o relatório anual do programa europeu Copernicus.

Tempestades, inundações, calor e frio extremos, e um contraste acentuado entre as condições meteorológicas nos extremos leste e oeste da Europa fazem parte de um retrato do ano de 2024 analisado por cientistas europeus e agora divulgado no relatório European State of the Climate 2024 (ESOTC 2024).

Este foi o ano mais quente alguma vez registado, com pelo menos 335 vítimas das temperaturas elevadas que afetaram cerca de 413 mil pessoas, segundo o relatório do serviço Copernicus da União Europeia sobre o estado do clima, que conta com a colaboração das Nações Unidas.

"Durante o ano, verificou-se um contraste acentuado entre as condições meteorológicas entre leste e oeste, com condições extremamente secas e, muitas vezes, recordes de calor no leste, e condições quentes, mas húmidas, no oeste", refere o relatório.

Os cientistas confirmam a tendência da subida das temperaturas e da mudança climática em toda a Europa, com recordes de calor na Europa que deram lugar a inundações vastas e violentas. A disparidade entre a zonas e calor extremo e zonas mais húmidas a oeste, e a subida da temperatura do mar em cerca de 0,7 graus acima da média são também elementos destacados no relatório.

Dados do Observatório Europeu Copernicus já tinham indicado que o mês de março foi o mais quente na Europa alguma vez registado, com recordes para chuvas extremas em Portugal e Espanha.

"Cada fracção adicional de grau de aumento da temperatura é importante porque acentua os riscos para as nossas vidas, para as economias e para o planeta", refere a Secretária-Geral da WMO, Celeste Saulo.

Foram calculados em 18,2 mil milhões de euros os prejuízos causados o ano passado na Europa por fenómenos meteorológicos extremos (13,4 mil milhões em 2023), 85% dos quais atribuídos a inundações.

Veja as imagens do estudo

O relatório que hoje foi divulgado consolida os dados de 2024 e reúne informação do sistema Copernicus e da Organização Meteorológica Mundial (WMO na sigla em inglês), assim como contributos de mais de 100 cientistas e é um alerta para a necessidade de tomar medidas mais rigorosas para prevenir as alterações.

"O relatório de 2024 revela que quase um terço da rede fluvial ultrapassou o limite máximo de cheias e o stress térmico continua a aumentar na Europa, realçando a importância de desenvolver uma maior resiliência", sublinha Florence Rabier, Directora-General da European Centre for Medium-Range Weather Forecasts (ECMWF). "Com 51% das cidades europeias a disporem agora de um plano específico de adaptação climática, isto sublinha o valor da nossa informação, que se baseia na excelência científica, para melhor apoiar a tomada de decisões em torno da adaptação climática".

A União Europeia tem vindo a desenvolver um plano de mitigação dos riscos climáticos com objetivos até 2050 e metas para reduzir as emissões de gases até 2030. Está a ser preparado um novo plano para o clima que deve ser apresentado em 2026.

Aumento de temperatura no mar, inundações extremas e perda de gelo nos glaciares

O relatório é muito claro em relação ao vários eventos climáticos extremos identificados em 2024 na Europa, uma lista onde entram os incêndios que queimaram mais de 1.100 km2 em setembro em Portugal.

As inundações em vários países, com incidência para o caso de Valência em Espanha, estão também em dstaque, com ientificação do maior número de regiões em risco.

Segundo os dados, a precipitação na Europa ocidental está entre as mais elevadas desde 1950 enquanto o gelo nos glaciares está a diminuir, em especial na Escandinávia e em Svalbard.

O número de dias com "calor extremo" aumentaram 60% e o sudeste da Europa sofreu a onda de calor mais longa de que há registo em julho de 2024, com uma duração de 13 dias consecutivos que afetou 55% da região.

Com o alerta para a necessidade de agir de forma rápida, o relatório destaca também algumas iniciativas europeias para resiliência climática e adaptação, embora não inclua nenhuma em Portugal.